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'Shopping é mais seguro que praia', diz associação de lojas sobre covid

Tito Bessa Júnior, da Ablos, alerta para demissões e afirma que negócios se prepararam contra doença, mas estão pagando conta

Economia|Pietro Otsuka, do R7

Tito Bessa Júnior, presidente da Ablos
Tito Bessa Júnior, presidente da Ablos

As novas restrições para o comércio de São Paulo vão "arrebentar" empregos e empresas pequenas e médias, afirma o presidente da Ablos (Associação Brasileira dos Lojistas Satélites), Tito Bessa Júnior.

Boa parte do Estado voltou para a fase vermelha do Plano São Paulo na última segunda-feira (25), que prevê o funcionamento apenas de serviços essenciais. Outras áreas, como a capital e a Baixada Santista, voltaram para a fase laranja, e lojas e shoppings passaram a fechar às 20h durante a semana e durante todo o dia aos sábados e domingos.

Para Bessa Júnior, as empresas vão dispensar no mínimo 10% dos funcionários, sendo que, se as restrições foram mantidas por um período maior, algumas irão fechar as portas. O empresário estima que o estado pode perder uma Ford por dia, em alusão ao fechamento das fábricas da montadora no Brasil, com a dispensa de 5 mil funcionários.

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Ele avalia que os shoppings se preparam para o combate à pandemia e realizam todas as medidas protocolares, como medição de temperatura, disponibilização de álcool em gel e distanciamento na praça de alimentação. Diz que os lojistas acabarão "pagando o preço" com as novas medidas, no entanto, enquanto aglomerações em outros locais, como praias, não são combatidas. 


Colapso hospitalar

O Governo do Estado e o Centro de Contingencia, por sua vez, avaliam que sem as medidas tomadas, mais restritivas e com o ritmo atual de crescimento de pacientes internados em UTI COVID, em menos de um mês haveria esgotamento dos leitos disponíveis em algumas regiões.

Conforme a gestão João Doria (PSDB), "são sete os indicadores analisados de forma combinada e com critérios coerentes para definir o retrocesso ou a progressão das regiões dentro do Plano SP".


"A Secretaria de Desenvolvimento Regional entende que colocar a vida de cidadãos em risco é falha grave. Mesmo com a pior crise de saúde, econômica e social do mundo, em São Paulo as decisões não seguem ordem política ou personalista", informou a pasta. "Todas as decisões são amparadas na ciência e na medicina."

Leia a integra da nota ao fim desta reportagem.


Confira os principais trechos da entrevista de Tito Bessa Júnior ao R7.

R7 - Qual o impacto dessas medidas mais recentes do governo de São Paulo nos serviços não essenciais, como shoppings, galerias e lojas de rua?

Tito Bessa Júnior - Vão arrebentar os empregos, as pequenas e médias empresas vão arrebentar, simples assim. Pegou dois dos meses mais fracos do ano, janeiro e fevereiro sempre foram meses complicados, mas é assim. Agora, o que ele fez no final do ano passado e no início deste ano, de fechar sábado e domingo, não resolveu. Está provado que fechar sábado e domingo não resolveu. Agora reduzir horário de funcionamento, diminuir circulação, isso resolve?

Cientificamente, os imunologistas falam, a propagação não é por conta de shopping, comércio, é por conta de balada, praia, aglomeração, o negócio está lá, não está no shopping. Por que vai punir o shopping? Por que vai arrebentar com o varejista? Como nós vamos pagar as contas? A gente já tem conta alta para pagar, já estamos enfrentando a resistência dos empreendedores de shopping, e agora do governo, como vai dar? A gente vai vender 40%, 50% do que se vendeu no ano passado, não tem auxilio do governo dessa vez, então você vai vender metade ou menos, você vai pagar o funcionário 100%, como vai fazer? Vai desempregar. Eu mesmo estou vendo para mandar gente embora, todo mundo está vendo. Ou fechar o estabelecimento. Não faz o menor sentido. “Ah vamos funcionar das 12h às 20h, das 14h às 22h no fim de semana”, mas agora fechar 100%? Não é no shopping. Fecha as praias, limita a praia, limita a balada, agora bater na gente, nós não somos o propagador, por que pagamos a conta?

R7 - Quanto o setor emprega no estado de São Paulo atualmente? Como é o cálculo para a conclusão de que se as medidas atuais forem mantidas São Paulo vai perder uma Ford por dia?

Júnior - O setor de shopping centers emprega 1,1 milhão de pessoas de forma direta. O estado de São Paulo representa 50%, 60% do número de shoppings centers que existem no Brasil. Então temos aí 600 mil empregos, cada emprego direto, ele é responsável por três ou quatro empregos indiretos, porque tem toda a estrutura por trás. Então nessa cadeia, nós estamos falando em 2 milhões, 2,5 milhões de empregos. Isso só em comércio de shopping, não estou colocando comércio de rua, salão de beleza e restaurante, mas é fácil chegar em uns 5 milhões de empregos no total. Você imagina quantos salões existem, restaurante, agência, turismo... Fechou tudo. Talvez até passe de 5 milhões. Se 10% dessas empresas não aguentarem, seja filial, numa cidade do interior, nesse esquema não aguenta, vai fechar. Eu tenho lá 6, 7 funcionários, uma parte vai perder o emprego, porque não vai mais ter o cara que limpa a loja, o outro que entrega tal coisa e assim por diante. É uma reação em cadeia. Se de 5 milhões, 10% perderem o emprego, são 500 mil. Nós estamos mexendo com o setor que mais emprega no país, é tudo em cadeia.

Isso é uma projeção realista, porque no mínimo as empresas vão ter que dispensar 10% dos funcionários, ninguém vai aguentar pagar. Fora a quebradeira, tem aqueles que vão aguentar com menos funcionários, mas tem aqueles que nem vão aguentar. Setor de bar e restaurante, não sei como esses caras vão aguentar.

O shopping tem 110 mil lojas no Brasil. São 40 mil, 50 mil lojas no Estado de São Paulo. O shopping hoje não representa a totalidade, o maior comércio está na rua, 80% está na rua, e a rua foi fechada também. A hora que você começa a botar na mesa, os números são astronômicos. A pergunta que eu faço é: quando fechou lá pós-Natal e no início de ano, qual foi o resultado? Aumentou o número de casos. Porque ele deu férias para todo mundo, todo mundo foi para a praia, foi para balada.

R7 - Na visão do senhor, por que o comércio tem "pagado a conta" no endurecimento das medidas sanitárias?

Júnior - Nós estamos pagando a conta. Dia 27 e 28, emendou final de semana, o funcionário saiu rindo porque foi à praia e voltou para trabalhar na segunda. E no outro final de semana foi à praia comemorar Ano Novo. Por que não fechou a praia? Por que não falou com os prefeitos? Você acha que o que está morrendo de gente agora é porque o cara foi ao shopping e pegou o vírus? Foi nada, foi todo mundo que foi para a praia, para a balada e trouxe o vírus, ninguém trouxe o vírus de dentro de loja, de shopping. Você escuta alguém falar que foi no salão de beleza e se contaminou? Não é nem 10%. Eu quero saber se a praia está fechada, pega o final de semana agora como tava e como vai ser o próximo. Pega lá quantas pessoas passaram no pedágio, quantos milhões de pessoas vão para a praia. Criou dois feriados prolongados (com as novas restrições ao fim de semana). E não vai resolver o problema do hospital, não vai diminuir a propagação. O shopping é mais seguro que a praia, se ele [funcionário] está trabalhando, ele está mais seguro que na praia.

R7 - Na visão do setor, há como manter os serviços não essenciais abertos e manter o distanciamento social pregado pelas autoridades sanitárias?

Júnior - Claro, por exemplo, você não entra no shopping sem medir a temperatura. Todos os shoppings têm álcool em gel nos corredores, nas lojas, se você andar sem máscara vem segurança na hora e manda colocar. Você só pode tirar a máscara para comer com distanciamento. O restaurante está respeitando o protocolo da distância. Se você pegar um sorvete, antes saía no corredor lambendo, hoje não pode. Tem que consumir no estabelecimento. A praça de alimentação está toda adequada para as distâncias conforme os protocolos, eu vi a declaração de vários imunologistas, não é o comércio, é a balada.

Aí [com as novas medidas] vai juntar todo esse pessoal que trabalha em shopping, para fazer pagode sábado à tarde, juntar um monte de gente sem máscara. Cada cidade tem que ser responsável, fecha a praia, faz o que for. Deixa todo mundo na capital trabalhando.

R7 - As lojas que não fecharem definitivamente vão para o mercado online, certo?

Júnior - Eu não tenho dúvida que vai ser isso. O online funciona muito bem quando tem o físico, o online e o físico são um conjunto. Pega aí o maior vendedor do online no Brasil: hoje é o Magazine Luiza, e tem o físico, suportando entrega. A única coisa que vai haver é que vai ter que ter uma readequação do custo desse físico. Hoje no shopping o custo é muito alto, então vai ter que ter uma readequação, se não a conta não vai fechar. E ainda mais com toda essa restrição. A rua vai ser protagonista, assim como o online.

R7 - Os empreendedores de shopping pressionam também os lojistas? Está havendo flexibilidade nas negociações?

Júnior - Alguns shoppings estão flexibilizando, mas existe uma boa parte que não flexibilizou nada, ainda existe uma pressão. Eles falam que flexibilizaram lá no passado, presidente da Abrasce fala de R$ 5 bilhões de renúncia. Ele não renunciou nada, não podia cobrar se as lojas estavam fechadas. Por lei você não pode cobrar, o contrato não foi cumprido, ele não entregou o objeto do contrato, então isso que ele fala é só para justificar as pressões que eles fazem hoje. Com as lojas fechadas, alterou-se o contrato, seja por pandemia seja por qualquer coisa, alterou. O objeto do contrato não é mais o mesmo. Você quando contratou uma loja dentro de um shopping, você contratou porque ali tem fluxo, se não tem fluxo por seja lá qualquer razão, e a lei diz isso, você tem que alterar o contrato, alterar a cobrança, essa é a luta, e acho que muitos não estão entendendo isso. Se eles renunciaram R$ 5 bilhões, o varejo deixou de vender R$ 60 bilhões.

R7 - Entrar na Justiça será o caminho para muitos lojistas? Como você enxerga isso? Vai haver uma chuva de processos?

Júnior - Olha, se as pessoas não aguentarem, se não chegarem a um acordo comercial que equilibre essa relação, só há um caminho, que é o Judiciário. O que a grande maioria está fazendo é esgotar, até onde dá, a negociação comercial, caso o contrário, entra na Justiça para se defender. As pessoas têm lá suas economias, investimentos, de anos. De repente a pessoa vendeu uma casa, um carro, para montar um negócio na esperança de ser algo lucrativo, de repente vem uma pandemia e você sofre essa pressão, não é justo que você seja tão penalizado.

Pelo IBGE, 99,1% do varejo é formado por pequenas e médias empresas. Então quem mais emprega nesse país é o pequeno. É o pequeno que está tomando a porrada, o grande está dando risada porque tem benefício no shopping. Para o grande, quanto mais o pequeno sofrer num shopping melhor fica para ele. Porque ele não tem o custo do pequeno, então quanto mais o pequeno sofrer, quanto mais loja fechar, mais vai sobrar pro grande, isso é injusto, os empreendedores criaram uma grande armadilha, beneficiaram tanto os grandes, que agora não sabem como fazer, porque nunca foi o grande que deu a maior rentabilidade, sempre foi o pequeno que sempre deu a maior rentabilidade da locação, por isso que eles gostam de negociar individual, para pressionar.

Nota do Governo de SP

Na última reclassificação do Plano São Paulo, o Governo do Estado e o Centro de Contingencia avaliaram que sem as medidas que estavam sendo tomadas, mais restritivas e com o ritmo atual de crescimento de pacientes internados em UTI COVID, em menos de um mês haveria esgotamento dos leitos disponíveis em algumas regiões. São sete os indicadores analisados de forma combinada e com critérios coerentes para definir o retrocesso ou a progressão das regiões dentro do Plano SP.

Vale alertar que todas as regiões com capacidade hospitalar em UTI acima de 75% estão inclusas na fase mais restritiva do Plano, com funcionamento apenas das atividades essenciais e isso representa 22% da população de São Paulo. Os outros 78% da população tem restrições apenas de horário e capacidade de atendimento reduzida, caso da fase laranja, onde funcionam academias, salões de beleza, restaurantes, cinemas, teatros, shoppings, concessionárias, escritórios e parques por até oito horas diárias, com atendimento presencial limitado a 40% da capacidade, protocolos sanitários e encerramento de funcionamento às 20h, retomando às 6h. Os finais de semana são permitidos apenas serviços essenciais em todo o estado.

A Secretaria de Desenvolvimento Regional entende que colocar a vida de cidadãos em risco é falha grave. Mesmo com a pior crise de saúde, econômica e social do mundo, em São Paulo as decisões não seguem ordem política ou personalista. Todas as decisões são amparadas na ciência e na medicina. O Plano SP é um instrumento que permite endurecer as medidas quando necessário e flexibilizar quando possível. O momento é delicado e salvar vidas depende da responsabilidade de todos os órgãos, agentes públicos e também da sociedade. Em paralelo, o Estado tem trabalhado no aumento da capacidade hospitalar garantindo que nenhum cidadão fique sem atendimento.

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