FMI melhora visão do Brasil após corte por chuvas no RS e prevê alta de 3% do PIB em 2024
Nova estimativa representa um aumento de 0,9 ponto percentual em relação à projeção anterior
Economia|Do Estadão Conteúdo
O FMI (Fundo Monetário Internacional) voltou a melhorar a projeção de crescimento do Brasil neste ano, após piorá-la em julho último, quando temia o efeito econômico das enchentes no Rio Grande do Sul. O PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro deve crescer 3% em 2024, o que representa um aumento de 0,9 ponto porcentual em relação à estimativa anterior, de 2,1%, informou o organismo no relatório Perspectiva Econômica Mundial (WEO, na sigla em inglês), publicado nesta terça-feira (22).
“Esta é uma revisão devido ao consumo e investimentos mais fortes no primeiro semestre do ano devido a um mercado de trabalho aquecido, transferências governamentais e interrupções menores do que o previsto devido a enchentes no Rio Grande do Sul”, justifica o FMI, no documento, divulgado às margens das suas reuniões anuais, que acontecem em Washington DC, nos Estados Unidos, ao longo desta semana.
Ao melhorar a projeção, o Fundo segue outros organismos, a exemplo do Banco Mundial e bancos da Faria Lima a Wall Street, que têm melhorado as estimativas para a expansão do Brasil em meio à surpresa positiva com o PIB local. Caso o cenário previsto pelo FMI se materialize, o país vai apresentar uma leve aceleração em relação a 2023, quando cresceu 2,9%.
Ainda assim, o Brasil deve se expandir abaixo do ritmo de economias emergentes e em desenvolvimento no exercício vigente. O Fundo estima alta de 4,2% neste e no próximo ano. Por outro, o país é esperado crescer acima da expansão prevista para a região da América Latina e Caribe, de 2,1% e 2,5%, respectivamente.
Economia desacelera em 2025
Para 2025, o FMI fez o movimento contrário, e reduziu a estimativa para o avanço do PIB brasileiro, antevendo uma desaceleração da economia doméstica. O Fundo projeta aumento de 2,2%, o que representa uma queda de 0,2 p.p. contra a estimativa anterior, divulgada em julho último.
“Com a política monetária ainda restritiva e o esperado esfriamento do mercado de trabalho, espera-se que o crescimento do Brasil modere em 2025”, avalia o FMI, em relatório.
Por sua vez, o Fundo vê os preços mais resistentes no Brasil. O FMI espera que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) fique em 4,3% neste ano, acima da sua última projeção, de 4,1%.
Em 2025, o indicador deve desacelerar para 3,6%, também acima da estimativa anterior, de 3%. Este patamar será alcançado apenas em 2029, segundo o Fundo. Ainda assim, os preços no Brasil seguem uma trajetória de esfriamento. Em 2023, o IPCA ficou em em 4,6%.
Ao comentar sobre o comportamento da inflação nos países da América Latina, o Fundo destaca revisões para cima no indicador. No caso do Brasil, o crescimento salarial robusto impede uma desinflação mais rápida no setor de serviços, avalia.
O FMI espera que o índice de desemprego no Brasil fique em 7,2% neste e no próximo ano, abaixo das estimativas anteriores. No ano passado, foi de 8%.
Na visão do Fundo, as premissas de política monetária no Brasil são “consistentes” com a convergência da inflação dentro da faixa de tolerância até o fim de 2024. Depois de ter começado a baixar os juros antes de economias desenvolvidas, o país entrou em novo ciclo de elevação das taxas em meio à deterioração das expectativas para os preços e os temores fiscais no front doméstico.
Economia global
O FMI deixou inalterada a previsão para o desempenho da economia global este ano e passou a esperar expansão marginalmente mais baixa em 2025.
Segundo o documento, o FMI manteve em 3,2% a projeção para o avanço do PIB mundial em 2024.
Para o ano que vem, o organismo projetou crescimento de 3,2%, abaixo do prognóstico de 3,3% estimado em julho.
Para o FMI, em relação às grandes economias, o PIB aproxima-se do potencial. À medida que a inflação recua, espera-se que as taxas de juros sigam o mesmo rumo, evitando aumentos nas taxas de juros reais.
EUA
O fundo elevou a projeção do PIB dos Estados Unidos em 2024, e projetou uma desaceleração mais branda do ritmo para 2025. Agora a instituição espera que os EUA cresçam 2,8% neste ano, ante o prognóstico anterior de 2,6%. O FMI levou em conta resultados mais fortes no consumo e investimento não residencial.
“A resiliência do consumo é em grande parte o resultado de aumentos robustos dos salários reais (especialmente entre famílias de baixa renda) e dos efeitos de riqueza”, ressaltou o documento.
Para 2025, a perspectiva é que o crescimento desacelere para 2 2% nos EUA, ante a projeção anterior que previa um desempenho de 1,9%. O cenário contemplou uma política fiscal gradualmente apertada e um mercado de trabalho em arrefecimento, que retardarão o consumo.
Zona do euro
O FMI não demonstrou o mesmo otimismo com a zona do euro. A projeção para o PIB da zona do euro neste ano foi revisada de 0 9% em julho para 0,8% agora. O desempenho das exportações, particularmente, de bens deve dar respaldo para esse resultado.
Para 2025, a estimativa foi cortada de uma expansão de 1,5% em julho para 1,2% no relatório divulgado nesta terça. Espera-se que o aumento dos salários reais dê suporte ao consumo, enquanto o afrouxamento gradual da política monetária deve apoiar o investimento.
Um forte impacto para o desempenho do bloco econômico deve vir da Alemanha, que está vivenciando o efeito da pressão da consolidação fiscal e uma forte queda nos preços de imóveis. O relatório reduziu a projeção para o PIB alemão para zero neste ano e 0,8% em 2025. Em julho, o FMI previa 0,2% e 1,3%, respectivamente.