Guarda-chuva vira jaqueta nas mãos de empresária paulista
Raissa Pinati cria linhas de roupas e acessórios sustentáveis e dá "holofote" a pequenos empreendedores que atuam em projetos sociais
Economia|Márcia Rodrigues, R7
A empresária Raissa Pinati, 31, vem investindo em uma forma diferente de empreender. Criou o projeto social Betopia em maio de 2017 e, desde então, “vem dando holofote” a pequenos empreendedores, como gosta de falar.
Junto com costureiras, catadores e moradores de comunidades carentes, produz uma série de peças de roupas e acessórios com propósito totalmente sustentável e de inserção social.
A cada temporada, a empresa investe em uma temática diferente. A atual é reciclagem e resultou na criação de uma coleção de jaquetas feitas com material de guarda-chuvas.
Os preços vão de R$ 149 a R$ 190, dependendo do modelo.
Intitulado de Heróis da Reciclagem, o projeto agrega parceiros com esta temática: catadores e microempresas que fazem a coleta do guarda-chuva e retiram o metal da peça para ser utilizada na confecção.
Até agora foram feitas 34 jaquetas no projeto piloto. Dessas, 15 já foram vendidas.
“A Betopia faz toda a pesquisa de mercado para a criação do produto. Depois, inicia a parceria com catadores e outros empreendedores que realizam suas produções, sempre com viés social. Nossa ideia é dar holofote para esses empreendedores”, diz Raissa.
A empresária vem fazendo a exposição das peças aos domingos, na Avenida Paulista, região central de São Paulo, que é fechada neste dia para passeio.
A segunda parte da coleção já está em fase de produção. “Vamos receber cerca de 150 guarda-chuvas recolhidos por catadores da região de Lavras (MG) ”, conta Raissa.
Mochilas de retalhos são feitas por vulneráveis
Outro produto comercializado no site da Betopia é a mochila feita com sobras de tecidos da indústria de confecção.
O projeto é uma parceria que a empresa fez com a ONG (organização não governamental) Clube de Mães do Brasil e catadores que recolhem os tecidos na indústria com suas carroças.
A ONG atua na reinserção social, capacitação profissional, empoderamento e geração de renda, segundo Raissa.
“O Clube de Mães do Brasil reverte toda a venda das mochilas em benefício dos moradores de rua, oferendo alimentação e cursos. A ONG também dispõe de um albergue para quem desejar ficar lá e trabalhar. ”
Os preços das mochilas são R$ 149 e R$ 150.
Roupa de crochê inaugurou a marca
A primeira linha de produtos trabalhada pela Betopia foi a Trem Bala, com peças de crochê artesanais.
“Procuramos desde artesão de rua a pequenos negócios que produziam roupas de algodão orgânico para serem nossos parceiros”, comenta Raissa.
Entre as peças, estavam roupas de crochê produzidas por artesãs da comunidade Vila Nova União, de Itaquera, zona leste da capital de São Paulo.
“A coleção contou com conjuntos de saias e blusas e casacos. Toda a produção foi feita por apenas quatro mulheres”, lembra.
Nessa temporada também teve a camiseta de algodão orgânico, produzida pela Ecotece.
“A Ecotece cuidou de toda a gestão produtiva. Aliás, ela é responsável por toda a intermediação de confecção da Betopia” finaliza Raissa.
Não há mais peças disponíveis para comercialização da coleção.
Projetos sociais e ambientais estão em alta
Para o consultor Eucalildes Souza Lemos, da consultoria de negócios Goakira, empresas que realizam projetos sociais ligados à sustentabilidade e ao meio ambiente são muito atuais e, se bem elaborados, são muito bem recebidos pela sociedade.
“Todos os projetos ligados ao meio ambiente e com viés social são bem vistos pelo mercado. O Pano Social, que faz uma ação de inclusão com ex-detentos, por exemplo, vem realizando um trabalho bem legal e crescendo”, diz Lemos.
O especialista acredita, no entanto, que a Betopia deveria estabelecer melhor o seu foco, se é social ou sustentável e ligado ao meio ambiente.
“Se não tiver foco, dificilmente a empresa conseguirá escalonar seus produtos. ”
Uma dica do consultor é criar coleções temáticas, sejam sociais ou ambientais, com assuntos da atualidade. Assim a empresa estará fazendo um trabalho político social também, ressalta Lemos.
“Por que não criar uma coleção com foco na Amazônia, sobre sua importância para o planeta ou sobre como o país trata a floresta, por exemplo? ”