Fundação Malala apoia educação de crianças surdas no Brasil
Projeto 'Alcance o que quiser', uma iniciativa da Fundação Cochlear, mostra que deficiência não é barreira para a educação
Educação|Karla Dunder, do R7
A Fundação Malala em parceria com a Fundação Cochlear lança o programa Alcance o quiser, que tem como proposta mostrar que a surdez não pode ser barreira para a educação. O objetivo, em um primeiro momento, é reconhecer experiências de jovens que superam desafios e que se destacam como a atleta paralímpica de natação, Jessyca Oliveira.
Jessyca foi diagnosticada com meningite meningocócica aos 10 anos de idade e a doença evoluiu rapidamente para um quadro gravíssimo. A menina enfrentou um ano e meio de internação em um hospital, encarou a amputação dos quatro membros e a surdez profunda. "Poucas pessoas saem do hospital e eu sobrevivi, escolhi viver, ser feliz, fazer a diferença na vida de quem eu amo e representar as pessoas com deficiência", diz.
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A inspiração para se tornar atleta veio da arquibanca. Em 2016, a menina acompanhou as disputas dos Jogos Palímpicos no Rio de Janeiro. "Eu me apaixonei pela natação e fui em busca do meu sonho", conta animada. Mesmo diante da falta de projetos para desenvolver e apoiar os esportes paralímpicos no Brasil, ela não desanimou e hoje é atleta do clube Vasco da Gama.
"Também digo que a Malala é uma inspiração para mim, ela não ouve, usa implante como eu e isso nunca foi uma barreira para ela estudar e realizar os seus sonhos", conta Jessyca.
Malala Yousafzai, a mais jovem ganhadora do Prêmio Nobel, perdeu a audição do ouvido esquerdo após sofrer um atentado quando estava em um ônibus escolar. Ela levou um tiro na cabeça durante o ataque de talibãs.
"Poucas pessoas sabem que a Malala usa implante auditivo porque não é um problema para ela e é justamente a proposta desse projeto Alcance o quiser, mostrar para a sociedade que todas as pessoas podem realizar os seus sonhos e conquistar seus objetivos, a surdez não é um impeditivo", explica Patricia Mastrorocco, gerente regional sênior da Cochlear para a parte leste da América Latina.
A segunda etapa da parceira é compartilhar um compromisso auditivo e conscientizar a sociedade sobre a importância da reabilitação auditiva e os cuidados precoces.
Luma Baliza Santos, 10 anos, ama esportes, street dance e de poesia. "Receber a notícia de que minha filha nasceu com surdez profunda bilateral não foi fácil, mas procuramos médicos e com 10 meses ela já usava implante", explica a mãe, Aline Carrijo.
Aline criou um grupo chamado Ouça-me, que reúne familiares e crianças que usam próteses, uma maneira de compartilhar os anseios, dificuldades e as alegrias. "Com os encontros, nós promovemos a verdadeira inclusão, compartilhamos experiências e nos ajudamos."
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cerca de 10 milhões de pessoas possuem deficiência auditiva no Brasil, 1 milhão é representado por crianças e jovens de até 19 anos. Já quando olhamos para os recém-nascidos, pesquisas mostram que a perda auditiva atinge de um a três recém-nascidos a cada 1mil nascimentos no Brasil. Crianças que não recebem tratamento adequado podem demorar mais para desenvolver suas habilidades de comunicação, tanto para se compreender como para se expressar. Com essas barreiras, apenas 15% dos jovens concluem o ensino médio e 32% não possuem nenhum nível de escolaridade
Em um vídeo, Malala manda a seguinte mensagem para as crianças e jovens com perda auditiva: "Você pode realizar qualquer sonho que tiver, sim, tem coisas que podem nos limitar, as coisas podem ser um pouco mais difíceis para nós e eu posso me identificar pessoalmente com isso porque eu perdi a minha audição do ouvido esquerdo e uso um implante coclear, mas você merece isso e merece ter oportunidades iguais a todos os outros. A perda auditiva não deve ser um obstáculo no seu caminho."
O projeto Alcance o quiser tem duração de três anos e abrange jovens do Reino Unido, Estados Unidos, França, Índia e Brasil.