Quarentena na quebrada: conheça projetos contra crise nas periferias
De fundo emergencial a arrecadação de tecidos para máscaras, iniciativas buscam garantir que dinheiro circule nas periferias mesmo na pandemia
Economia|Nayara Fernandes, do R7
A pandemia do novo coronavírus chegou estreitando uma das saídas ao desemprego mais usadas por moradores das periferias brasileiras na última década: o empreendedorismo. É o que mostra uma pesquisa da coalizão ÉdiTodos, campanha focada no enfrentamento do impacto da covid-19.
De acordo com a organização, pelo menos 30% dos empreendedores em comunidades periféricas de 10 estados estão com suas empresas atualmente desativadas. Dos entrevistados, 74% não possuem reserva financeira para enfrentar o momento de crise.
"Os negócios periféricos são impactados por sua maioria atender aos setores que estão parados neste momento por conta do isolamento social", explica a empresária Fernanda Leôncio, CEO da Conta Black e uma das responsáveis pela coalizão, que busca criar um fundo emergencial de R$ 1 milhão para dividir entre 500 microempreendedores.
Quarentena com crédito
Segundo Leôncio, um dos primeiros desafios agravados pela crise é o acesso à oferta de crédito. "Os bancos privados seguem com as mesmas tratativas de antes do covid-19, como consulta aos bureaus de crédito e histórico financeiro. Já as políticas públicas - como o auxilio emergencial - não atingem a maioria desses empreendedores, o que gera um vácuo que aumenta ainda mais a vulnerabilidade desses negócios.
Segundo a Caixa Econômica Federal, até o dia 5 de maio, pelo menos dois milhões de brasileiros sem conta no banco ainda não tinham sacado o auxílio emergencial.
Socorro pelas redes
"O audiovisual é ferramenta de evolução e poder. Um vídeo pode aumentar em até 40% a possibilidade de vendas pela internet", explica Rodrigo Portela, do coletivo Terra Preta Produções, que tem focado seu negócio em produzir conteúdo gratuitamente para empreendedores.
Além de filmar e fotografar os produtos para empreendedores gratuitamente, Rodrigo também fornece materiais sobre geração de conteúdo digital para micro empreendedores.
"Para quem empreende e tem seu negócio afetado pela covid-19, as redes sociais devem ser utilizadas mais do que nunca, já que são o principal meio entre os negócios e os clientes", explica.
Conectando para empoderar
Caroline Moreira, do projeto Afromáscaras, de Porto Alegre, tem mobilizado e conectado empreendedoras pela doação e venda de máscaras de proteção em 10 estados.
Segundo a fundadora do Afromáscaras, que nasceu do projeto Afrolab, iniciativa do Instituto Feira Preta, a proposta é trazer autonomia financeira para as mulheres periféricas em tempos de crise ao mesmo tempo em que forma uma rede de solidariedade na doação das máscaras.
“Temos uma necessidade de fazer acontecer. Nós, mulheres negras, somos as macrogestoras desse Brasil e nossos saberes e vivências têm valor. Não é algo novo que estamos inventando. Só criamos uma nova maneira para trazer dignidade para essas mulheres fazendo o bem”, explica.
A rede de empreendedoras consegue a matéria prima através da doação de tecidos e máscaras, assim como arrecada fundos para pagar a diária das costureiras cadastradas.