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Educação

Brasileiros preferem cursos online para qualificação profissional, aponta pesquisa

Estudo Skills Outlook Employee View mostra que 80% optam por aprendizados virtuais de curta duração

Educação|Agência Brasil

Notebook e celular são aliados ao fazer cursos a distância
Notebook e celular são aliados ao fazer cursos a distância

A pesquisa Skills Outlook Employee View, divulgada na última segunda-feira (24) no Brasil, aponta que cursos online são para os brasileiros a melhor maneira de se qualificar para o mercado de trabalho. Mais de 80% preferem cursos virtuais, de curta duração.

Realizada pela Pearson em parceria com o Google, a pesquisa ouviu 4 mil trabalhadores do Brasil, da Índia, do Reino Unido e dos Estados Unidos, entre agosto e setembro do ano passado, sendo mil de cada país, e foi divulgada globalmente no dia 20 de abril.

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Embora a educação formal ainda seja valorizada pelos trabalhadores no Brasil, a pesquisa identificou que mais de 40% acreditam na possibilidade de construir uma carreira de sucesso sem um curso universitário, contra 34% que preferem uma formação formal em uma universidade ou um treinamento longo para aprender novas habilidades. Vinte e dois por cento optam por se capacitar por meio de sites e aplicativos online.

O diretor de Produto da Pearson, Eduardo Leite, disse à Agência Brasil que, embora esteja se tornando mais parecido com os outros países, o Brasil apresenta algumas peculiaridades. “Os brasileiros têm uma urgência maior no entendimento de que precisam de qualificações constantes. O Brasil tem esse destaque. Entende que precisa se qualificar mais para se manter relevante no mercado de trabalho e conseguir alçar melhores posições dentro das suas carreiras", disse ele.


Esse nível de urgência é comparado somente ao da Índia. O Brasil é também um país onde se vê um crescimento maior de pessoas que entendem que conseguem ter uma boa carreira sem educação formal. “Essa é uma mudança bastante grande que se vê nos últimos anos”, salientou Leite.

Habilidades

A sondagem revela que o trabalhador brasileiro continua muito focado em soft skills (habilidades brandas). “Eu diria que o Brasil é um dos países que mais têm interesse em desenvolver essas soft skills e não apenas hard skills [habilidades técnicas].”


A sondagem aponta que as seis habilidades consideradas mais importantes pelos brasileiros são trabalho em equipe, liderança, habilidades linguísticas, tomada de decisão, comunicação e agilidade. Sugere, porém, que, no período de cinco a dez anos, as hard skills focadas em tecnologia serão consideradas as mais necessárias.

Outro ponto que é bastante forte no Brasil em comparação aos Estados Unidos e Reino Unido, e mesmo aos países que não são de língua inglesa, é que há aqui interesse e necessidade grandes em desenvolver um novo idioma.

“A habilidade que as pessoas têm mais interesse em procurar desenvolver para o futuro é em idiomas, principalmente inglês, porque elas entendem que isso vai ampliar as possibilidades de empregabilidade, especialmente em carreiras de tecnologia em que as pessoas estão conseguindo empregos fora, ou em multinacionais, inclusive com remuneração em moeda estrangeira. Essa é uma diferença quando se compara com países que tem o inglês como língua nativa”, destacou o diretor.

Outro destaque percebido no Brasil é que os trabalhadores procuram flexibilidade, por questões de mobilidade e do tempo gasto no transporte. Por isso, optam por formas de aprender que flexíveis, para poder estudar no seu próprio ritmo ou em momentos diversos. Essa é uma tendência em expansão no Brasil.

Aplicativos e plataformas online estão entre as formas preferidas de aprendizagem. Os cursos rápidos e treinamentos intensivos online aparecem, ao lado do diploma universitário, entre as melhores formas para avançar na carreira, apontaram os brasileiros entrevistados.

Eduardo Leite acentuou que, na pré-pandemia da Covid-19, o Brasil mantinha certo preconceito, até mesmo uma rejeição maior, em relação à aprendizagem online. Hoje, entretanto, no pós-pandemia, o brasileiro já aceita a aprendizagem virtual como uma forma de impulsionar a carreira. Nisso o Brasil já está muito parecido com os demais países.

“Hoje, existe maior abertura para formatos online remoto ou híbrido. Atualmente, tem mais aceitação para os dois modelos. O Brasil vem se aproximando cada vez mais de outros países que já têm o modelo online mais maduro.”

Continuidade

Oitenta e cinco por cento dos trabalhadores brasileiros têm expectativa de continuar aprendendo ao longo da carreira e, para 83%, certificações, cursos de curta duração e bootcamps (ensino imersivo e intensivo) estão entre os preferidos para seu desenvolvimento profissional.

Mais de 80% dos consultados defendem que as universidades devem se envolver mais na oferta de programas não formais para trabalhadores. Outra especificidade apontada pela pesquisa no Brasil é o interesse cada vez maior por microcredenciais, ou uma constante forma de aprendizagem.

Notebook é instrumento usado no aprendizado de línguas, foco dos brasileiros
Notebook é instrumento usado no aprendizado de línguas, foco dos brasileiros

Há interesse grande no Brasil de as pessoas terem as próximas formações vinculadas com a empresa ou local onde estão trabalhando. Muitas vezes, quando a organização ou instituição oferece para o colaborador essa formação, ela é bem específica e condiz com uma nova posição ou cargo dentro da empresa, então há um interesse mútuo. A empresa tem um benefício porque seu funcionário vai desenvolver uma habilidade, e o trabalhador também satisfaz uma necessidade que a empresa mapeou para ele progredir na carreira.

Outra informação que chama a atenção é que a liderança aparece como algo que as pessoas estão desenvolvendo agora e têm interesse em desenvolver. Ele destacou que as as pessoas buscam ser um líder melhor, ainda mais agora, com novas tecnologias, e cada vez mais as pessoas estão entendendo a importância das relações humanas e, também, a colaboração entre os próprios trabalhadores.

Educação

O diretor da Fundação Getulio Vargas Social (FGV Social), Marcelo Néri, destacou, em entrevista à Agência Brasil, que apesar de ter havido uma evolução, a média de anos de estudo do brasileiro ainda é baixa. Em 1980, eram três anos. “Hoje, estamos em dez anos, o que ainda é pouco, em média, por adulto, e, apesar desse salto de educação, a inclusão produtiva, ou seja, a produtividade do trabalhador brasileiro, ficou parada nesse período”, observou ele.

Néri disse que a expectativa de vida do brasileiro aumentou bastante, e estudos mostram que a educação pode ter ajudado para isso, mas não impactou na produtividade do trabalho, que é alguma coisa mais direta. O diretor da FGV Social ponderou que até a maior expectativa de vida cria essa necessidade de aprendizados durante toda a vida, onde esse tipo de curso online se insere.

As pessoas percebem que precisam de algo a mais para se inserir melhor no mercado de trabalho. O ensino formal no Brasil, pelo menos em nível de ensino médio, que é uma etapa importante, era muito desfocado, ou seja, o aluno aprendia várias disciplinas, mas nenhuma delas especializava, com pouco impacto sobre o mercado de trabalho.

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Quando se pergunta para os adolescentes que deveriam estar no ensino médio o motivo da evasão, 42% disseram que era por falta de interesse, e 27% por falta de renda, porque tinham que trabalhar. “De fato, existe um grande potencial para você fornecer cursos que atendam a demandas específicas dos trabalhadores, em diferentes momentos de sua carreira e, de outro, que impactem mais no mercado de trabalho.”

Marcelo Néri lembrou que a pandemia da Covid-19 trouxe mudança no sentido de levar as atividades também para o mundo digital, desde o ensino ao mercado de trabalho. “Então, é natural que aumentem o grau de interesse e a demanda e a oferta também de cursos online.” Ele observou, no entanto, que o fato de haver uma demanda não significa que você está empoderando as pessoas no mercado de trabalho.

Cursos profissionalizantes

Segundo Néri, por outro lado, não há no Brasil uma tradição de cursos profissionalizantes. Tem algumas instituições de excelência, como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), mas não atendem na escala do problema. Pesquisas realizadas pela FGV Social sobre cursos profissionalizantes em geral viram que, quanto mais alto o nível do curso tecnológico, por exemplo, curso universitário de curta duração, o impacto é maior.

“O ganho que a pessoa tem ao fazer o curso é maior do que, por exemplo, para quem fez ensino médio profissionalizante ou curso de qualificação profissional mais básico. Quanto maior a escala na hierarquia de cursos, maior tende a ser o efeito.”

Néri também destacou os ganhos decorrentes dos cursos profissionalizantes: “A ocupação sobe 8% e o salário tende a subir 15% [em média] quando a pessoa faz esses cursos. A gente não achou um grande efeito em relação a cursos diurnos ou noturnos, presenciais ou digitais. Hoje em dia, a pandemia gerou uma grande mudança em vários aspectos da vida das pessoas”.

Cursos online têm uma vantagem pois se adequam mais ao tempo das pessoas, embora um curso presencial, com a interação com os colegas e professores ao vivo, tenha as suas vantagens. “Eu diria que um curso híbrido talvez seja uma solução a esses cursos puramente digitais, embora reconheça que são mais complexos e caros esses cursos que têm um lado presencial”, afirmou o diretor da FGV Social.

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