Guerra entre Israel e Hamas pode encarecer gasolina e comida e dificultar oferta de crédito no Brasil
Por enquanto, o impacto na economia é menor, mas isso pode mudar caso haja uma escalada do conflito, diz economista
Economia|Johnny Negreiros, do R7*
A guerra travada entre Israel e o grupo terrorista Hamas pode trazer graves consequências além da crise humanitária. Segundo especialistas ouvidos pelo R7, um dos impactos do conflito na economia brasileira poderá ser a pressão em cima da inflação.
Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank, explica que “por ora, o impacto é pequeno, mas isso pode mudar a qualquer momento, caso haja uma escalada no conflito”.
Da mesma forma, Renan Diego, educador financeiro e consultor no segmento, acredita que, se mais países entrarem na guerra, os preços em território nacional vão encarecer.
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“[Se isso acontecer] provavelmente o petróleo vai aumentar muito e outras commodities também. Tudo vai ser influenciado, os alimentos vão ser impactados, porque, o petróleo subindo, aumenta a maior parte do transporte alimentar do Brasil, que usa diesel e gasolina, derivados do petróleo”, afirmou.
Vale lembrar que o diesel é utilizado nos caminhões, responsáveis pela maior parte do transporte de carga no Brasil. Segundo a CNT (Confederação Nacional do Transporte), 61,1% desse tipo de deslocamento é feito por rodovias.
"Um aumento de preços do petróleo pode levar a um aumento generalizado da inflação, pois os custos de produção e transporte aumentam, o que é repassado aos consumidores”, explica Victor Arduin, analista de Energia e Macroeconomia da Hedgepoint Global Markets.
No momento, o petróleo está em alta no exterior nos últimos meses. No entanto, o movimento ocorre desde antes da eclosão do conflito no Oriente Médio.
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Essa expansão no preço do óleo acontece depois que a Arábia Saudita anunciou que faria cortes profundos na produção de petróleo, desde julho. A medida faz parte de um acordo mais amplo de limitação da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).
Isso ocorre no momento em que o cartel com as principais nações que exportam a fonte de energia enfrenta uma queda dos preços do produto e um iminente excesso de oferta. O grupo produz cerca de 40% do petróleo bruto do mundo.
A Petrobras autorizou a partir deste sábado (21), nas distribuidoras, uma redução de R$ 0,12 (4,1%) no preço do litro da gasolina e um aumento de R$ 0,25 (6,6%) no do diesel. O reajuste ocorre dois meses depois da última mudança nos preços dos combustíveis e quase duas semanas após o início do conflito no Oriente Médio.
Juros maiores
Dessa forma, Renan acredita que esse cenário seria um obstáculo no ciclo de cortes da taxa básica de juros brasileira, a Selic, que o Copom (Comitê de Política Monetária), do BC (Banco Central), tem promovido.
Foram duas baixas seguidas de 0,5 ponto percentual. Com isso, a taxa Selic passou de 13,75% em agosto para os atuais 12,75%. O educador financeiro ressalta, porém, que isso só acontecerá caso haja uma escalada no conflito, o que não se sabe se ocorrerá.
“Israel e Hamas não são grandes o suficiente para impactar a economia global, se o conflito permanecer só entre os dois. Se houver alguma ligação de países vizinhos, como, por exemplo, o Irã — há indícios que tenham ajudado o Hamas nos primeiros ataques —, provavelmente os Estados Unidos também vão se envolver mais, ocasionando uma guerra mais extensa.”
A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira e o principal instrumento de política monetária do BC no controle da inflação.
Por influenciar todas as taxas de juros do país, como a do rotativo do cartão de crédito e a do cheque especial, ela tem um peso no bolso do consumidor quando se trata de empréstimos, financiamentos e aplicações financeiras.
Em um cenário de inflação alta, o Copom pode elevar a Selic para desestimular o consumo. A medida pode subir os juros do cartão de crédito, de empréstimos e de cheques. A estratégia busca levar o consumidor a adiar uma compra e, assim, controlar a inflação.
Uma situação prática: quem for ao banco simular um empréstimo para comprar um carro poderá ver o plano falhar se a Selic subir no mês seguinte, como no cenário sugerido por Renan.
Isso porque o aumento da taxa fará com que o valor das prestações fique mais alto do que aquilo que foi originalmente simulado, o que pode forçar o consumidor a repensar o empréstimo e a compra.
*Sob a supervisão de Ana Vinhas
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