Eleições ameaçam desempenho da Bolsa brasileira no 2º semestre
Disparada de 11,1% do Ibovespa nos dois primeiros meses do segundo semestre deve ser limitada neste mês de setembro
Economia|Alexandre Garcia, do R7
O Ibovespa abriu o segundo semestre no azul, com ganho acumulado de 11,1% somente nos meses de julho e agosto. O desempenho positivo do principal índice acionário do Brasil, no entanto, pode estar com os dias contados devido às incertezas com a corrida eleitoral e os próximos movimentos dos bancos centrais mundiais.
Depois de fechar junho aos 98.541,95 pontos, o Ibovespa avançou 4,7% em julho e atingiu os 103.164,69 pontos. Em agosto, o movimento positivo foi repetido e o índice fechou o mês aos 109.522,88 pontos, alta de 6,2%, após alcançar 113.812,87 pontos no dia 18.
Antônio Sanches, analista da Rico Investimentos, avalia que a corrida presidencial deve ganhar força neste mês e entrar no radar dos investidores. “Com a inflação entre as principais preocupações dos eleitores, discursos e medidas para estímulos à economia podem voltar a impactar o mercado brasileiro às vésperas da eleição”, afirma ele.
Para Fábio Baroni, sócio do AGF (Ações Garantem Futuro), os movimentos de alta do Ibovespa na abertura do semestre podem indicar uma precificação no resultado das eleições, mas alerta que a imprevisibilidade é a "palavra-chave que pode ligar as urnas ao mercado financeiro".
"O cenário eleitoral pode afetar o desempenho positivo de diversas maneiras, seja por algumas falas advindas dos principais candidatos à conquista da Presidência, seja até mesmo por algumas variáveis incontroláveis como revelação de escândalos ou mudança abrupta de posturas em relação ao mercado", afirma Baroni.
A percepção é a mesma observada por Régis Chinchila e Luis Novaes, da Terra Investimentos. “É de se esperar que a volatilidade surja à frente, com o auge da campanha eleitoral e a continuidade dos debates em televisão aberta, onde as falas dos candidatos têm um peso maior”, preveem os analistas.
Ao comentar o movimento de agosto, Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora, afirma que a queda no preço das commodities (matérias-primas com cotação em dólar) não refletiu diretamente nas ações da Petrobras e da Vale, que “ajudaram a segurar o Ibovespa levemente descolado do exterior”.
“O mercado financeiro continua atento aos sinais de inflação e atividade econômica, ponderando a tomada de risco em busca de oportunidades que possam ter ficado para trás”, completa De Checchi.
Cenário global
Outro fator citado pelos analistas do mercado financeiro como determinante para os próximos passos da Bolsa brasileira envolve as decisões de política monetária em meio a sinalizações de que os bancos centrais de todo o mundo devem manter a trajetória de alta dos juros para conter a inflação.
“Tendo em conta que o fluxo estrangeiro é muito relevante para o mercado brasileiro, a Bolsa será impactada, como é possível notar pelos últimos dias”, observam Régis Chinchila e Luis Novaes, da equipe de analistas da Terra Investimentos.
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O presidente do Federal Reserve, banco central norte-americano, Jerome Powell, afirmou no fim do mês de agosto que os Estados Unidos precisarão de uma política monetária apertada "por algum tempo" antes que a inflação fique sob controle. Ele reconhece que a decisão tem potencial para sacrificar o crescimento da economia.
Nos Estados Unidos, os juros já subiram quatro vezes e estão em um intervalo entre 2,25% e 2,5%. O mesmo movimento de elevação das taxas é visto na Europa e tem potencial de atrair investidores na busca por um ambiente mais seguro.