Número de jovens que não estudam e nem trabalham atinge menor nível da história, diz IBGE
Em 2023, 10,3 milhões (21,2%) dos jovens brasileiros de 15 a 29 anos estavam nessa situação; 65% eram mulheres e 35%, homens
Economia|Clarissa Lemgruber, do R7, em Brasília
Dos 48,5 milhões de jovens brasileiros de 15 a 29 anos, 10,3 milhões (21,2%) não estudavam e nem trabalhavam em 2023. O resultado representa o menor patamar e taxa desde o início da série histórica, em 2012. Os dados são da pesquisa Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quarta-feira (4).
Entre os jovens ‘nem-nem’, 65% eram mulheres (6,7 milhões) e 35%, homens (3,6 milhões). A maior parte desses jovens – 7 milhões – eram pretos e pardos. Brancos somavam 3,1 milhões.
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As mulheres de cor ou raça preta ou parda eram 4,6 milhões (45,2%), enquanto as brancas formavam menos da metade desse montante: 1,9 milhão (18,9%); os homens pretos ou pardos eram 2,4 milhões (23,4%) e os brancos, 1,2 milhão (11,3%).
O estudo mostra que a situação de atividade dos jovens está relacionada ao sexo. Os afazeres domésticos e os cuidados de parentes representam o principal motivo para as mulheres estarem nesta condição.
Do total de jovens que não estudam e nem estão ocupados, 3,9 milhões estão no Nordeste. O Sudeste concentra 3,4 milhões dessa população. O Norte é responsável por agrupar 1,2 milhão de jovens ‘nem-nem’, o Sul, 973 mil, e o Centro-Oeste, 686 mil.
Onde aparece a redução
Segundo o IBGE, a quantidade de jovens nessa condição recuou 5,8% na comparação entre 2022 e 2023. As maiores reduções foram observadas entre as mulheres brancas, 11,4%, e entre os homens pretos ou pardos, 9,3%.
A queda para os homens brancos foi menos expressiva (6,5%) do que de 2021 para 2022, quando recuou 22%, demonstrando ter sido o primeiro grupo a conseguir sair desta condição após a crise econômica ocasionada pela pandemia.
O conjunto formado pelas mulheres de cor ou raça preta ou parda apresentou a menor redução de 2022 a 2023, 1,6%, passando a representar 45,7% dos jovens na condição de não estudar e não estar ocupado.
O IBGE explica que o indicador de jovens que não estudam e que não estão ocupados inclui, simultaneamente, aqueles que não estudam e estão desocupados, bem como aqueles que não estudam e estão fora da força de trabalho.
Grau de instrução
O estudo aponta que, quanto menor o nível de instrução, maior é o percentual de jovens fora do mercado de trabalho. Enquanto entre os que tinham até ensino fundamental incompleto, 83,5% estavam fora da força de trabalho e somente 16,5% desocupados, entre os jovens com ensino superior completo, o percentual fora da força de trabalho foi de 54,6% e 45,4% de desocupados.
Segundo o IBGE, a diferença entre jovens desocupados e fora da força de trabalho é que os desocupados estão disponíveis para trabalhar e estão em busca de um emprego, enquanto os fora da força de trabalho não estão ocupados nem desocupados.
Renda mensal do trabalhador brasileiro
O rendimento médio real mensal da população ocupada no trabalho principal chegou a R$ 2.890, em 2023, um aumento de 7,1% em comparação com o ano anterior. O resultado é o maior desde 2020, quando ficou em R$ 2.935.
A recuperação do mercado de trabalho ocorreu em todas as atividades econômicas. O setor de informação, financeira e outras atividades profissionais é o que registrou maior salário médio (R$ 4.227). Já a menor remuneração média ficou com serviços domésticos (R$ 1.143).
Em 2023, 57,6% da população brasileira estava empregada, superando o patamar de 2019. No recorte por sexo, os homens alcançaram 67,9% de taxa de ocupação contra 47,9% para as mulheres.
Segundo o estudo, embora a maior escolaridade das mulheres não seja suficiente para equilibrar a situação em relação aos homens, é uma característica “muito relevante” para assegurar a inserção feminina no mercado de trabalho. No ano passado, o nível de ocupação das mulheres com ensino superior completo foi 3 vezes maior que o das mulheres sem instrução ou com ensino fundamental incompleto.
Diferença salarial por sexo e cor
De acordo com o IBGE, os homens ganhavam 26,4% a mais que as mulheres em 2023. O salário médio de um homem era de R$ 3.271, enquanto o das mulheres era de R$ 2.588.
O recorte por sexo mostra que o valor da hora trabalhada dos homens (R$ 18,80) foi superior em 12,6% ao das mulheres (R$ 16,70). Da mesma forma que na comparação por cor ou raça, a maior diferença ocorreu entre pessoas com nível superior completo. Nesse quesito, o rendimento médio dos homens (R$ 42,6) superou o das mulheres (R$ 30) em 41,8%.
A pesquisa mostra que a população ocupada de cor ou raça branca ganhava, em média, 69,9% mais do que a de cor ou raça preta ou parda e os homens, 26,4% mais que as mulheres. O IBGE destaca que os resultados indicam a existência de desigualdade estrutural, já que, salvo pequenas oscilações, essas diferenças foram encontradas em todos os anos de 2012 a 2023.
Atividades econômicas que, historicamente, apresentam os menores rendimentos médios (serviços domésticos, agropecuária e construção) são as que possuem, proporcionalmente, mais pessoas pretas ou pardas empregadas.
Informalidade
A proporção de pessoas em ocupações informais se manteve estável em 2023 (40,7%). Segundo o estudo, 45,8% das pessoas ocupadas de cor ou raça preta ou parda trabalhavam em ocupações informais, enquanto entre as pessoas ocupadas brancas eram 34,3%.