Deflação em agosto: alívio no bolso ou efeito temporário?
Queda de 0,11% no IPCA foi influenciada por energia elétrica e alimentos; inflação acumulada em 12 meses supera teto da meta
Economia|Clarissa Lemgruber, do R7, em Brasília
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O Brasil registrou em agosto a primeira deflação em um ano. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), a inflação oficial do país, recuou 0,11% no mês, depois da última queda em agosto de 2024, quando havia encolhido 0,02%. Embora a redução nos preços sugira um alívio para o consumidor, economistas afirmam que o resultado deve ser lido com cautela.
Para Hugo Garbe, doutor em economia e professor da Universidade Mackenzie, a deflação de agosto não significa uma mudança de tendência, mas um “fenômeno pontual”.
“O impacto maior foi a redução temporária na conta de luz. Ainda assim, o movimento oferece um certo alívio imediato ao bolso do consumidor e pode ajudar a ancorar expectativas de inflação mais baixa”, explica.
Ele afirma que a queda de agosto não se deveu a um arrefecimento generalizado da inflação, mas a fatores específicos e temporários. “O principal deles foi o desconto extraordinário aplicado nas tarifas de energia elétrica, impulsionado pela maior geração em usinas hidrelétricas”, avalia.
Segundo o especialista, também contribuíram para a retração os preços de alguns alimentos e produtos industriais, favorecidos pela valorização do real nos últimos meses. Ainda assim, Garbe destaca que o quadro geral não é de alívio.
“Apesar desse alívio, a inflação acumulada em 12 meses permanece em 5,13%, ainda acima da meta oficial, que admite até 4,5% de tolerância. Mais preocupante é o comportamento dos serviços, cujos preços seguem crescendo em torno de 6% ao ano, reflexo de um mercado de trabalho aquecido e de uma demanda doméstica que resiste à desaceleração”, explica.
Garbe afirma que a expectativa de cortes na taxa básica de juros — atualmente em 15% ao ano —, antes cogitada para este ano, foi adiada.
“Embora alguns agentes do mercado esperassem cortes já no segundo semestre, a expectativa agora é de que os ajustes ocorram apenas em 2026.”
Queda pontual
O professor Benito Salomão, do Instituto de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia, destaca que a deflação é pontual, mas o movimento mais importante é o da trajetória da inflação em direção à meta.
“O que não é pontual é a convergência da inflação acumulada para a meta. Essa é a boa notícia. Nós estamos verificando um processo de convergência da inflação para a meta que já vem de alguns meses e muito provavelmente nós podemos ter IPCA dentro do limite superior da meta já em dezembro desse ano ou talvez janeiro do ano que vem”, prevê.
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Segundo Salomão, esse processo abre espaço para mudanças na política monetária. “Isso sinaliza algumas coisas para nós em termos de política monetária. Uma queda possível da taxa de juros a partir do ano que vem, uma queda eventual da taxa de juros e algum alívio do ponto de vista da contração monetária que nós estamos vivendo hoje”, afirma.
O professor também chama atenção para a diferença entre desaceleração da inflação e redução efetiva de preços. “É sempre bom a gente destacar que a queda da taxa da inflação é diferente de queda da inflação em nível”, explica.
“Se você tem um determinado item, um alimento que custa R$ 10, e ele vai para R$ 20 de um mês para o outro, a taxa de inflação foi 100%. Se no próximo mês ele continua em R$ 20, a taxa de inflação foi 0%, mas o nível de preço já estava elevado.”
Para Salomão, esse efeito faz com que a percepção de melhora seja mais lenta no cotidiano das famílias. “Às vezes, essa redução da taxa da inflação pode não significar um alívio imediato no bolso do consumidor, porque a inflação de nível continua muito alta”, constata.
Perguntas e Respostas
Qual foi a deflação registrada no Brasil em agosto?
O Brasil registrou uma deflação de 0,11% em agosto, conforme o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), a primeira deflação em um ano.
O que causou essa deflação?
A deflação foi influenciada principalmente pela redução temporária nas tarifas de energia elétrica, além da queda nos preços de alguns alimentos e produtos industriais, favorecidos pela valorização do real.
Qual é a opinião dos economistas sobre essa deflação?
Economistas, como Hugo Garbe, afirmam que a deflação deve ser vista com cautela, considerando-a um “fenômeno pontual” e não uma mudança de tendência. Ele destaca que a inflação acumulada em 12 meses ainda está em 5,13%, acima da meta oficial de 4,5%.
Como a deflação impacta as expectativas de inflação?
Garbe menciona que, apesar do alívio imediato, a expectativa de cortes na taxa básica de juros, atualmente em 15%, foi adiada, com ajustes previstos apenas para 2026.
O que diz o professor Benito Salomão sobre a trajetória da inflação?
Benito Salomão destaca que, embora a deflação seja pontual, há uma convergência da inflação acumulada em direção à meta, o que é considerado uma boa notícia. Ele acredita que o IPCA pode estar dentro do limite superior da meta já em dezembro ou janeiro do próximo ano.
Qual é a diferença entre desaceleração da inflação e redução efetiva de preços?
Salomão explica que a desaceleração da inflação não significa necessariamente uma redução nos preços. Um item pode ter uma inflação alta em um mês e, se o preço se mantiver no mês seguinte, a taxa de inflação será zero, mas o preço continua elevado.
Como essa situação afeta a percepção das famílias?
Salomão observa que a percepção de melhora pode ser lenta para as famílias, pois a inflação de nível continua alta, o que pode não resultar em um alívio imediato no bolso do consumidor.
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