Falta de combustíveis é risco real e próximo, dizem ANP e Brasilcom
Entidades ligadas ao setor petrolífero e a distribuidoras alertam sobre a necessidade urgente de desbloqueio das estradas
Economia|Do R7, com Reuters e Agência Estado
Há risco de desabastecimento de combustíveis em consequência das manifestações realizadas em diversos estados, com bloqueio parcial ou total de rodovias. Quem alerta é a Brasilcom (Federação Nacional das Distribuidoras de Combustíveis, Biocombustíveis e Gás Natural), que recomenda ações coordenadas das autoridades responsáveis, para o "urgente desbloqueio das estradas".
A ANP (Agência Nacional do Petróleo) também fala sobre um "eventual risco" de falta de combustível, por conta dos bloqueios que questionam o resultado da eleição do último domingo (30). Por isso, a agência vem adotando medidas para garantir a distribuição dos derivados de petróleo pelo país.
Enquanto aguarda o desfecho da crise, a Brasilcom já articula ações com suas associadas, que participam com informações sobre os bloqueios em tempo real, e sugerem ações contínuas para auxiliar as autoridades "na solução para este grave problema, que afeta toda a população", diz a entidade, em nota.
O comunicado informa que a diretoria da federação vem trabalhando, juntamente com o MME (Ministério das Minas e Energia) e com a ANP, na criação de medidas para "resolver ou mitigar os problemas enfrentados". A Brasilcom recomenda, ainda, que as autoridades responsáveis façam o que for necessário para "proteger e acompanhar o deslocamento do transporte de combustíveis, visando assegurar o abastecimento de postos revendedores, supermercados e de hospitais, principais prejudicados pelas interrupções de fornecimento", disse a federação, no
Dentre as medidas tomadas pela ANP para tentar evitar o desabastecimento de postos e aeroportos, estão a suspensão de obrigações de manutenção de estoques semanais médios mínimos pelas distribuidoras, e a autorização para as empresas de revenda de gás de cozinha para vender o produto em botijões de outras marcas, além da que já é permitida.
A agência também liberou os chamados "Transportadores-Revendedores-Retalhistas (TRRs)" para comercializarem gasolina C e óleo diesel diretamente com postos de revendedores de combustíveis. Pelas regras atuais, os TRRs podem comercializar somente etanol hidratado.
A última medida envolve a liberação de cessão de espaço para armazenagem, entre diferentes grupos, independentemente de homologação da ANP. "Isso permitirá que distribuidoras com volumes altos armazenados possam guardar produtos em instalações de outras distribuidoras ou TRRs", afirmou a agência.
Venda direta é erro, diz IBP
O IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo), que representa as três maiores distribuidoras de combustíveis do país, Vibra, Raizen e Ipiranga, afirma ter "grande preocupação" diante do "risco real de desabastecimento de combustíveis em alguns polos em todo o país".
A entidade comentou as medidas tomadas pela ANP para tentar evitar esse quadro, considerando parte das medidas eficaz, e outras sem benefício. No primeiro caso estão a liberação dos estoques mínimos e a flexibilização de espaço entre distribuidores, que agilizam e otimizam a gestão dos estoques.
Motivo principal de críticas é a venda direta de combustível das refinarias aos postos, o que suprime o intermediário (distribuidores), e tem como principal efeito a desorganização da cadeia. O IBP também não concorda com a liberação de marcas na venda de GLP, pois alega que as duas foram testadas em situações anteriores, sem resultado.
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O instituto fala em um "impacto inevitável na vida das pessoas e na atividade econômica" decorrente dos bloqueios totais e parciais nas estradas, que impedem o transporte de combustíveis, como gasolina, diesel e GLP (Gás Liquefeito de Petróleo), das refinarias para postos ou unidades revendedoras, que é realizado majoritariamente por caminhões. O mesmo acontece com biocombustíveis, como etanol, que saem de usinas produtoras.
Para o IBP é necessário, ainda, avaliar "com urgência e profundidade" a flexibilização do percentual de biodiesel no diesel a ser comercializado. Isso porque há dificuldade para fazer chegar esses produtos nas bases de mistura das distribuidoras, atrasando a comercialização de combustível, já em estágio crítico em partes do país, como São Paulo.
Até o momento, as regiões mais afetadas pelos bloqueios são Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Inicialmente, o maior foco de atenção era o Sul, em especial Santa Catarina, onde as manifestações começaram e apresentavam maior intensidade. Mas, no terceiro dia de protestos contra o resultado das eleições, as ações no Sudeste, com destaque para o interior de São Paulo, chamaram a atenção do setor.