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Existe um verdadeiro 'Vale do Silício' brasileiro?

Especialistas apontam polos tecnológicos, mas destacam a necessidade de uma cultura de inovação em todos os setores produtivos

Economia|Karla Dunder, do R7

O Brasil tem diferentes 'vales', cada um com sua complexidade
O Brasil tem diferentes 'vales', cada um com sua complexidade O Brasil tem diferentes 'vales', cada um com sua complexidade

O Vale do Silício é a região da Califórnia, nos Estados Unidos, conhecida por ser um dos maiores e mais importantes polos de tecnologia e inovação do mundo. Ali nasceram empresas como Apple, Facebook, Yahoo! só para citar alguns exemplos. Uma das principais características é reunir, em um só local, empresas altamente tecnológicas. E no Brasil? Existe algo parecido?

A pergunta é uma provocação. Para Francisco Jardim, da SP Ventures, o assunto é polêmico, não basta ter uma série de startups reunidas, é preciso que haja todo um ambiente favorável para que cresçam. Jardim também lembra que o Brasil conquistou seu primeiro unicórnio (empresa de tecnologia que supere US$ 1 bilhão) este ano com a 99 Táxi. “Não creio que o Vale do Silício seja um local, mas sim um mindset, uma prática cultural que está presente ali e também em Israel, outro grande polo tecnológico.”

“O Brasil está muito distante da realidade americana, para se ter um Vale do Silício é preciso ter um conjunto de elementos que vai além da tecnologia”, avalia Rafael Ribeiro da Associação Brasileira de Startups. “É preciso uma boa interação com as universidades e investidores.” Nos Estados Unidos, a Universidade de Stanford cumpre um papel importante na formação de profissionais.

Para Guilherme Fowler, professor da Cátedra Endeavor Insper, a conjunção histórica favoreceu a região americana. O Vale do Silício começou a se formar na década de 1950, recebeu investimentos pesados e desenvolveu uma cultura própria. E esse é justamente o seu diferencial.

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“A região viveu um círculo virtuoso, atraiu empreendedores com boas ideias, que tinham o suporte financeiro e uma conexão com as universidades”, diz Fowler. “Creio que o ponto forte seja a cultura de inovação e a informalidade que permeia as relações entre os profissionais e a troca de informações entre eles.”

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Fowler entende que o Vale do Silício se desenvolveu de maneira orgânica. A inovação atingiu diferentes setores da cadeia produtiva. No Brasil, os polos são mais direcionados e as universidades não são tão conectadas à iniciativa privada como nos Estados Unidos. Mas, mesmo assim, é possível destacar alguns polos de excelência no Brasil.

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Brasil S.A

Para Jardim, da SP Ventures, o agronegócio brasileiro é o que mais se aproxima dessa cultura do Vale do Silício, uma vez que une alta tecnologia, pesquisa e inovação. “O interior de São Paulo é muito forte nesse setor. Drones, satélites, genética aplicada à agricultura e pecuária, grandes empresas e Universidades como a Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) em Piracicaba e Ribeirão Preto da USP (Universidade de São Paulo) e a Unesp em Botucatu que formam capital humano muito qualificado estão ali”, diz.

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Nessa mesma linha, a região de São José dos Campos, que estabelece uma ponte com o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), também merece destaque.

“Temos polos tecnológicos espalhados pelo país e bons ambientes para desenvolver startups como acontece em Belo Horizonte e Santa Catarina”, diz Ribeiro da ABS.

Conhecido com San Pedro Valley, surgiu em 2011 como uma brincadeira e hoje é referência para os mineiros. São 200 empresas de diversos setores reunidas ali, além de espaços de coworking, aceleradoras e investidores.

Em Santa Catarina, o Sapiens Parque reúne mil empresas de tecnologia. “Temos um ecossistema dinâmico, com infraestrutura e ambiente favorável aos negócios, mas enfrentamos os desafios das instabilidades da macroeconomia, da burocracia e dos custos operacionais", avalia José Eduardo Fiates.

Um dos mais antigos centros tecnológicos está em Santa Rita do Sapucaí, o chamado Vale da Eletrônica, possui 153 fábricas e fechou 2017 com um faturamento de R$ 3,2 bilhões. A região produz, por exemplo, as urnas e as tornozeleiras eletrônicas e rastreadores. 

Diferente dos demais, em Santa Rita as empresas não são startups, mas conta com 31 empresas em programas de incubação e três incubadoras. “Produzimos mais de 15 mil produtos e a expectativa de crescimento é de 12% em 2018. Um setor que cresce internamente, mas tem enfrentado dificuldades para exportar e concorrer com os produtos da China”, diz Roberto de Souza Pinto, do Sindvel (Sindicato das Indústrias de Aparelhos Eletrônicos e Similares do Vale da Eletrônica).

“Podemos dizer que temos muitos ‘vales’ no Brasil, com diferentes complexidades, mas ainda temos de enfrentar muitos desafios para crescer”, conclui o professor Fowler.

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