Estudantes de escola pública participam de competição nos EUA
Aulas de robótica em uma salinha em São José dos Campos ensinam muito mais do que construir robôs, estudantes aprendem a trabalhar em equipe
Educação|Karla Dunder, do R7
O estudante do segundo ano do ensino médio, Diego Rosseto da Rocha descobriu a oficina de robótica em uma salinha da Escola Estadual Alceu Maynard Araújo Professor em São José dos Campos, como “xereta”.
“Uma professora comentou que alguns alunos estavam construindo robôs e que talvez eu me interessasse pelo assunto, fui até lá e estou há dois anos”, conta. O projeto desenvolvido de forma voluntária pelo professor Leonardo Rosa ensina robótica e programação para estudantes do 9º ano do ensino fundamental ao 3º do médio.
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A ideia deu tão certo que o time já participa de competições nos Estados Unidos.
“Dava aula em uma escola técnica e queria levar um projeto de robótica para uma escola pública, fui visitar o colégio onde estudei e ali, em abril de 2016, começamos os projetos de robótica em uma salinha”, conta Rosa.
Um dos objetivos do professor era levar os alunos para participarem da First Robotic Competition que ocorre todos os anos nos Estados Unidos. Um projeto ambicioso e caro, mas que resultou na criação da equipe Brazilian Storm. “Quando começamos, tínhamos apenas 8 integrantes, muitos não acreditam que têm capacidade para construir um robô, mas após a primeira viagem aos Estados Unidos, em 2017, nosso grupo cresceu”.
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A primeira participação na competição contou com alguns patrocínios, mas boa parte da verba veio da venda de rifas e brechós organizados pela equipe. “Nos dedicamos muito para a realização do projeto, os estudantes vinham nas férias para concluir o robô em seis semanas, mas não tínhamos verba para viajar”, conta.
Os alunos passaram a vender rifas em eventos na cidade na tentativa de conseguir um patrocinador. E conseguiram. Após uma palestra no Parque Tecnológico de São José dos Campos, Guto Ferreira, presidente da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) viu um grupo de meninos e meninas expondo um robô.
“Aquela cena me chamou a atenção e fui até ali conhecer o trabalho deles”, conta Ferreira. “Eles estavam vendendo rifas para enviar ao menos um representante para os Estados Unidos e percebi que poderíamos apoiar a participação deles na competição”.
O time foi para os Estados Unidos participar de duas etapas em Little Rock (Arkansas) e em Huntsville (Alabama) no mês de fevereiro e trouxe na bagagem um pouco mais que prêmios e troféus. “Eu não teria condições de viajar para o exterior e aprendi muito, não apenas sobre competição, mas como trabalhar em equipe e a responsabilidade de participar de um time”, conta Diego.
A animação foi tamanha que o projeto de robótica realizado na salinha da escola estadual de São José dos Campos serviu de inspiração para a ABDI formatar um programa focado em escolas públicas. “Vamos oferecer ao MEC algo que seja escalável, que atinja muitos jovens e, ao mesmo tempo, melhore a formação e qualificação da mão-de-obra para o setor”, diz Ferreira. “Pode ser um pouco batido, mas a verdade é que só vamos mudar o país pela educação”.