Preços vão seguir estáveis após eleição de Bolsonaro
Economistas avaliam que não há espaço para alta dos preços devido aos níveis de desemprego e capacidade ociosa das indústrias
Economia|Alexandre Garcia, do R7
A eleição de Jair Bolsonaro (PSL) para assumir a Presidência do Brasil a partir do dia 1º de janeiro de 2018 não vai pesar no bolso dos brasileiros neste primeiro momento, de acordo com a percepção de economistas que conversaram com o R7 após a confirmação do resultado.
Atualmente, a meta da inflação está estabelecida em 4,5% ao ano, mesmo patamar em que figura o IPCA (índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumulado dos 12 meses finalizados em setembro.
A expectativa dos economistas consultados semanalmente pelo BC (Banco Central) é de que a inflação oficial termine 2018 em 4,43% e feche o ano que vem com alta de 4,22%.
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Walter Franco, professor de economia do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais), afirma ser muito cedo para avaliar a movimentação dos preços durante o governo Bolsonaro, mas garante que o discurso do futuro presidente tende a manter os preços controlados.
"Em médio e longo prazo, eu não tenho dúvida nenhuma de que é o governo que vai priorizar a manutenção desse patamar de inflação nos níveis atuais", avalia Franco.
Para os últimos dois meses de 2018, o professor do Ibmec diz não observar variações significativas nos preços devido ao desemprego ainda em alta e a capacidade ociosa das indústrias. "Há possibilidade de os empresários atenderem eventuais aumentos de demanda para o final de ano ou mesmo a impulsão de algum otimismo do mercado que possa ocorrer a partir de agora", afirma ele.
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De acordo com Nelson Barizzelli, professor da USP (Universidade de São Paulo), os efeitos da eleição de Bolsonaro só serão conhecidos após o início do mandato. Ele avalia que o novo governo vai "mudar o humor dos agentes econômicos e da população".
"A tendência a médio prazo é a inflação ficar dentro ou abaixo do centro da meta. O que causou um aumento de inflação nos últimos meses foi a mudança no nível de câmbio, influenciando as importações brasileiras", afirma Barizzelli.
Antônio Correa de Lacerda, professor da PUC-SP, afirma que não existe espaço para os preços subirem nos próximos meses devido à baixa demanda dos consumidores. "A única pressão [inflacionária] que existe no curto prazo é pelos preços administrados, mas nada justifica que a inflação vai sair da meta no ano que vem", observa.
Especificamente sobre os preços administrados, como gasolina e energia, Lacerda avalia que a tendência da economia "ultraliberal" do futuro ministro da Fazenda, Paulo Guedes, pode entrar em conflito com a visão militar de Bolsonaro.
"A tendência seria de liberalização [dos preços administrados], mas tem o lado dos militares que também fazem parte do governo e têm uma visão mais nacionalistas e intervencionista", explica o professor da PUC.