Empreendedoras de sucesso contam como planejamento foi essencial
Donas de negócios que deram certo ouvidas pelo R7 relatam os principais desafios de sair do mercado formal e partir para o próprio empreendimento
Economia|Giuliana Saringer, do R7
Planejar bem um negócio, com atenção a valores, ao produto e às necessidades do cliente, entre outros itens, é a melhor receita para que a empresa dê certo, avaliam especialistas.
A experiência da empreendedora Marina Amaral confirma isso. Ela deixou um cargo de liderança em uma multinacional para investir no negócio próprio: um centro integrado de saúde e bem-estar, chamado Auraclara, em São Paulo. Para Marina, o primeiro ano do empreendimento foi traumático. “É como se você estivesse no meio de uma batalha, não sabe de onde o tiro vem.”
Durante a estruturação do projeto, Marina precisava atrair clientes, criar um fundo de caixa, contratar pessoas e diversas outras atividades. “De um ano para frente, você começa a colocar mais energia no que deu mais certo e a entender melhor que decisões tomar.”
No começo, Marina contava com dez clientes e uma faxineira. “A gente não tinha escritório. Eu comecei na raça”, lembra. Marina investiu em um processo de coaching enquanto trabalhava na multinacional e em outro quando resolveu empreender. Para ela, a busca por conhecimento e pelo autoconhecimento foi essencial para criar seu modelo de negócio, fundado em 2014.
Já Aparecida Amâncio deixou o cargo de funcionária em um restaurante para abrir o bistrô Avenida Café no bairro da Mooca, zona leste de São Paulo. Funcionando há um ano e sete meses, Aparecida diz que a crise econômica foi a maior dificuldade que encontrou, mas já previa isso desde o planejamento da empresa.
“Quando eu abri, estava preparada para viver isso. A crise acabou cortando o lazer das pessoas”, comenta. “Eu acho que você precisa se autoconhecer para identificar o que você vai fazer e o quanto esse negócio vai te inspirar no dia a dia, especialmente quando as coisas ficarem difíceis”, afirma.
Antes de abrir as portas do bistrô, a empresária focou em aprender mais sobre o setor e buscar sempre novos conhecimentos.
Para Aparecida, o importante foi não agir por impulso e planejar bem os detalhes do negócio. Hoje, investe em mudanças constantes para sempre aprimorar a qualidade dos pratos e serviços dos profissionais do bistrô.
Como abrir um negócio de sucesso
O planejamento detalhado do empreendimento foi o diferencial para os negócios de Marina e Aparecida darem certo. O consultor do Sebrae-SP Kleber Ricardo Guerche afirma que o primeiro passo para um negócio de sucesso é montar o planejamento detalhado. “Vai orientar a pessoa a tirar a ideia da cabeça e a estruturá-la de forma bem coerente, colocar todos os passos do negócio”, explica.
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Guerche diz que o plano deve contar todas as informações importantes sobre o negócio, desde qual o serviço ou produto, número de funcionários e valores para avaliar a viabilidade do negócio. O foco é que o planejamento seja feito “sem pressa”, para evitar maiores problemas no futuro.
O professor do MBA em Gestão Empreendedora da UFF (Universidade Federal Fluminense) Breno Paquelet orienta que o empreendedor precisa partir de um problema do consumidor, que pretende resolver, e não apenas de uma “ideia que elas acham genial” para ter mais chances de o negócio vingar.
“Você vai criando seu negócio em cima da necessidade do cliente”, explica. Segundo Paquelet, a partir deste ponto se torna mais fácil montar o negócio, definindo a equipe — que pode começar com apenas uma pessoa, além do espaço de trabalho.
Para Paquelet, a estrutura só deve ser melhorada quando o empreendedor perceber que a empresa está demandando mais.
Começar com uma estrutura muito maior do que o necessário pode comprometer todo o funcionamento do negócio. “Quando ele vai analisar a estrutura de custos dele, está pesada, e [o empreendedor] terá que cobrar um preço alto no produto e serviço. Aí acaba ficando fora de mercado”, diz.
Definida a estrutura física, é preciso ter pessoas que acreditem na causa do negócio. “Provavelmente vão estar mais aptas a passar pelos momentos mais difíceis”, afirma. Paquelet orienta que o empreendedor entenda bem o público alvo antes de lançar o produto ou serviço, conversando com pelo menos 30 pessoas — vale realizar rodadas de entrevistas e até conversar com os amigos.
“As pessoas também têm tendência de avaliar o mercado e fica a impressão de que a solução deles é a melhor. Você não precisa deixar de abrir o negócio porque tem concorrentes, mas tem que conseguir resolver o problema de uma forma que ninguém resolve”, complementa.
O consultor do Sebrae-SP diz que hoje os brasileiros investem em um novo negócio por necessidade e não por oportunidade e, por isso, pulam a etapa do planejamento. “[A pessoa] investe todo o pouco dinheiro que tem em um negócio que não tem as etapas todas pensadas. As coisas vão acontecendo, e ela perde o controle”, afirma.