Inflação de 2020 deve ficar acima da meta com conta de luz mais cara
Decisão da Aneel de reativar o sistema de bandeiras tarifárias levou ao aumento das projeções para o IPCA neste ano
Economia|Do R7
O mercado financeiro deu início a uma rodada de aumento nas projeções de inflação depois de a Aneel (Agência Nacional de Energia Elética) informar que os preços da energia elétrica ficarão mais caros a partir deste mês, com as estimativas para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplos) — a inflação oficial — indo acima do centro da meta perseguida pelo BC (Banco Central) neste ano.
A Aneel decidiu nesta segunda-feira (30), em reunião extraordinária, reativar o sistema de bandeiras tarifárias nas contas de luz a partir de dezembro, estabelecendo para este mês a bandeira vermelha patamar 2, que prevê as condições mais custosas de geração e impõe custos adicionais ao consumidor.
Leia mais: Conta de luz fica mais cara a partir de hoje. Saiba economizar
O Itaú Unibanco informou nesta terça que elevou a 4,3% o prognóstico para a inflação ao consumidor em 2020, incorporando o anúncio da Aneel. Com isso, o IPCA superaria o centro da meta definida pelo CMN para este ano, de 4%, mas ainda ficaria confortavelmente aquém do teto da banda permitida, que vai de 2,5% a 5,5%.
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A previsão do Itaú contempla alta próxima de 0,8% no IPCA de novembro e de 1,2% em dezembro, segundo Julia Passabom, que integra o time de pesquisa macroeconômica do banco, chefiado pelo ex-diretor do BC Mario Mesquita.
"A decisão não era esperada, uma vez que a agência havia anunciado bandeira verde em todos os meses até dezembro, e possui impacto de +0,45 p.p. na leitura de dezembro. Incorporamos também, além do efeito da bandeira, revisão de +0,08 p.p. em outros itens, principalmente na parte de alimentos (tubérculos e proteína)", afirmou Passabom em relatório.
O Itaú vê alta de 2,5% em preços administrados em 2020. Com a bandeira de dezembro, energia elétrica deve subir perto de 10% no ano, conforme a economista.
O banco projeta elevação de 4,9% nos preços livres em 2020, com acréscimo de 17% em alimentação no domicílio, seguindo o choque recente no preço de commodities agrícolas em reais. Entre os demais preços livres, o departamento econômico do Itaú vê alta de 2,8% em industriais e de 1,8% em serviços e aumento de 2,4% no IPCA-EX3, indicador subjacente de serviços e industriais.
Já o Barclays elevou o prognóstico para o IPCA a 4,2%, de 3,6% antes. O banco calcula que o aumento nas contas de luz pode ficar entre 7,1% e 10,7% versus os custos sob a bandeira verde.
Na planilha da XP, o impacto da antecipação do sistema de bandeiras tarifárias e já para a cor vermelha eleva o IPCA 2020 em 45 pontos-base, com o índice devendo marcar alta de 4,3% no ano fechado, acima dos 3,6% previstos em meados de novembro.
2021
Por outro lado, duas dessas três instituições financeiras revisaram para baixo os números para o IPCA do ano que vem, considerando bandeira amarela em dezembro de 2021.
A XP passou a ver alta de 3,5% do índice, um pouco abaixo dos 3,6% estimados em meados de novembro.
O Barclays baixou a 3,4% o IPCA esperado para 2021, de 3,6% antes, levando em consideração as mudanças nas bandeiras, embora o movimento seja parcialmente compensado por outras pressões de alta.
O banco cita que a expectativa de bandeira amarela em dezembro de 2021 não representaria mais um aumento líquido nas contas em 2021, como teria sido o caso se fosse verde em dezembro de 2020.
No atual cenário, com a bandeira passando de vermelho 2 de agora para amarelo no final do ano que, haveria redução de 7,5% nas contas de luz, ou cerca de 33 pontos-base no IPCA, tudo mais constante.
Já o Itaú manteve a projeção para 2021 em 3,1%. "O impacto deflacionário da bandeira tarifária no próximo ano (esperamos bandeira amarela em dez/21) é compensado por revisões altistas recentes na expectativa de outros preços administrados, principalmente o reajuste de plano de saúde anunciado há algumas semanas pela ANS", disse o banco em relatório.
Mas o Itaú ainda espera que o ambiente de expectativas de inflação "ancoradas" e "elevada" capacidade ociosa da economia exerça pressões baixistas em 2021. "Os principais riscos para a nossa projeção estão relacionados à desancoragem fiscal, com efeitos potenciais sobre expectativas inflacionárias, depreciação cambial adicional e seu grau de repasse para os demais preços na economia."