Enem: corretores da redação do exame acusam FGV de calote e exigem pagamento
Professores entregaram as provas corrigidas em janeiro, mas ainda não receberam previsão de quando o dinheiro será liberado
Educação|Vivian Masutti, do R7
Professores de todo o Brasil contratados pela Fundação Getulio Vargas (FGV), sob a supervisão do Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), para corrigir as redações do Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio, ainda não receberam o pagamento pelo serviço, realizado entre dezembro e janeiro deste ano.
Cada corretor pode corrigir de cem a 200 redações por dia e recebe R$ 3 por cada uma delas, valor que não é reajustado há anos. O trabalho é descrito como exaustivo, já que os corretores passam dia e noite na função.
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“Sabemos da responsabilidade que temos. Passamos por uma seleção rigorosa, cumprimos todos os prazos que pedem”, diz uma corretora, que conversou com a reportagem sob condição de anonimato. Todos os professores assinaram um termo de sigilo ao serem contratados.
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O Enem é hoje a principal prova para os estudantes que querem entrar em uma universidade no país. Em 2022, 3,4 milhões de estudantes se inscreveram no exame.
Grupos aos quais a reportagem obteve acesso afirmam que os profissionais deveriam ter recebido o dinheiro até o dia 30 de março, mas até agora ele não foi liberado. Muitos dos contatos feitos por email ou telefone com a fundação não foram respondidos.
Em outros, a FGV se limita a dizer que não fornece informações sobre pagamentos ou que não tem acesso ao "setor" responsável.
“É uma situação que já ultrapassou os limites”, afirma outra corretora.
Os posts mais recentes do perfil da FGV no Instagram estão repletos de mensagens com a hashtag #FGVcaloteira. O mesmo acontece na conta do Inep na rede social. Foi a maneira que os corretores encontraram de divulgar o problema.
“Os avaliadores do Enem prestaram um serviço de excelência e entregaram seus serviços no prazo. Façam a parte de vocês e paguem os colaboradores”, diz um deles. “VERGONHA, FGV, o que vocês estão fazendo é uma vergonha! Não respondem em nenhum dos canais e até hoje não pagaram os corretores do Enem. Que situação absurda e feia para uma instituição como vocês, sinceramente…”, afirma outro.
Ao R7, a FGV informou, por meio de nota, que o processo de correção das redações ainda não terminou. “Haverá a etapa de consolidação de dados, conferindo-se, com indispensável minúcia, o número de redações corrigidas por colaborador”, diz trecho.
Mas a instituição admite problemas que incluem o processo de transição presidencial: “Em relação ao Enem 2022, a troca de governos causou pequeno, mas incontornável, reflexo no cronograma de conclusão do processamento do exame”.
Procurado pela reportagem, o Inep afirmou que a seleção e o pagamento da equipe de correções do Enem são de responsabilidade da FGV, instituição que faz parte do consórcio aplicador da edição.
O instituto informou que entrou em contato com a fundação para obter esclarecimentos sobre o serviço, assim como a respeito da previsão de pagamentos dos profissionais contratados, e aguarda uma resposta.
Questionada pelo R7 sobre o contato feito pelo Inep e sobre essa previsão de pagamento, a FGV não retornou até a publicação desta reportagem.
O atraso nos pagamentos não é uma novidade. Profissionais que participaram da correção em anos anteriores também relataram demora para receber. Em 2022, o atraso foi de um mês. Mas, segundo eles, o pagamento nunca passou de abril.
Saiba quem corrige o Enem
Os profissionais contratados pela FGV para a correção do Enem passam por um processo rigoroso de seleção. É obrigatório ter cursado letras, com habilitação em língua portuguesa ou linguística. Quem tem cônjuge, pais, filhos, dependentes legais ou qualquer outro parente de primeiro grau inscrito no exame não pode participar.
As inscrições são feitas anualmente, no site da fundação. Os classificados devem se submeter a um curso de capacitação online com duração de quase cem horas. Depois, é preciso participar de um novo curso, desta vez presencial.
“Mesmo quem já corrige regularmente, como é o meu caso, que estou na banca de correções há quatro anos, deve passar por isso anualmente. No fim, ainda temos que corrigir 50 redações teste sem nenhuma remuneração”, afirma uma profissional.
“Tudo isso para resumir um processo longo e exigente, em que nosso trabalho, durante meses, não é remunerado até chegar efetivamente às correções do Enem”, completa a professora.
Cerca de 5.000 corretores são convocados todos os anos. Eles avaliam cinco competências: domínio da norma-padrão da língua portuguesa, compreensão da proposta da redação, seleção e organização das informações, boa argumentação de texto e elaboração de solução para os problemas abordados.
A cartilha com os critérios de redação do Enem está no site do Inep desde 2020, quando foi liberada ao público para ajudar na preparação dos alunos em meio à pandemia de Covid-19.