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No Dia Nacional do Café, preço alto ainda pesa no bolso do brasileiro

Bebida acumula aumento de quase 70% em 12 meses; custos dependem do valor do café cru, calculado de acordo com o dólar

Economia|Mariana Botta, do R7

O café é a segunda bebida mais consumida no país, segundo a Abic
O café é a segunda bebida mais consumida no país, segundo a Abic

No 17º Dia Nacional do Café, o consumidor não tem muitos motivos para comemorar: o café torrado e moído acumula em 12 meses um aumento de preço de quase 70%. Por isso, convidar um amigo para tomar um cafezinho é um hábito que, nos últimos anos, teve de ser revisto. Além do isolamento social e da nova rotina de trabalho em home office ou no modelo híbrido, outras mudanças de comportamento foram necessárias para driblar a inflação e garantir que a bebida pudesse continuar na mesa de casa.

O preço do café torrado e moído no varejo, para o consumidor final, vem aumentando desde o segundo semestre de 2021, quando o quilo passou de R$ 20,43, em julho, para R$ 25 em agosto. Em janeiro deste ano, já custava R$ 30,58 e, em abril, chegou a R$ 33,76, segundo dados disponíveis no site da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café). Só em 2021, a alta foi de 156%.

O diretor-executivo da associação, Celírio Inácio, afirma que as altas dos preços são decorrentes dos problemas hídricos que o país enfrentou no ano passado, além de três fortes geadas. "Em 2020, havíamos registrado produção recorde, de 63 milhões de sacas de café [60 kg]. Com a produção menor, a expectativa do mercado aumentou; afinal, o que é raro é caro", diz. 

Inácio explica que o consumo de café cresceu até o ano passado, tanto no mercado interno como mundialmente. Mas, segundo estudo da Scanntech, empresa de inteligência de mercado, que acompanha mais de 27 mil pontos de venda, o aumento do preço do café moído levou a uma retração de 6% no consumo do cafezinho (em unidades).


Commodity

"O maior impacto no preço do café no varejo é causado pelo café cru, responsável por algo entre 63% e 70% dos custos. Como é uma commodity, negociada em Bolsas de Valores, ele depende de moedas estrangeiras, fica vulnerável às oscilações do mercado e à cotação do dólar. Tivemos uma produção menor e um dólar maior, não tinha como ser diferente", analisa.

Commodities são matérias-primas, produtos não industrializados ou com pouca industrialização, cultivados, criados ou extraídos em larga escala, que não apresentam diferenças relacionadas ao local de origem ou à marca, de grande importância para a economia mundial e cujos preços são definidos conforme a oferta e a procura no mercado internacional. Por estarem sujeitas a grande variação de preço, elas são tratadas como investimento e negociadas em Bolsas de Valores.


O Brasil é o maior produtor mundial de café e cultiva, principalmente, as espécies arábica e robusta (colinon). O primeiro é negociado na Bolsa de Nova York, e o segundo, na de Londres. "Na semana passada, com o frio, o preço deu uma disparada. Além disso, há o efeito da guerra na Ucrânia, que tem feito o investidor tirar o dinheiro aplicado no café para colocar em outros produtos financeiros. Mesmo assim, o mercado tende a se estabilizar, porque os estoques estão baixos em todos os países produtores", diz Inácio.

De acordo com o estudo da Scanntech, o valor deve continuar subindo. “O preço da saca de grãos verdes teve um aumento mais agressivo nos últimos dois anos, e os preços nas gôndolas ainda não chegaram ao seu limite. Isso é bastante preocupante, já que vimos que, quando cafés torrados, moídos e em grãos ultrapassam a marca dos R$ 25/kg, a curva de consumo sofre a maior desaceleração”, diz Priscila Ariani, diretora da Scanntech, responsável pela análise.


O diretor da Abic conta que o Dia Nacional do Café foi criado pela associação, em 2005, com o objetivo de celebrar o início da colheita e promover a bebida entre os consumidores. "Também é uma oportunidade para as entidades de toda a cadeia produtiva se unirem em torno da imagem do café, que está em 98% dos lares brasileiros e é a segunda bebida mais consumida no país, ficando atrás apenas da água."

Apesar de ser líder na produção, o Brasil também importa café. "Compramos o café em cápsulas, que vêm cheias, com um blend do nosso próprio café com o de outros países. Mas é uma quantia pequena", conta Inácio. O levantamento da Scanntech mostra que esse produto teve a maior retração em volume de vendas (-11%), já em março, com a volta ao trabalho presencial e a diminuição do consumo em casa. A única categoria que registrou crescimento nas vendas em unidades foi o café solúvel (2%), a que também teve o menor aumento de preço (27%).

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