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Retração do PIB dos EUA não deve preocupar Brasil e o mundo

Consumo acelerado mantém risco de recessão longe do país, mas inflação e juros prolongam receio quanto a 2023

Economia|Camila Nascimento*, do R7

O PIB americano teve um forte crescimento (6,9%) no último trimestre de 2021
O PIB americano teve um forte crescimento (6,9%) no último trimestre de 2021 O PIB americano teve um forte crescimento (6,9%) no último trimestre de 2021

O PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos registrou retração de 1,4% no primeiro trimestre, informou o Escritório Oficial de Estatísticas do Departamento de Comércio, na semana passada. Essa queda não deve ser motivo de preocupação para o Brasil nem aponta para uma recessão global.

Por enquanto, o consumo acelerado deve assegurar o crescimento da economia norte-americana. A recessão econômica não é uma realidade, apesar da inflação e dos juros altos, que devem se tornar pontos de atenção em 2023.

Nesta quarta, o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, elevou a taxa básica de juros para o intervalo entre 0,75% e 1%, uma alta de 0,5 ponto percentual, justificando o salto da inflação no país. O Fed não fazia um aumento dessa magnitude desde maio de 2000.

A queda na atividade econômica do país foi uma surpresa, já que o PIB teve um forte crescimento (6,9%) no último trimestre de 2021. Essa foi a primeira contração desde o início da pandemia, em 2020.

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Queda não deve ameaçar economia americana, nem a global

Uma das principais causas para o recuo do PIB foram os casos de Covid-19, que voltaram a subir no início de 2022, por conta da variante Ômicron. “As restrições aumentaram, o que afetou as cadeias de produção”, aponta o professor Joelson Sampaio, economista da FGV.

Outros fatores pontuais também contribuíram para o resultado do PIB, segundo o economista-chefe do Banco Original, Marco Caruso. “Houve um aumento expressivo nas importações dos Estados Unidos, o que contabilmente diminui esse indicador. Mas não é necessariamente um desdobramento negativo, mostra ainda uma economia pujante, que está demandando produtos de fora. Tivemos uma queda nos estoques, que são voláteis”, analisa.

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Mesmo com um número negativo, os Estados Unidos não dão sinais de recessão, de acordo com Caruso. Principalmente porque o desemprego está em níveis baixos, o número de pedidos iniciais de auxílio-desemprego caíram em 5.000, ficando em 180.000 na última semana de abril.

Sampaio lembra, ainda, que os indicadores de consumo das famílias e outros investimentos em capital fixo têm aumentado, o que deve contribuir para a alta do PIB no fim do ano. “Esses fatores afastam um cenário de estagflação. A expectativa é que a economia norte-americana cresça, mesmo que menos, por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia”, conclui.

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A projeção do FMI (Fundo Monetário Internacional) é de que o PIB dos Estados Unidos cresça 3,7%, acima da média global.

Efeitos para o Brasil

Como os EUA são uma das principais economias do mundo, dificilmente os indicadores norte-americanos deixam de impactar outros países. Por isso, uma possível desaceleração da economia do país pode afetar o Brasil. “Um PIB americano em queda puxa para baixo a economia global”, afirma Caruso.

“Temos que pensar, ainda, que a China, outro grande consumidor global, não serve de contrabalança para esse PIB, porque também está perdendo fôlego no seu crescimento. A situação desenha um PIB global mais fraco, inclusive para o Brasil, afetado via comércio internacional”, completa o economista.

Uma possível queda do PIB dos Estados Unidos e do restante do mundo mexeria com os mercados, porque os investidores tendem a priorizar países mais seguros. “Em um mundo em desaceleração, o fluxo de capitais e os investidores acabam sendo muito mais seletivos, eles olham mais para os países com economias e finanças nos trilhos. E os desafios afloram, principalmente para emergentes, como o Brasil, considerados locais com mais risco”, analisa Caruso.

Inflação e juros altos trazem alerta para o futuro

Segundo Caruso, a queda do PIB por si só não apresenta um risco para o mercado pujante dos Estados Unidos. Contudo, somado a um cenário de inflação alta e à necessidade do aumento dos juros para controlar os preços, é preciso ficar atento aos riscos no futuro. “A probabilidade de uma recessão, fazendo contas e usando modelos do próprio do Fed (Federal Reserve), pode estar perto dos 20% para daqui 12 a 18 meses”, afirma o economista.

“Não se vê sinais de crise. Mas essa é uma discussão que já está no mercado financeiro, que olha para os desafios de diminuir a inflação, que passou dos 8%, ficando bem longe do teto (2%). Isso exige uma considerável elevação dos juros, o que não se vê desde a crise do subprime em 2008, com essa taxa caminhando para 3%. Quando os juros americanos sobem muito rapidamente, as chances de recessão aumentam”, ressalta o economista.

O aumento desenfreado dos preços traz ainda mais um risco, “a economia pode entrar numa espiral de inflação e salários altos. A disparada dos bens e o pleno emprego traz salários cada vez mais altos. Para quebrar isso, o Fed vai ter que apertar os juros. A grande pergunta é: até onde vai essa taxa?”, complementa.

Além disso, ele observa que, historicamente, poucos ciclos acompanhados de aumento nas taxas de juros não resultaram em recessão, e que quando o desemprego está baixo, o desafio dos juros de segurar a inflação é maior.

*Estagiária do R7, sob supervisão de Ana Vinhas

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