Startups têm forte crescimento e influenciam empresas brasileiras
Casos de sucesso como o Nubank, que recebeu investimento de U$ 150 milhões, inspiram empreendedores e novos negócios
Economia|Karla Dunder, do R7
Os números mostram que as startups não param de crescer e já influenciam as grandes corporações. Dados da Associação Brasileira de Startups (ABS) revelam que hoje são 4.200 empresas — em 2012 eram 2519 — e mais de 62 mil empreendedores de todos os estados.
“De 2011 para cá, o mercado passou por um momento de amadurecimento e creio que hoje conseguiu se consolidar, atraindo mais investidores”, avalia o diretor executivo da ABS, Rafael Ribeiro.
E os números são bem expressivos quando o assunto é investimento. A fintech (empresa do setor financeiro que faz uso de novas tecnologias) brasileira Nubank acaba de captar US$ 150 milhões e já acumula US$ 330 milhões em investimentos desde que foi fundada, em 2013.
A Nubank é um caso de sucesso no setor. Em 2014 lançou seu primeiro produto, um cartão de crédito sem anuidade que é gerenciado inteiramente por um aplicativo para celular. Atualmente, mais de 13 milhões de pessoas já pediram o cartão e a empresa tem mais de 3 milhões de clientes.
Outro case é a Cabify, empresa no setor de mobilidade que conecta diretamente usuários e motoristas por meio de aplicativo. “Contamos com 250 funcionários diretos no Brasil, são 1800 em todo o mundo, sendo que 75% deles estão na América Latina. Já investimos dezenas de milhões de reais no país e o último aporte feito para este ano é de US$ 200 milhões”, afirma Daniel Velazco-Bedoya, COO (Chief Operations Office) global da Cabify. Hoje a frota estimada é de 200 mil motoristas.
“Os empreendedores estão mais maduros e mais especializados. Não basta ter investimento, é preciso saber administrar para crescer”, observa Ribeiro, da ABS.
Longe da bolha
Muito se fala de startups, mas, na prática, o que são? Ao pé da letra são empresas jovens, com ideias inovadoras e que usam a tecnologia para colocar um projeto em ação. “Não é uma bolha, ao contrário, esse é um fenômeno mundial que cresce a cada ano porque hoje a tecnologia é mais simples de usar e muito acessível”, avalia o professor da Fundação Getúlio Vargas, Newton Campos.
Para Campos, também existe uma demanda por inovação.
“Todo o empreendedorismo envolvido nas startups começa com uma ideia ou uma proposta que busca soluções para consumidores.” Outra vantagem é o baixo custo para implantação dessas empresas.
Guilherme Fowler, professor da Cátedra Endeavor Insper, observa que há dois perfis diferentes de empreendedores. “Temos aquele que embarca nesse universo por necessidade, muitas pessoas que perderam o emprego e decidiram investir, e tem um outro grupo, aquele que avalia as oportunidades de negócio”.
Aqueles que seguem as oportunidades, na visão de Fowler, são apaixonados pelo que fazem, perseguem sonhos. “A tecnologia permite que uma boa ideia seja implantada e os bons resultados atraem investidores".
O lado ruim é que as startups acabam sendo uma alternativa para o desemprego. “Como a economia não tem acelerado tão rápido, vemos um número maior de pessoas empreendendo, mas é preciso ter cautela, buscar informação sobre o mercado, sobre gestão e saber administrar os recursos. É preciso se dedicar ao assunto e aprender sobre gestão para não ter problemas a longo prazo".
Para Ribeiro, da ABS, os conceitos de administração devem estar claros para os empreendedores. “Que adianta ter uma boa ideia, um investidor e não saber usar esses recursos? É preciso ter conhecimento e se espelhar nos cases de sucesso".
Daniel Velazco-Bedoya, da Cabify, aconselha: “É importante ter o pé no chão. Entender o mercado, buscar a profissionalização”, diz. “Tocar uma empresa é algo complexo, mas o fundamental é ter uma equipe de colaboradores engajados, que abracem a causa e façam acontecer".
Tendências
Na avaliação de Fowler, as startups, num primeiro momento, nasceram com foco em soluções para o consumidor. “Quem está chegando agora ao mercado tem um perfil um pouco diferente. Elas buscam soluções eficientes para as grandes empresas. Em um momento de crise, as corporações tendem a buscar alternativas mais baratas e as startups cumprem esse papel".
A Apponte, que nasceu em novembro de 2017, é um exemplo. O aplicativo brasileiro conecta empresas e profissionais por meio de cruzamento de afinidades entre empregadores e candidatos, como ocorre nas redes sociais.
O aplicativo surgiu da necessidade de filtrar os currículos que chegam até as empresas. “Recebíamos muitos e-mails e muitas vezes com o perfil diferente daquele que precisávamos. Decidimos criar um aplicativo que use algoritmos, conectando pessoas e empresas em um match perfeito”, diz o CEO Marcelo Haegenbeek.
Uma das vantagens, segundo Haegenbeek, é agilizar o processo de contratação. “Otimizamos o caminho entre o candidato e as empresas, reduzindo tempo e custo”. Entre os sócios e investidores estão dois ex-excutivos do Itaú Unibanco: Zeca Rudge, que foi vice-presidente de Marketing, Pessoas, Eficiência, Compras e Patrimônio e Daniel Gleizer, que atuou à frente da vice-presidência da tesouraria institucional do banco.
“As grandes corporações já perceberam que é necessário investir em inovação e tecnologia, assim, começam a abrir as suas portas para as startups, criando programas próprios de aceleração”, avalia Rafael Ribeiro da ABS.
Entre os projetos a que se fere, está o Cubo do Itaú, um importante centro de empreendedorismo tecnológico. A proposta é reunir em um só lugar empreendedores, investidores, universidades e grandes empresas.
Na mesma linha, o Bradesco lançou em fevereiro o inovaBra, um espaço de coinovação dedicado à geração de negócios de alto impacto baseados em tecnologias digitais.