Recuperação lenta torna setor de serviços refém da vacinação
Segmento fechou 2020 com queda de 7,8% e segue em um patamar quase 4% abaixo do período pré-pandemia
Economia|Alexandre Garcia, do R7
Responsável pela maior parte das riquezas produzidas no Brasil, o setor de serviços fechou 2020 com queda de 7,8% e caminha lentamente na tentativa se recuperar das perdas causadas pela pandemia do novo coronavírus. A retomada, ainda discreta em relação aos demais ramos de atividade, coloca os serviços como o segmento mais dependente do processo de vacinação contra a covid-19.
Em dezembro, o volume de serviços prestados no Brasil interrompeu a sequência de seis meses consecutivos de alta e fechou o ano 3,8% abaixo do patamar registrado em fevereiro, último mês sem a adoção de medidas de isolamento social, segundo dados da PMS (Pesquisa Mensal de Serviços), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
"Um horizonte de uma recuperação mais contundente do setor de serviços passa necessariamente pela vacinação em massa da população para que os consumidores se sintam mais confiantes em voltar a consumir serviços de natureza presencial", avalia o gerente da PMS, Rodrigo Lobo.
Rodolpho Tobler, economista do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), explica que a questão sanitária torna a crise atual diferente das anteriores, nas quais o setor de serviços sofreu impactos menos significativos, o que torna a imunização mais importante do que para os outros segmentos.
“O comércio e a indústria talvez podem ser beneficiados com uma nova rodada de pagamento do auxílio emergencial, mas o setor de serviços praticamente depende só da vacinação. Não tem outra saída, porque o caminho de recuperação apresentado é muito pequeno perto do que era antes da pandemia”, afirma o economista.
Tobler avalia também que os efeitos positivos do processo de imunização precisam ficar claros antes do setor retornar ao ritmo de normalidade. “Só assim será possível aumentar a confiança das pessoas para sair de casa e reduzir a cautela para que a população volte a viajar e frequentar bares e restaurantes”, analisa ele.
O recente desempenho negativo do setor é justificado pela disseminação do novo coronavírus, que reduziu o número de viagens e hospedagens. Como consequência, as políticas de distanciamento social adotadas para conter a doença ainda ocasionaram no fechamento de serviços não essenciais, como bares e restaurantes.
Impacto no PIB
Na contramão dos serviços, o comércio e a indústria já recuperaram o patamar do período pré-pandemia, mas a lenta recuperação do principal setor da economia nacional tende a ser preponderante na queda das riquezas brasileiras do ano passado e pode limitar o crescimento de 2021.
“Como o setor de serviços, que tem o maior peso no resultado do PIB, ainda não mostrou uma recuperação suficiente para retomar ao patamar de fevereiro, isso tende a segurar um pouco os níveis mais avançados de recuperação mostrados pelo comércio e pela indústria”, lamenta Lobo, do IBGE.
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Tobler ressalta que, além de corresponder à maior parcela da economia, o setor de serviços também é aquele que mais emprega no Brasil e perdeu cerca de 4 milhões de trabalhadores entre novembro de 2019 e 2020, de acordo com os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).
"É um buraco ainda muito grande para se recuperar no mercado de trabalho e depende ainda de uma recuperação do mercado de trabalho para poder aumentar a demanda e voltar à normalidade", afirma Tobler. Para ele, 2021 ainda "não vai ser suficiente para recuperar tudo aquilo que foi perdido em 2020".