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Impacto do ciclo de alta dos juros nas contas públicas banca auxílio de R$ 600 por dois anos e meio

Desde março do ano passado, dívida pública federal saltou 16,4%, impulsionada pela alta de 23,9% dos títulos atrelados à taxa Selic

Economia|Alexandre Garcia, do R7

Alta de 11,75 pontos da Selic aumenta dívida pública em quase R$ 400 bilhões
Alta de 11,75 pontos da Selic aumenta dívida pública em quase R$ 400 bilhões

O ciclo de alta que elevou a taxa básica de juros em 11,75 pontos percentuais, para 13,75% ao ano, no período de um ano e meio chegou ao fim após sinalização do BC (Banco Central) pela manutenção da taxa Selic no atual patamar, o maior desde 2017.

Iniciado em março do ano passado para conter a inflação, o movimento de ascensão dos juros tem potencial devastador paras as contas públicas, atualmente composta por 37,7% de títulos atrelados à taxa Selic, segundo os dados mais recentes do Tesouro Nacional.

Com a trajetória de elevação dos juros nos últimos 18 meses, o rombo nas contas públicas é de quase R$ 400 bilhões, valor suficiente para pagar o Auxílio Brasil de R$ 600 a mais de 20 milhões de famílias por 30 meses, o equivalente a dois anos e meio.

O cálculo leva em conta que cada aumento de 1 ponto percentual da taxa básica de juros eleva a dívida pública em cerca de R$ 33 bilhões e que o atual repasse mensal do Ministério da Cidadania para o pagamento do programa de transferência de renda soma R$ 12,5 bilhões.


Desde março do ano passado, mês que marca a primeira alta da taxa básica de juros, a DPF (Dívida Pública Federal) do Brasil saltou 16,4% e alcançou os R$ 5,8 trilhões, de acordo o Tesouro Nacional. No período, o endividamento com os títulos que variam com a Selic foi ainda maior, de 23,9%, de R$ 1,77 trilhão para R$ 2,19 trilhões.

José Milton, sócio e assessor de investimentos da Blue3, afirma que a continuidade do ciclo de alta da taxa de juros causaria um efeito "explosivo" e diferente do desejado no tamanho da dívida pública. "É um fator que o Copom não coloca nas suas atas, mas considera nas decisões, porque eleva a dívida de forma assustadora", afirma.


Para Paulo Cunha, presidente da iHUB Investimentos, o principal indicador a ser analisado é a dívida com relação ao PIB (Produto Interno Bruto). Ele observa que tal relação tem diminuído com o crescimento da economia nacional, alta no preço das matérias e aumento da arrecadação.

"Como a máquina operacional está recebendo mais, a preocupação fica menor, porque temos uma boa dose de arrecadação. Isso não significa que a preocupação não exista, entre 2014 e 2016, por exemplo, a economia esteve em um período deprimido acompanhado de juros altos, o que gerou a preocupação de uma dominância fiscal, causada também por fuga de capital", afirma Cunha.


Ao comunicar a manutenção da taxa básica de juros na última quarta-feira, o Copom (Comitê de Política Monetária) enfatizou que os passos futuros da política monetária ainda poderão ser ajustados e garantiu que "não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado".

Para os especialistas consultados pelo R7, o patamar mais elevado da taxa básica de juros é fundamental para atrair investimentos do exterior. "A política de juros é algo para reduzir o valor do dólar, que pesa muito nos índices de preços", afirma Milton ao avaliar que o movimento deve ser acompanhado por uma desinflação que impeça um efeito negativo no crescimento econômico.

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