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Educação

'No Brasil, não dá': sem apoio, jovens cursam medicina no exterior

Alto custo em instituições particulares e disputa acirrada por vagas nas públicas levam estudantes a procurar alternativas

Educação|Alex Gonçalves, do R7*

Beatriz Carmelo em frente à Casa Rosada, na Argentina
Beatriz Carmelo em frente à Casa Rosada, na Argentina

Cursar medicina no Brasil é um grande desafio para muitos estudantes. O alto custo da mensalidade em faculdades particulares ou a concorrência por vaga nas universidades públicas fazem com que os jovens brasileiros busquem realizar o sonho estudando no exterior.

É o que conta Beatriz Carmelo, 22 anos, ao R7. Paulista, a jovem é aluna do 2º ano de medicina na UAI (Universidad Abierta Interamericana), na Argentina. "No Brasil, não dá", diz. “Escolhi estudar medicina na Argentina porque no Brasil o valor da mensalidade é altíssimo e passar em universidades públicas é muito difícil, é preciso ter feito um bom cursinho pré-vestibular", avalia.

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Com bolsa parcial de estudos na UAI, a aluna lembra dos desafios que enfrentou quando decidiu estudar na Argentina. ”No começo pensei que não conseguiria. Os nativos falam rápido, o que requer um treino para nossos ouvidos", afirma. "Medicina é um curso muito complexo, agora imagina em outro idioma?!"

Beatriz pretende validar o diploma no Brasil para exercer a profissão aqui. “A situação econômica e política atual da Argentina é muito crítica, pretendo voltar e ficar perto da minha família. No Brasil, a profissão é muito mais valorizada e reconhecida”, explica.


Para exercerem a medicina no Brasil, os estudantes que obtiveram diploma em uma universidade estrangeira devem fazer as provas do Revalida (Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituição de Educação Superior Estrangeira). "Obviamente que o Revalida não é uma prova fácil, mas, se levarmos a faculdade com seriedade, não é nenhum bicho de sete cabeças", conclui a jovem.

Lorrayne Carolline estuda medicina na Bulgária
Lorrayne Carolline estuda medicina na Bulgária

Lorrayne Carolline Rosa Anastásio, 34 anos, cresceu em Brasília (DF). Graduada em matemática, hoje estuda medicina na Universidade Estatal de Sófia, na Bulgária. A jovem optou por cursar a faculdade em outro país para vivenciar novas experiências curriculares. “Sabemos que a concorrência para o curso de medicina no Brasil é grande, seja em instituição pública ou privada", relata.


Ainda de acordo com Lorrayne, "para os búlgaros a educação é igualitária, todo cidadão tem o direito ao acesso a uma educação de qualidade". Lorrayne usa o inglês para os estudos, mas também fala russo e búlgaro.

“É um país muito bonito, a história é muito interessante, assim como a cultura, e a população é muito calorosa com os estrangeiros”, conta. Após a conclusão do curso de medicina, ela pretende retornar para o Brasil. “Tenho planos para conciliar a carreira médica com a de docente, quero retomar as salas de aula para ajudar na formação de futuros médicos”, finaliza.


Já a carioca Fernanda Carvalho, 27, saiu de São João do Meriti (RJ) para estudar medicina na Rússia. Apaixonada pela área médica, a jovem conquistou uma bolsa de estudos na Peoples' Friendship University of Russia, em Moscou.

Fernanda Carvalho vive na Rússia
Fernanda Carvalho vive na Rússia

Segundo Fernanda, as facilidades encontradas para estudar fora se tornaram oportunidades. “Na Rússia, não há exigência de certificados de fluência na língua, a moeda é mais valorizada que o euro, o custo de vida é menor e não é necessário comprovação de renda para a entrada no país”, diz.

Ainda de acordo com a estudante, revalidar o diploma no Brasil após a formação não é prioridade. “Depois que você tem a oportunidade de conhecer outro país, sua percepção sobre qualidade de vida muda”, afirma. “Eu me sinto muito segura na Rússia, fora que o custo de vida é bem menor que no Brasil.”

Do Rio Grande do Norte para a Eslováquia

Médico brasileiro Galileu Galilei na Eslováquia
Médico brasileiro Galileu Galilei na Eslováquia

Galileu Galilei Serafim de Oliveira, 28 anos, é formado em medicina pela Universidade Médica Eslovaca de Bratislava. Natural de Mossoró (RN), o jovem médico trabalha no Hospic Milosrdných sestier v Trenčíne, na Eslováquia.

Envolvido também com projetos e pesquisas na área médica, Galilei diz que no momento não tem intenção de voltar para o Brasil. “O Brasil é um país com grande potencial e com excelentes profissionais, mas aqui eu tenho a oportunidade de conciliar minha carreira e os estudos com qualidade de vida.” 

A Eslováquia faz parte do Espaço Schengen (nome dado à área formada por 26 países europeus que regulamenta a livre circulação de pessoas, bens, serviços e capitais entre seus membros). "E isso possibilita a troca de conhecimento entre os países — essa é a grande vantagem, principalmente para mim, que almejo a carreira médica e pesquisas científicas.

Revalida

O número de inscrições na edição do Revalida 2020 aumentou em 114%, comparado ao ano de 2017. De acordo com o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), responsável pela aplicação do exame, houve 15.482 inscritos na edição de 2020, enquanto 7.380 cadastros foram aprovados em 2017. 

O Revalida subsidia o processo de revalidação dos diplomas de médicos que se formaram no exterior e querem atuar no Brasil. O exame é direcionado tanto aos estrangeiros formados em medicina fora do Brasil quanto aos brasileiros que se graduaram em outro país e querem exercer a profissão no país de origem.

O processo avaliativo é dividido em duas etapas eliminatórias aplicadas em momentos distintos: provas escritas e prova de habilidades clínicas. O exame é fundamentado na demonstração de conhecimentos, habilidades e competências necessárias ao exercício da medicina. A aprovação nas duas etapas da avaliação é um demonstrativo da competência técnica (teórica e prática) do médico graduado para o exercício profissional.

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*Estagiário do R7 sob supervisão de Karla Dunder

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