Educação 'Vale muito a pena': brasileiros realizam sonho ao usar nota do Enem para estudar no exterior

'Vale muito a pena': brasileiros realizam sonho ao usar nota do Enem para estudar no exterior

Alunos interessados podem aplicar para 51 universidades portuguesas e mais oito instituições com convênio com o Inep

  • Educação | Agência Brasil

Resumindo a Notícia

  • Ter planejamento financeiro e aplicar para programas de bolsa são pontos importantes.
  • Universidades de língua inglesa costumam considerar outras atividades além da nota.
  • Estudante destaca ter cuidado especial com a mente para tolerar a rotina puxada.
Estudantes se abraçam antes da edição de 2022 do Enem

Estudantes se abraçam antes da edição de 2022 do Enem

Edu Garcia/R7 - 13.11.2022

“Eu passei duas semanas de muito nervosismo na espera do resultado e, por fim, estava lá meu nome, uma mistura de felicidade e ansiedade que nada pode descrever.”

Foi um longo processo, que envolveu preparo, inscrição e levantamento de documentos para a obtenção de visto, para que a estudante Giulia Borim pudesse finalmente ingressar na Universidade de Coimbra, em Portugal, usando a nota do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Mas, segundo ela, todo o planejamento valeu a pena.

Clique aqui e receba as notícias do R7 no seu Whatsapp
Compartilhe esta notícia pelo WhatsApp
Compartilhe esta notícia pelo Telegram

“Viver essa experiência, independentemente da ansiedade, foi uma das melhores escolhas que fiz. Depois de muitos e muitos documentos, chega o grande dia de viajar e começar a aventura mais louca e incrível de todas”, conta a estudante, que está no terceiro ano do curso de engenharia civil.

Localizada na cidade de Coimbra, em Portugal, a universidade é a instituição de ensino superior mais antiga do país e uma das mais prestigiadas da Europa.

Em 2013, foi incluída na lista do Patrimônio Mundial da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Foi também a primeira universidade estrangeira a firmar convênio com o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) para o uso das notas do Enem no processo seletivo. Atualmente essa lista conta com 51 universidades portuguesas. A relação completa está disponível na página do Inep.

Cada uma delas tem uma exigência específica em relação à nota que deve ser obtida nas provas e em relação aos requisitos necessários para os novos alunos. O estudante deve se informar sobre o que é necessário para ingressar na universidade que deseja. O ensino não é gratuito, mas é possível buscar bolsas de estudo para ajudar nos custos.

Quem passou e está passando pela experiência de estudar fora recomenda: é importante planejar e se preparar para as provas para obter bom desempenho.

Giulia é de Campinas (SP) e cursou o terceiro ano do ensino médio em meio à pandemia. "Isso dificultou muitas coisas, porém consegui conciliar tudo e estudar em casa sozinha mesmo. Devido à minha condição financeira na época, não pude pagar cursinho, então achei no YouTube um cursinho gratuito, de professores da cidade de São Carlos que queriam ajudar, e me inscrevi. Fui aceita e estudei por um ano inteiro, todos os dias, fazendo resumos e assistindo às aulas. Minha média diária de estudo era de 11 horas nos dias de semana", conta a estudante.

Uma estratégia usada por ela foi colar post-its nos locais onde mais ia na casa, com fórmulas, datas e informações importantes. "Ou seja, sempre que ia à cozinha fazer um café, eu lia as datas das guerras, por exemplo."

Ela também recomenda cuidado com o corpo. "Eu treinava todos os dias uma hora, dentro de casa mesmo, com vídeos do YouTube também, alternando dança e musculação, entre outros. Ter esse escape me ajudou muito. Se você tem algum hobby, não o abandone pelo Enem, ele vai te ajudar, acredite."

Um sonho realizado

Para o estudante Mateus Nishiyama, estudar fora do país era um sonho. "Sempre tive muito interesse em abrir esses horizontes, descobrir um lugar novo, uma cultura nova, ter essa experiência de morar e estudar fora do país."

Nishiyama nasceu no Japão e viveu lá até os quatro anos de idade. Como a família é metade brasileira, ele se mudou para Aquidauana (MS), onde estudou até ser aprovado na Universidade de Coimbra, no curso de relações internacionais. 

Assim como Giulia Borim, Nishiyama fez o Enem em meio à pandemia, em 2021. Ele também buscou na internet a complementação para os estudos. Fez o ensino médio no Instituto Federal de Mato Grosso do Sul e, para se preparar para o Enem, buscou um curso de redação, prova que considera o diferencial.

Apesar de toda a ansiedade, ele conta que a vontade de estudar fora foi o que o motivou. “De certo modo, é um combustível para ajudar nesse caminho, que nem sempre é fácil, sempre tem esse momento de ansiedade, de dúvida”, diz.

Ele também recomenda muito planejamento. "Seja o planejamento com o estudo, seja do que quer fazer, seja o planejamento financeiro para quando for mudar. Isso é muito importante para se colocar na realidade a respeito das oportunidades e das possibilidades. O que quer fazer, o que pode fazer e quais são as suas opções. Saber, de forma mais prática, qual custo de vida para se mudar, quais as opções de curso, quais os documentos de que preciso."

Os estudantes contam que tiveram muito apoio da universidade no processo seletivo e também no processo de adaptação, quando chegaram a Coimbra.

Planejamento

Estudar fora do país, de acordo com Beatriz Alvarenga, especialista em estudos internacionais da Fundação Estudar, exige um planejamento de longo prazo.

"Meu sonho é que um aluno do nono ano saiba que pode pensar em fazer graduação fora. Não precisa decidir para qual universidade quer ir, mas precisa saber que há essa possibilidade."

Beatriz explica que muitas das instituições de ensino, sobretudo as de língua inglesa, analisam uma série de aspectos do aluno na hora da admissão na graduação.

Contam, por exemplo, as atividades extra classe que ele realizou ao longo do período escolar, se ganhou ou não algum prêmio. As notas no Enem e o desempenho em todo o ensino médio são apenas alguns dos aspectos analisados. Assim, quanto antes o estudante começar a se preparar, mais chances tem de ser aceito.

Além disso, como as universidades são pagas, é preciso um planejamento financeiro, além de dominar o idioma. É essencial também levar em consideração aspectos emocionais: “Tem o desafio do autoconhecimento, que a gente não trabalha como deveria. Entender para onde quer ir e que é onde vai morar pelos próximos três, quatro anos. Isso é fundamental para a saúde mental enquanto estiver fazendo graduação”.

Ela explica que o convênio das universidades portuguesas com o Inep ajuda na hora da seleção. Além de a língua não ser uma barreira, o processo seletivo tende a ser mais simples, considerando basicamente o desempenho no Enem. A questão do custo, no entanto, ainda é uma barreira, já que Portugal não tem a oferta de bolsas como uma política, assim como o governo brasileiro. O estudante precisa então verificar se a universidade na qual deseja estudar oferece bolsas ou buscar por conta própria.

A Fundação Estudar está com dois processos seletivos abertos, o programa Líderes Estudar e o Tech Fellow, voltado para a área de tecnologia. As inscrições podem ser feitas até abril de 2024, e o estudante precisa ser aprovado até maio na instituição que deseja cursar. As bolsas chegam a arcar com 95% dos custos. 

Além das universidades que têm convênio com o Inep, outras instituições no mundo aceitam o Enem como parte do processo seletivo. São elas:

• Na Irlanda, a University College Dublin e o National College of Ireland
• No Reino Unido, a Universidade de Kingston, a Universidade de Glasgow e a de Birkbeck
• Nos Estados Unidos, a New York University e a Northeastern University
• No Canadá, a Universidade de Toronto

VEJA: Enem: inteligência artificial e desafios do SUS podem ser tema da redação deste ano

x

Últimas