MEC discute implantação de tecnologia em escolas que têm dificuldade de acesso à internet
Iniciativa foi comentada em seminário sobre tecnologia e educação realizado em São Paulo
Educação|Mariana Queen Nwabasili, do R7
O FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), instância ligada ao MEC (Ministério da Educação), realiza nesta quarta-feira (26) uma audiência pública, em Brasília, para definir as especificações técnicas do chamado Media Center (Plataforma de Nuvem Educacional).
A ferramenta permitirá que cada uma das 190 mil escolas públicas do País salve conteúdos educacionais feitos por seus professores uma plataforma interna. Os materiais poderão ser direcionados aos alunos e docentes da instituição por uma rede local, sem necessidade de conexão à internet.
A iniciativa foi comentada ontem (25) pela diretora de formulação de conteúdos educacionais da SEB (Secretaria de educação Básica) do MEC, Mônica Franca. Ela esteve presente no seminário internacional “Tecnologias para a transformação da educação”, realizado em São Paulo, pela Fundação Santilla, junto à Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), e em parceria com o Insper.
— O Media Center vai ser um grande conjunto de tecnologias que, dentro da escola, vão permitir acesso aos conteúdos dispensando o acesso à internet, como se fosse uma rede local, uma ‘rede interna de cada escola. Não é uma ideia nova, mas é uma solução mais barata para ofertarmos nas escolas, e aí abrir um canal que dá acesso aos conteúdos digitais.
Segundo Mônica, um projeto piloto já foi aplicado em uma escola do Distrito Federal. Agora, a ideia é, depois da audiência pública que terá a presença de representantes da indústria, planejar o lançamento do edital para a criação dos equipamentos.
— Esforços estão sendo feitos para lançarmos os editais para a produção dos equipamentos a serem instalados nas escolas no início de 2015.
Ela ressalta que não há previsão de data para o funcionamento do sistema nas instituições de ensino.
Questão de acesso
Questionada pelo R7 sobre as restrições de acesso das escolas públicas a equipamentos e à infraestrutura adequada para a viabilizar projetos tecnológicos ligados à educação, a secretária de educação básica do MEC, Maria Beatriz Luce, também presente no seminário, mencionou que os déficits não são exclusividades do setor público.
— Quando existir dificuldade de ser colocado uma satélite ou uma banda larga na casa de alguém, na Prefeitura, em qualquer lugar, também vai haver dificuldade nas escolas, e não importa se forem públicas ou privadas.
Durante a sua fala na abertura do evento, a secretária ressaltou que o Brasil ainda tem dívida com a educação no que diz respeito à distribuição educacional. Ela avalia que melhorias estão acontecendo e que um dos atuais desafios do País é ter condições de levar a tecnologia para todas as escolas em igualdade de condições.
— No Ministério de Educação, estamos numa fase extremamente importante que é de transição de gestão. Estamos com muita expectativa de que poderemos contar com uma rede de dados de melhor qualidade para alcançarmos todas as escolas. Para isso, contamos também com um conjunto de políticas de outros setores, como a área de comunicação e telefonia do País. Estamos batalhando para disponibilizar banda larga para todas as escolas”, disse lembrando do Programa Banda Larga na Escola, lançado e 2008.
Estudo
Durante o seminário, foi apresentado o documento “Tecnologias para a transformação da educação: experiências de sucesso e expectativas”. O material foi elaborado pelos organizadores do evento em parceria com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e mostra um panorama de experiências bem sucedidas em tecnologia na educação em escolas da América Latina.
Até o momento, a pesquisa levantou materiais no Chile, na Colômbia, no Peru e no Brasil. Ainda serão coletados dados sobre o tema no México e na Espanha.
A principal conclusão do estudo é que, de maneira geral e também quando o assunto é tecnologia, mais valem três horas de formação de professores realizada na própria escola onde eles atuam, do que 30 horas de aprendizado em centros de formação fora e longe das salas de aula.
Segundo Francesc Pedró, que dirige a área de políticas públicas para a tecnologia na educação da Unesco em Paris, o ideal é o professor se formar para o uso da tecnologia tendo como base o contexto onde trabalha, e os materiais e ferramentas digitais a serem usados com os alunos.
— Precisamos não só formar, mas também apoiar os docentes. É necessário entrar com eles nas salas de aula e entender como tecnologia pode ajudar em suas práticas.
Quanto às experiências brasileiras, o especialista avalia ser necessário justamente formar e escutar os professores em seus ambientes de trabalho.
— Geralmente, no Brasil, a tecnologia cai na escola de cima para baixo, sendo que é preciso perguntar para o professor o que ou que tipo de tecnologia eles precisam para melhorar suas aulas.
Ele também ressalta que o bom uso da tecnologia nas escolas brasileiras pode captar o interesse do aluno e, consequentemente, combater a evasão escolar no País.
— As experiências mostram que a tecnologia pode ajudar alunos a pesquisarem sobre o bairro onde vivem e a aplicarem a criatividade em prol de melhorias para a realidade do entorno onde moram.
Mesmo dada a inegável presença da tecnologia nas escolas, há quem reivindique um passo anterior às formas de sua utilização para o ensino. O presidente do Insper, Cláudio Haddad, destaca, que antes mesmo da introdução de novas tecnologias nas salas de aula, é preciso melhor as práticas educacionais atuais.
— Tecnologia nada mais é do que técnica, é para ser a coisa mais simples do mundo. Então, antes de pensarmos em algo sofisticado, temos que aprimorar o básico: se os professores conseguissem cumprir seu tempo de aula e transmitir bem o conteúdo, a educação no Brasil já melhoria muito.