Moradora do Capão Redondo, filha de zelador é aprovada em medicina
Jovem conquistou uma bolsa de estudos para realizar seu sonho e pretende ajudar pessoas da periferia no futuro
Educação|Karla Dunder, do R7
Maria Vitória de Oliveira Lima, 20 anos, a Mavi, nasceu e cresceu no bairro do Capão Redondo, zona sul de São Paulo. Filha de uma professora da educação infantil e de um zelador, a menina da periferia conseguiu uma vaga e uma bolsa de estudos no disputado curso de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas Albert Einstein.
"Minha mãe foi um exemplo, eu gostava de acompanhar a dedicação dela preparando as atividades para os alunos, pedia para fazer também", conta. "Amava fazer o caça-palavras e minha mãe dizia que eu só faria depois do ditado."
Foi com a mãe que Mavi entendeu a importância da educação para sua vida. "Aos 12 anos, eu dedici morar com o meu pai, como ele é zelador precisa dormir no trabalho, e as escolas da região central são melhores que as do Capão Redondo", diz.
A menina foi morar no bairro de Pinheiros e passou a estudar na E.E. Godofredo Furtado. "Ainda assim, tinha aula vaga, mas os professores e a qualidade de ensino era muito melhor."
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Na escola, Mavi conheceu o projeto Ipê, formado por ex-alunos do Colégio Santa Cruz. A ideia era oferecer aulas de reforço, um cursinho, para que estudantes da rede pública pudessem estudar no colégio. "Fiz as aulas e prestei o vestibulinho com dedicação, mas sem acreditar que conseguiria ser aprovada, estava tão tranquila, que passei e consegui uma bolsa."
"A realidade do colégio era muito diferente da minha, as pessoas tinham outras referências, falavam de Orlando se referindo à Disney e eu não sabia", lembra. "Estudava muito, mas mesmo assim fiquei de recuperação em algumas matérias, o que era natural para alguém que veio de outra escola."
No terceiro ano do ensino médio, Mavi pensou em cursar Medicina, "mas achei que teria de deixar para o futuro, porque minha mãe precisaria me sustentar por mais seis anos sem que eu trabalhasse."
Nesse período, ela conheceu o Instituto Sol, uma entidade que promove o acesso de jovens de baixa renda ao ensino médio e superior. Além da bolsa, os jovens recebem auxílio durante toda a trilha educacional, até o fim do ensino superior. Os estudantes recebem alimentação, transporte, saúde, material didático, uniforme e suporte psicológico e profissional para o desenvolvimento acadêmico,social e de carreira.
"Com esse suporte, eu consegui fazer três anos de cursinho para conseguir realizar meu sonho", conta. "Neste último ano, com as aulas online, a precisei me concentrar mais, demorei para entrar no ritmo, sentia falta de um local adequado para estudar, os vizinhos faziam barulho e o instituto me ofereceu um espaço para estudar."
Aprovada em Medicina a Faculdade de Ciências Médicas Albert Einstein, Mavi conseguiu uma bolsa de estudos integral. "Penso em trabalhar com Medicina da Família ou obstetrícia, quero fazer pós-graduação e poder trabalhar com as pessoas que vivem nas periferias."