O Ibovespa fechou a sexta-feira (3) em queda, abaixo de 109 mil pontos
Amanda Perobelli/ReutersO Ibovespa fechou em queda nesta sexta-feira (3), abaixo dos 109 mil pontos, após as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a independência do Banco Central e a taxa básica de juros.
A fala de Lula ajudou a pressionar ações sensíveis à economia brasileira, que também sofreram com o aumento da inclinação da curva de juros doméstica. Enquanto isso, o índice de referência do mercado nacional já se contaminava pela aversão a risco no exterior, em meio a dados mais fortes do mercado de trabalho nos Estados Unidos e balanços de tecnologia em Wall Street.
O Ibovespa caiu 1,36%, indo a 108.645,3 pontos, segundo dados preliminares. O volume financeiro somava R$ 22,5 bilhões. O índice acumulou queda de 3,27% na semana, a primeira com recuo desde o declínio de 0,7% na primeira semana do ano.
As críticas de Lula à autonomia do BC e o relatório sobre emprego nos EUA fizeram o dólar disparar quase 2% frente ao real nesta sexta-feira (3). O primeiro teve repercussão negativa entre investidores, e o segundo, reduziu esperanças de abrandamento do aperto monetário do Federal Reserve, o banco central norte-americano.
No mercado à vista, o dólar subiu 1,98%, a R$ 5,1456 na venda, bem distante de patamares intradiários abaixo de R$ 5 atingidos na véspera. A moeda teve a maior valorização percentual diária desde 10 de novembro passado (+4,10%), e a cotação de encerramento mais alta desde 23 de janeiro (R$ 5,1993). Na semana, a divisa norte-americana avançou 0,64%.
O dólar disparou globalmente depois que o Departamento do Trabalho dos EUA comunicou que foram abertas 517 mil vagas de emprego fora do setor agrícola do país no mês passado. A leitura ficou bem acima das 185 mil vagas que eram esperadas pelos economistas ouvidos pela reportagem.
Segundo Denilson Alencastro, economista-chefe da Geral Asset, também colaboraram para a alta do dólar frente ao real nesta sessão as falas recentes de Lula, que afirmou na quinta-feira (2), em entrevista a uma emissora de televisão, que pode rever a autonomia do Banco Central quando terminar o mandato do atual presidente da instituição, Roberto Campos Neto, em 2024.
O presidente tem criticado a taxa de juros elevada e a independência do BC com frequência, afirmando que a instituição não faz mais agora do que quando seu presidente era trocado sempre que um novo governo assumia.
Em outro momento, a ministra da Ciência, Luciana Santos, disse que o Banco Central precisa reduzir os juros, e que isso terá que ser garantido "nas ruas", sugerindo uma mobilização da equipe do governo por trás dessa agenda.
O líder governista no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou nesta sexta que a autonomia do Banco Central não está na pauta do governo e que o Lula não pediu a elaboração de uma proposta legislativa para reverter a independência da autoridade monetária.
Na quinta, o dólar chegou a ser negociado abaixo dos R$ 5 pela primeira vez desde junho do ano passado, o que Diego Costa, chefe de câmbio para o Norte e Nordeste da B&T Câmbio, atribuiu, em parte, ao comunicado de política monetária do Banco Central que, na quarta-feira (1), manteve a Selic em 13,75%, o que indicou juros altos por mais tempo.
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