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No Brasil, alimentos "feios" sofrem preconceito dos consumidores e viram doação

Legumes e frutas deformados não passam nas exigências dos mercados para serem expostos

Economia|Marcella Franco, do R7

Maçãs deformadas foram vendidas em apenas dois dias na França
Maçãs deformadas foram vendidas em apenas dois dias na França

Depois de a União Europeia definir 2014 como o ano europeu contra o desperdício de alimentos, o comércio de diversos países decidiu seguir a orientação e incentivar o consumo dos chamado alimentos “feios”, que, embora tenham uma aparência diferente do comum, são tão próprios para o consumo quanto os outros.

A iniciativa de maior repercussão foi a da rede de supermercados Intermarchè, a terceira maior da França, que investiu em uma campanha bem-humorada (veja fotos) batizando legumes e frutas deformados de “inglórios” e, com isso, conseguiu vender uma tonelada deles em apenas dois dias.

No Brasil, ainda não existem ações similares, mas alguns comércios, preocupados com a grande quantidade de alimentos que poderiam ir para o lixo apenas por seus defeitos, já encontraram meios de destinar a outros fins o que não se encaixa nas exigências para a exposição nas lojas.

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O GPA, grupo que engloba, entre outros, os mercados Pão de Açúcar e Extra, tem há 19 anos um programa de doações que beneficia instituições assistenciais nos Estados em que o grupo atua. O Parceria Contra o Desperdício doa mensalmente 250 toneladas de frutas, legumes e verduras excedentes, sem condições de venda segundo seus parâmeteros, a associações como ONGs e orfanatos.


De janeiro a junho deste ano, as cerca de 450 organizações já receberam 1.518 toneladas de alimentos, de acordo com o GPA. As exigências para se tornar um beneficiado são procurar uma das 218 lojas participantes do programa, apresentar documentação que comprove seu funcionamento regular e assinar um termo de compromisso, responsabilizando-se pelo transporte e conservação dos itens doados.

O Carrefour, rede de origem francesa com lojas espalhadas pelo Brasil, realiza ação similar desde 2009. O Parceria que Alimenta faz doações a 30 bancos cadastrados pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, e também ao Programa Mesa Brasil SESC. Em 2013, segundo a rede, foram doadas duas mil toneladas de alimentos em 21 Estados.


Produtores de alimentos orgânicos — que, por não receberem agrotóxicos durante seu plantio acabam, muitas vezes, se desenvolvendo com aparência “feia” — relatam dificuldades em vender seus produtos aos grandes mercados, justamente por conta da alta exigência tanto das redes em relação à aparência do que irá para as gôndolas, quanto do consumidor, que, ao que parece, dá preferência aos alimentos de melhor aparência. 

Uma fornecedora que prefere não se identificar diz que preferiu se juntar a uma associação de orgânicos da região em que mora para facilitar a mediação com as lojas que compram os alimentos que ela planta.

— As grandes redes jogam fora os alimentos “com defeitos” porque querem alimentos que pareçam de plástico. Já sabemos que, caso os legumes estejam fora do padrão, eles não pegam. Se a abobrinha está maior que o esperado, eles não compram. Nossas frutas, por exemplo, não são aquelas chamadas de “frutas de mesa”, e, sim, frutas de verdade. Brinco que aqui em casa comemos o descarte. E o curioso é que, quando vendo meus produtos na porta da escola do meu filho, consigo vender absolutamente tudo. 

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