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Números do IBGE mostram mais empregos ruins e economia parada

Para analista, dados divulgados na Pnad Contínua, do IBGE, revelam que recuperação é lenta e ainda há muito pouco a comemorar

Economia|Marcos Rogério Lopes, do R7

Brasileiros ganham pouco e trabalham menos
Brasileiros ganham pouco e trabalham menos

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou com alarde na quarta-feira a queda no número de desempregados registrada pela última pesquisa mensal PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua). Os especialistas, no entanto, receberam com apreensão os dados. Porque aumentou o índice de subocupados, a renda média caiu e o anúncio deixou claro que a recuperação da economia nacional é mais lenta do que se esperava.

O pesquisador associado do FGV IBRE e IDados, Bruno Ottoni, contesta inicialmente o fato de vários dados do IBGE levarem em conta a comparação do segundo com o primeiro trimestre de 2019. De abril a junho ficou em 12% o índice de desempregados no país, 0,7 ponto percentual abaixo dos 12,7% de janeiro a março.

"A comparação precisa ser com o mesmo período do ano passado, porque é essencial se levar em conta a sazonalidade", explica Ottoni. Ele acrescenta que é natural que nos primeiros meses do ano mais pessoas sejam mandadas embora das empresas porque muitas delas são contratadas em funções temporárias no fim do ano. 

Considerando, portanto, os dados de abril a junho de 2018 e os de 2019, também houve queda no número de desempregados, de 12,4% no ano passado para 12%. "É apenas 0,4 ponto, muito pouco para se falar em recuperação. Bem abaixo do que se esperava da economia brasileira", argumenta.


O diretor-adjunto de Pesquisas do IBGE, Cimar Azeredo, pinça as carteiras assinadas para apontar um indício de melhora na economia. “Eu acredito que a gente deu um primeiro passo importante (para a recuperação dos empregos)." Mas ele mesmo admite que se trata apenas de um "soluço de crescimento".

Foram criadas, na comparação do segundo com o primeiro trimestre proposta pelo IBGE, 294 mil vagas com carteira assinada, um aumento de 0,9%, totalizando 33,2 milhões de trabalhadores com registro.


Cresceu, mas está longe do ideal. “Ainda há muita informalidade e um déficit expressivo de postos de trabalho com carteira assinada”, diz o diretor do IBGE.

Ottoni afirmou que apesar de a pesquisa ter mostrado queda no índice de desempregados, o que chamou sua atenção foi o aumento de subocupados, para 7,4 milhões de brasileiros (pessoas que passam menos de 40 horas semanais no emprego, mas gostariam de ficar mais), a maior quantidade desde 2012. "É um grupo que ganha menos do que deveria e provavelmente está descontente com o trabalho realizado."


O grupo de insatisfeitos é bem maior se for levado em conta outro dado: os 28,4 milhões de subutilizados (24,8% da força produtiva). Nessa categoria entram os subocupados, que trabalham pouco, os que não estão empregados e aqueles que desistiram de procurar uma vaga, chamados de desalentados.

De acordo com a pesquisa, o rendimento médio real caiu 1,3%, chegando a R$ 2.290 em junho – em janeiro, era R$ 2.321. “Isso não significa que o salário caiu, mas que tem mais gente ganhando menos. Você tem agora um movimento de crescimento do trabalho informal, o que puxa para baixo o rendimento médio", justifica Azeredo.

O pesquisador da FGV não vê boas chances de melhora a curto prazo, e diz que as reformas das Previdência e Tributária, prioridades para o governo federal, têm reflexo apenas indireto sobre o emprego. "Se a economia reaquecer, primeiro aumentam os índices de confiança, os empresários se animam a investir, reavaliam seus gastos e só então, em um momento posterior, cogitam contratar. Demora um pouco", lamenta Ottoni.

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