Trabalhadoras domésticas: maioria tem até 30 anos, se orgulha do que faz, mas trocaria de profissão
Até junho, 5,9 milhões de brasileiros exerciam atividades de limpeza; queixa é de pouco reconhecimento social e financeiro
Economia|Do R7
Oitenta e sete por cento dos quase 6 milhões de trabalhadoras domésticas em atividade no Brasil (até junho) dizem que, apesar de não se sentirem reconhecidos social e economicamente, sentem orgulho do que fazem. Para 86%, o que motiva esse sentimento é entender que seu trabalho é digno e importante como qualquer outro e empoderar-se, pela aquisição do próprio dinheiro. Mesmo assim, 85% delas afirmam que, se pudessem, mudariam de profissão.
Os dados, que permitem conhecer mais a fundo quem cuida da limpeza de casas e escritórios, fazem parte de um estudo da Reckitt Hygiene Comercial, dona da marca de produtos Veja, em parceria com a Plano CDE, empresa de pesquisa e avaliação de impacto, especializada em famílias das classes C, D e E. O objetivo era traçar o perfil da trabalhadora doméstica no Brasil.
No trimestre encerrado em junho, o número de trabalhadores domésticos subiu 4,4% em relação ao trimestre anterior, ou seja, houve um acréscimo de 248 mil profissionais no mercado. No ano, houve um aumento de 19,4%, com mais 950 mil pessoas trabalhando no setor, segundo informações da PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) divulgadas no fim de julho pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O trabalho doméstico é o segundo setor que mais emprega mulheres no país, ficando atrás apenas do comércio. Apesar de esse ser um serviço essencial na rotina das famílias e trabalhadores, profissionais afirmam que sua atividade não é reconhecida como economicamente relevante pela sociedade.
Além disso, a pesquisa sobre o perfil das trabalhadoras mostra que a maior parte da categoria é composta de jovens de até 30 anos de idade, sendo que o grupo das mensalistas tem maior quantidade de profissionais mais jovens (57%) em comparação com a turma das diaristas (46%). Elas também têm filhos menores de idade (67% das diaristas e 58% das mensalistas) e estão em algum tipo de relacionamento afetivo: são casadas ou estão em uma união estável (49% das diaristas e 47% das mensalistas).
Quanto à autoimagem e à identidade étnica, 53% das mensalistas e 37% das diaristas dizem que se consideram pardas, enquanto 35% e 27% das respectivas divisões afirmam ser brancas.
Mais oportunidades
A contradição entre o sentimento de orgulho pelo trabalho realizado e a sensação de desvalorização e menosprezo não é o que desperta o desejo de 85% das entrevistadas de trocar de profissão.
Entre os principais motivos estão a busca por uma rotina mais tranquila (38%), uma remuneração mais alta (27%) e a possibilidade de retomar os estudos (18%).
Para Fernando Gama, diretor de marketing de Veja, conhecer o perfil dessa classe é essencial para a promoção de uma sociedade mais justa. “A invisibilidade e o problema social enfrentado pelas trabalhadoras domésticas precisam ganhar destaque na nossa sociedade. Por isso, conhecê-las, compreendê-las e apoiá-las é um passo importante para promovermos mais ações de empoderamento e profissionalização”, completa.
Dificuldades na pandemia
A pandemia da Covid-19 teve um grande impacto nas vidas financeira, social e emocional das trabalhadoras domésticas: mais de 60% das diaristas foram demitidas na pandemia, e 20% delas contam que, antes de perderem o emprego, tiveram seus salários reduzidos. As mensalistas relatam situação semelhante.
Em média, 41,5% das entrevistadas passaram a trabalhar nessa profissão há menos de um ano, ou seja, após o início da pandemia; dessas, 23% atuavam em outras profissões.