Dólar amplia queda com bom humor por primeiro turno e abre a terça-feira cotado a R$ 5,15
Recuo de 0,57% da moeda norte-americana repete otimismo pela formação de um Senado conservador e vê melhores perspectivas sobre a agenda econômica do próximo governo
Economia|Do R7
O dólar estendia suas perdas frente ao real nos primeiros negócios desta terça-feira (4), depois de na véspera ter despencado ao ritmo mais rápido em mais de quatro anos, com investidores ainda repercutindo o resultado mais apertado do que o esperado do primeiro turno das eleições presidenciais. Colaborava para a depreciação da divisa norte-americana no mercado local a queda do dólar no exterior, em mais um dia de recuperação do apetite global por risco.
Às 10h22 (de Brasília), a moeda norte-americana à vista recuava 0,57%, a R$ 5,1477 na venda, estendendo suas perdas depois de na véspera despencar 4,02%, a R$ 5,177, sua maior queda percentual diária desde meados de 2018. Na mínima da sessão, a moeda dos Estados Unidos caiu 1,31%, a R$ 5,109, nível que não era visto desde o último dia 22.
"Estamos vendo hoje, lá fora, um persistente apetite por risco — em sequência ao movimento de ontem. Acredito então que o real e nossos demais ativos estão se beneficiando deste movimento externo", disse à Reuters Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
Um índice que mede o desempenho do dólar contra uma cesta de moedas fortes caía 0,62% nesta manhã, afastando-se de máximas em duas décadas atingidas recentemente. Ao mesmo tempo, as principais bolsas europeias e os índices de Wall Street tinham forte alta.
Enquanto isso, investidores continuavam reagindo positivamente ao resultado das eleições de domingo. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi o mais votado no primeiro turno, mas o candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) teve um desempenho melhor do que o esperado, o que foi recebido pelos mercados como um sinal de que Lula pode precisar moderar seu discurso e buscar alianças mais ao centro.
"Mais do que o resultado da eleição presidencial de primeiro turno, foi a composição do Congresso que trouxe um viés positivo para nosso cenário", avaliou Bergallo. Mais da metade das 27 vagas em jogo no Senado foram levadas por candidatos declaradamente bolsonaristas, enquanto aliados do atual presidente também garantiram vitória já no primeiro turno para os governos de Rio de Janeiro, Paraná e Distrito Federal.
Os mercados interpretaram esse resultado com sinal de que, mesmo que Lula chegue ao Planalto, enfrentará muita resistência no Legislativo à agenda econômica e fiscal prometida durante sua campanha. O petista já disse diversas vezes que, se eleito, abandonaria a regra do teto de gastos, instrumento considerado uma âncora para as contas públicas.
Com ajuda do tombo da véspera, o dólar ampliava suas perdas até agora em 2022 para 7,7%. Até sexta-feira passada, a moeda acumulava baixa de apenas 3,2%. O real tem sido destacado por vários especialistas como uma das moedas mais resilientes do mundo diante de um cenário internacional adverso, com os mercados temendo uma recessão conforme os principais bancos centrais do mundo aumentam suas taxas de juros para controlar a inflação.
"A história não contada de 2022 é o 'Brasil ressurgente'", disse em publicação no Twitter Robin Brooks, economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês). "Mudamos para um equilíbrio de preços de commodities mais altos... Isso é um grande impulso para o Brasil."
Outro fator apontado como um colchão para a moeda local é o nível elevado da taxa Selic, que o Banco Central manteve em 13,75% em sua última reunião de política monetária. Juros altos tornam o real atraente para investidores que buscam lucrar com a tomada de empréstimo em divisa de país de juro baixo e aplicação desse dinheiro em praças mais rentáveis.