Especialistas veem falhas no combate ao bullying
Escolas têm obrigação de prevenir prática entre alunos
Educação|Do R7
A ação violenta do adolescente que atirou contra colegas de sala no Colégio Goyases, em Goiânia, na manhã de sexta-feira (20), põe em debate, segundo especialistas, a fragilidade do combate ao bullying nas escolas.
Analistas ainda destacam que ações extremadas, como a registrada na escola, podem ter como origem uma série de fatores — e não apenas as agressões sofridas pelo adolescente.
"A maioria das escolas, tanto públicas como privadas, ainda tem um ambiente hostil e violento. Em geral, elas acreditam que os casos podem ser resolvidos apenas com conversas pontuais ou continuam na negação do problema", diz Ana Paula Lazzareschi, advogada especialista no tema.
Para ela, colégios têm o dever de implementar programas efetivos de combate ao bullying e podem até ser processadas caso não comprovem as ações.
O bullying é caracterizado como ato de violência física ou psicológica que acontece de forma intencional e repetitiva. A intimidação normalmente se dá de forma velada.
Desde fevereiro do ano passado, uma lei federal estabelece como responsabilidade das escolas a promoção de medidas de conscientização, prevenção, diagnóstico e combate ao bullying.
"Ele [bullying] ocorre no parque, nas imediações da escola, no recreio. Em sala de aula, vai acontecer quando o professor está de costas ou dando atendimento individual a algum aluno. Por isso, é preciso um olhar atento às pistas que os alunos dão", diz a psicóloga Luciana Lapa, orientadora da Escola Stance Dual, em São Paulo, e pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (Gepem) das Universidades Estaduais de Campinas (Unicamp) e Paulista (Unesp).
Para Luciana, atitudes violentas podem ser resultado de vários fatores.
"A experiência do bullying, o sofrimento prolongado, a falta de ajuda podem resultar em uma ação violenta. Nunca se sabe qual é a personalidade da vítima, sua situação familiar e se há problemas psiquiátricos."
Realengo
Palco de um dos episódios que teriam inspirado o adolescente de 14 anos a atirar contra os colegas em Goiânia, a Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, localizada na zona oeste do Rio, teve uma programação especial ontem: atividades sobre a importância da paz e o combate ao bullying. Mas foi mera coincidência.
A abordagem desse tema já estava prevista havia dias, contaram os alunos, e não se deveu ao ocorrido em Goiânia. O ataque de ontem não foi mencionado durante as atividades, e boa parte dos alunos soube do episódio apenas depois da aula.
Em 7 de abril de 2011, Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, entrou no local e, com dois revólveres, matou 12 adolescentes e feriu outros 13. Depois do caso, a Tasso da Silveira foi reformada e a entrada mudou de lado, passando para outra rua. Ganhou um moderno sistema de câmeras de segurança e hoje tem um guarda municipal permanentemente na portaria, que fica fechada.
A maioria dos alunos e professores que estuda hoje na unidade não estava lá no dia do episódio. A única referência que têm dele é um memorial criado em uma esquina da escola - uma praça ornamentada com estátuas dos adolescentes mortos. “Não consigo falar daquele dia sem começar a chorar”, conta o carteiro Hercilei Antunes, de 51 anos, que mora em frente à antiga entrada da escola.