Dólar sobe, e Ibovespa cai, com temor de nova pressão de Lula sobre a meta de inflação
A moeda americana à vista avançou 0,43%, a R$ 5,1996 na venda, depois de, mais cedo, ter caído até 0,93%, para R$ 5,1288
Economia|Do R7
O dólar reverteu as perdas que teve mais cedo e fechou esta terça-feira (14) em alta frente ao real, com investidores voltando a temer pressões do governo de Luiz Inácio Lula da Silva por alterações na meta de inflação do país e redução no nível dos juros.
A moeda americana à vista avançou 0,43%, indo a R$ 5,1996 na venda, depois de, mais cedo, ter caído até 0,93%, para R$ 5,1288.
O Ibovespa fechou em queda nesta terça-feira, em meio a um desconforto persistente com o risco de aumento das metas de inflação no país, enquanto o Banco do Brasil destoou e avançou na esteira do resultado robusto no quarto trimestre e das previsões positivas.
Os investidores ainda repercutiram dados de inflação nos Estados Unidos, que não endossaram as apostas de aumentos mais agressivos nos juros americanos, tampouco colaboraram com as apostas de um ciclo menos restritivo, uma vez que mostraram os preços ao consumidor ainda em patamar elevado.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 0,82%, para 107.948,66 pontos, de acordo com dados preliminares. O volume financeiro somava R$ 21,28 bilhões.
Mercado doméstico
Hélder Wakabayashi, analista da Toro Investimentos, disse que a piora no mercado doméstico nesta tarde refletiu a notícia de que Lula teria avisado à equipe econômica que quer um aumento de 1 ponto percentual na meta de inflação de 2023, atualmente em 3,25%, e a redução da Selic para um patamar próximo de 12% até o fim do ano.
A notícia foi publicada depois de, mais cedo, investidores terem reagido positivamente às falas do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que se posicionou em uma entrevista na noite de segunda-feira (13) e em um evento nesta manhã contra uma eventual flexibilização dos objetivos de inflação do Brasil.
"Ontem tivemos um apaziguamento [com Campos Neto], e hoje Lula solta essa frase. Tensionou os ânimos; se um lado jogou panos quentes, falando que não vamos fazer mudanças de teor político, hoje temos isso, estressa", disse Wakabayashi.
Os ativos brasileiros têm sido abalados pela tensão institucional entre o governo e o BC nos últimos dias, após críticas intensas de Lula e aliados à atuação da autoridade monetária e ao nível dos juros no país. Depois dos comentários do petista, Campos Neto fez-lhe um aceno nesta terça-feira, ao afirmar que é justo o Executivo questionar o patamar elevado dos juros e que é trabalho do Banco Central esclarecer e melhorar a comunicação em meio a esse debate.
Agora, o mercado fica à espera da primeira reunião no novo governo do CNM (Conselho Monetário Nacional), na quinta-feira (16). Alguns participantes do mercado ainda se mostram desconfortáveis com a possibilidade de que sejam discutidas mudanças para elevar as metas de inflação, mesmo que elas não sejam implementadas já nesta semana.
Questionado se haverá debate sobre os objetivos de inflação na reunião do CMN, Campos Neto disse nesta terça-feira que será preciso aguardar para ter essa resposta e ressaltou que a prerrogativa de pautar e definir o tema é do governo.
Enquanto isso, no exterior, dados desta terça-feira mostraram que os preços ao consumidor nos Estados Unidos aceleraram em janeiro na comparação com o mês anterior, embora o aumento anual tenha sido o menor desde o fim de 2021.
O índice do dólar contra uma cesta de moedas fortes avançava na esteira dos dados, depois de ter trocado de sinal várias vezes ao longo da tarde. Sinal de aversão a risco no mercado internacional, os principais índices de Wall Street operavam em baixa neste pregão.
Pedro Paulo Silveira, diretor de gestão de recursos da Nova Futura Gestora, comentou que a inflação ainda pressionada nos EUA "coloca para os investidores a possibilidade bastante razoável de nós termos mais duas altas [de juros] nas próximas reuniões do Fed", o que "de fato muda um pouco a perspectiva que nós tínhamos até a semana passada" e ajuda a explicar a piora nos mercados, tanto internacionais quando domésticos.
Quanto mais altos os juros na maior economia do mundo, mais o dólar tende a se beneficiar globalmente, conforme investidores redirecionam dinheiro para o extremamente seguro mercado americano de renda fixa.