Ibovespa fecha em alta e dólar cai a R$ 5,04, apesar de incerteza sobre meta fiscal
Em outubro, a moeda americana acumula alta de 0,26%; já o índice de referência do mercado acionário teve queda de 2,94%
Economia|Do R7
O dólar à vista fechou esta terça-feira (31) em leve baixa ante o real, na contramão do movimento visto no exterior, em um dia marcado pela disputa entre investidores pela formação da taxa de câmbio de fim de mês e pelas tentativas do governo Lula de reduzir o mal-estar em torno da questão fiscal brasileira.
A moeda americana à vista fechou o dia cotada a R$ 5,0405 na venda, em baixa de 0,15%. Em outubro, acumulou alta de 0,26%.
Já o Ibovespa fechou em alta, com ajustes após duas quedas seguidas, tendo as ações da GPA e da Ambev entre os destaques positivos após os respectivos balanços trimestrais, enquanto a queda dos papéis da Petrobras e de bancos minou uma recuperação mais forte.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 0,54 %, indo a 113.143,67 pontos, após ter acumulado um declínio de quase 2% nos dois pregões anteriores. Na máxima do dia, chegou a 113.597,32 pontos. Na mínima, a 112.098,12. Em outubro, acumulou queda de 2,94%.
Para a sócia e especialista da Blue3 Investimentos Bruna Centeno, a bolsa paulista teve uma sessão de recuperação após o mau humor com ruídos políticos, notadamente as discussões em torno da meta fiscal do próximo ano.
Desde a última sexta-feira (27), após declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cresceram os receios de que, além de uma falta de um comprometimento maior do governo com o déficit zero em 2024, via contingenciamento de gastos, a busca do equilíbrio nas contas se dará por meio do aumento da carga tributária.
Na véspera, o ministro da Fazenda havia tentado amenizar a fala de Lula, mas teve pouco sucesso. Nesta terça-feira, o governo não tratou diretamente da mudança da meta em uma reunião de líderes, mas reforçou a necessidade de cumprir o Orçamento de 2024, o que parlamentares entenderam como admissão de chance de mudança.
"Isso é um fator importante principalmente na parte de precificação de risco", afirmou Centeno.
Movimento do dólar
Pela manhã, os negócios foram marcados por uma maior volatilidade, em meio à disputa de investidores pela formação da Ptax do fim de outubro.
A Ptax é uma taxa de câmbio calculada pelo Banco Central com base nas cotações do mercado à vista e serve de referência para a liquidação de contratos futuros. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la a níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas (no sentido de alta das cotações), sejam vendidas em dólar (no sentido de baixa).
A atuação dos agentes fez o dólar à vista marcar a cotação mínima de R$ 5,0090 (-0,77%) às 9h24 e, posteriormente, atingir a máxima de R$ 5,0719 (+0,47%), às 10h15.
Definida a Ptax no início da tarde, em R$ 5,0575 na venda, o dólar à vista passou a oscilar com menor influência de fatores técnicos.
Com isso, os investidores se voltaram principalmente para o noticiário. Desde sexta-feira o dólar no mercado brasileiro vem sendo pressionado pelas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que a meta fiscal de 2024 não precisa ser zero e de que o objetivo dificilmente será alcançado, já que ele não pretende cortar investimentos.
Nesta segunda-feira (30), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tentou minimizar as declarações de Lula, mas acabou por reforçar a pressão de alta para as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros).
Nesta terça, o foco esteve na reunião entre Lula e líderes de partidos da base aliada do governo. Na saída do encontro, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que a meta de zerar o déficit primário no próximo ano depende da aprovação de medidas em tramitação no Congresso, que ampliam a arrecadação federal.
Nesse cenário, após dois dias de alta, o dólar sustentou perdas ante o real nesta terça-feira, na contramão do exterior, onde a divisa americana subia ante a maioria das demais moedas — mas a questão fiscal serviu como limitador do movimento de baixa no Brasil.
“Ficamos mais suscetíveis à [formação da] Ptax, e ainda estamos com o susto que tomamos na sexta-feira, quando Lula falou sobre a área fiscal. Assim, as cotações ficam numa inércia trazida pelo fiscal”, comentou o gerente da mesa de Derivativos Financeiros da Commcor DTVM, Cleber Alessie Machado.
Na quarta-feira, as atenções estarão voltadas para as decisões sobre juros do Federal Reserve e do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Como a próxima quinta-feira (2) é feriado no Brasil, também é esperada certa pressão compradora de dólares por parte de agentes interessados em posições mais protegidas até a segunda (6).