Dólar sobe e Ibovespa cai após fala de Haddad sobre meta fiscal
A moeda americana foi cotada a R$ 5,0480 na venda, em alta de 0,69%; já a bolsa caiu 0,68%, a 112.531,52 pontos
Economia|Do R7
O dólar se descolou do exterior nesta segunda-feira (30) e fechou em alta ante o real no Brasil, depois que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçou as dúvidas do mercado sobre a capacidade de o governo atingir um resultado primário zero em 2024 — algo que já havia impulsionado a moeda americana na sexta-feira (27), após as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O dólar à vista fechou o dia cotado a R$ 5,0480 na venda, em alta de 0,69%. Em outubro, a moeda americana acumula até agora elevação de 0,41%.
Já o Ibovespa fechou em queda nesta segunda-feira, em meio a preocupações com o cenário fiscal brasileiro e a queda das ações da Petrobras, que ofuscaram o efeito potencialmente positivo do avanço dos pregões em Wall Street, bem como a alta dos papéis da Vale.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 0,68%, indo a 112.531,52 pontos. O volume financeiro somou R$ 18,4 bilhões.
A bolsa paulista até abriu com viés positivo, e o Ibovespa chegou a superar 114 mil pontos em meio a ajustes após a última sexta-feira ter terminado no vermelho com o desconforto provocado por declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que a meta fiscal zero de 2024 dificilmente será alcançada.
Mas a direção mudou conforme o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista coletiva, amenizou as afirmações de Lula, dizendo que o presidente não está "sabotando o país", mas constatando problemas que precisam ser "reformados e saneados".
Haddad, no entanto, não quis responder se o governo está comprometido com a meta de déficit primário zero em 2024 e afirmou que a arrecadação federal não está acompanhando o crescimento acima do esperado do PIB. Mesmo com ele insistindo que a Fazenda continua a buscar o equilíbrio fiscal, o clima azedou.
Na mínima, o Ibovespa chegou a 112.308,5 pontos, sem conseguir retomar o sinal positivo, apesar do desempenho robusto dos pregões em Wall Street, nos quais o S&P 500 fechou em alta de 1,2%.
O entendimento entre agentes financeiros é que, além de uma falta de um comprometimento maior com o déficit zero em 2024, via contingenciamento de gastos, o equilíbrio nas contas se dará por meio do aumento da carga tributária, com o fim de alguns programas de incentivo fiscal.
Nesta terça-feira (31), o tema tende a continuar a ser discutido nas mesas de operações, mas o foco também deve se voltar para decisões de política monetária na quarta-feira (1º), particularmente a do Federal Reserve (Fed), que será conhecida com o mercado ainda aberto. O Banco Central do Brasil vai anunciar o desfecho de sua reunião após o fechamento.
Para o BC americano, a aposta majoritária é de manutenção da taxa de juros na faixa de 5,25% a 5,50% ao ano, mas investidores querem saber sobre os próximos passos do Fed, dado o cenário de economia ainda resiliente dos Estados Unidos e inflação, mesmo que com sinais de acomodação, elevada.
Quanto ao Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, prevalece a expectativa de que a taxa Selic será reduzida novamente em 0,5 ponto percentual, para 12,25% ao ano.
Do ponto de vista da análise técnica do Ibovespa, após a queda de sexta-feira, "o movimento de repique [do Ibovespa] pode ter chegado ao seu fim, e voltamos com a expectativa de buscar o suporte em 111.600 pontos", afirmaram analistas do Itaú BBA no relatório "Diário do grafista", nesta segunda-feira.
Eles acrescentaram que, se o Ibovespa perder esse nível, pode ganhar um novo impulso dentro da tendência de pontos. "Do lado da alta, o índice encontrará resistências entre 115.400 e 117.100 pontos, patamar que mantém o índice em tendência de baixa no curto prazo."
Movimento do dólar
Na sexta-feira, o dólar à vista já havia avançado 0,44% depois que Lula afirmou que a meta de resultado primário zero em 2024 “dificilmente” será alcançada e que o governo não quer cortar investimentos em obras.
Nesta segunda-feira, Haddad tentou minimizar a declaração e afirmou que o comentário de Lula não mostra descompromisso com a área fiscal.
“Quando falam 'o presidente está sabotando o país', não [é isso]. O que está acontecendo é que o presidente está constatando os problemas advindos de decisões que precisam ser reformadas ou saneadas”, disse Haddad.
As explicações do ministro não convenceram, até porque ele não respondeu às repetidas perguntas sobre a manutenção da meta de déficit zero para 2024.
“[O ministro] não contestou Lula sobre o fiscal, e o mercado não gostou”, resumiu o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik. “O mercado já sabia que o primário zero em 2024 não será alcançado, mas sempre quer escutar as autoridades maiores. Depois de Haddad falar, quem ainda não estava posicionado para isso [o descumprimento da meta] foi ao mercado e atuou na compra [de dólares]”, acrescentou.
Nesse cenário, o dólar à vista, que chegou a marcar a mínima de R$ 4,9722 (-0,82%) às 9h16, antes da fala de Haddad, saltou para a máxima de R$ 5,0603 (+0,94%) às 13h56, já sob o efeito dos comentários do ministro.
“O dólar precisava de um motivo para andar no Brasil, e andou após o Haddad”, comentou o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, ressaltando ainda que, no exterior, o dia foi marcado pela queda da moeda americana ante a maioria das demais divisas. “Ficamos na contramão.”
Às 17h16 (horário de Brasília), o índice do dólar, que mede o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de seis divisas, caía 0,45%, indo a 106,120.
Pela manhã, o BC vendeu todos os 16 mil contratos de swap cambial tradicional ofertados na rolagem dos vencimentos de janeiro.
Em entrevista coletiva, Haddad também anunciou mais cedo dois novos nomes para o Banco Central a partir de 2024, indicados por Lula: o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Paulo Picchetti, para a Diretoria de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos; e o servidor de carreira da autarquia Rodrigo Alves Teixeira, para a Diretoria de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta.
Dois profissionais do mercado ouvidos pela Reuters receberam de forma positiva a indicação dos novos diretores. Teixeira seria um nome com pouco potencial de críticas, já que a Diretoria de Relacionamento é tradicionalmente ocupada por servidores de carreira do BC. Já Picchetti foi elogiado por ter conhecimento técnico profundo sobre a inflação no Brasil.