Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Educação

Senadores querem revogar decreto da Política de Educação Especial

Para especialistas, medida é considerada inconstitucional e um retrocesso na inclusão de crianças com deficiência nas escolas 

Educação|Karla Dunder, do R7

Chef com Síndrome de Down, Pedro Brandão Carrera, se formou em gastronomia
Chef com Síndrome de Down, Pedro Brandão Carrera, se formou em gastronomia

Pedro Brandão Carrera é um chef de 25 anos de idade que tem a palavra persistência como sinônimo de sua história. A família do jovem com Down precisou batalhar muito para que ele pudesse conquistar o diploma universitário. 

A maior dificuldade enfrentada pela pediatra Ana Claudia Brandão foi garantir que seu filho Pedro pudesse cursar o ensino médio, mesmo na época com as garantias previstas pela LBI (Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência).

Essa é a realidade de muitas famílias com filhos com deficiência e é a principal discussão em torno do decreto da Política Nacional de Educação Especial assinado pelo presidente Jair Bolsonaro. O texto incentiva a criação de salas e escolas especiais para crianças com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento. 

O tema gera polêmica e é considerado pelos especialistas como um retrocesso. No Congresso, os senadores Fabiano Contarato (REDE/ES) e Mara Gabrilli (PSDB/SP) entenderam que a PNEE é inconstitucional e excludente e entraram com um Projeto de Decreto Legislativo para revogar o texto assinado por Bolsonaro. A deputada Maria do Rosário (PT- RS) e o deputado Helder Salomão (PT-ES) também questionam o Decreto na Câmara.


Para a professora da Faculdade de Educação da USP, Carla Biancha Angelucci, a atualização da PNEE, ainda em 2018, não teve a discussão necessária com a sociedade. "As reuniões foram realizadas com algumas entidades escolhidas pelo governo, não houve um debate amplo da lógica da questão."

Segundo o decreto, as famílias podem optar por uma escola regular ou especial. "A ideia de que a família pode escolher a escola é sedutora, dá uma ideia de poder, mas, na prática, tiramos a responsabilidade do Estado de incluir as crianças com deficiência", explica Carla.


"Percorremos um longo caminho na inclusão escolar e não podemos retroceder, entendo que as escolas especiais tenham sua importância em alguns casos, mas é preciso que sejam qualificadas, regulamentadas e supervisionadas", avalia a psicopedagoga Ivone Scatolin. "Acredito que seja muito melhor uma política pública focada na inclusão, é preciso melhorar a formação dos professores para que tenham técnicas pedagógicas para essa inclusão."

No entendimento da professora da USP, "esse decreto pode autorizar as escolas a cometer uma ilegalidade, a de discriminar uma pessoa com deficiência e é um texto inconstitucional."


"Quando criamos uma sala ou uma escola especial, um lugar separado, nós dizemos a essas pessoas que o lugar que elas ocupam é à parte, nós aprendemos a respeitar o outro quando convivemos com as diferenças", explica a psicóloga Ilana Katz.

O chef

"Educamos o Pedro como fizemos com os nossos outros filhos, depois que ele saiu da educação infantil, procurei uma escola maior e com ensino médio para evitar muitas mudanças e para que ele desse continuidade aos estudos", conta Ana.

A escola escolhida foi parceira até o final do ensino fundamental. "Quando Pedro chegou ao 8º ano, enviei um e-mail para a escola com o objetivo de preparar melhor para o ensino médio durante o nono ano", mas para a surpresa da família, Pedro não estava nos planos do colégio, que chegou a argumentar que possui um "ensino de excelência" e o menino não cabia ali.

Pedro em sua formatura do curso de gastronomia
Pedro em sua formatura do curso de gastronomia

Muita conversa, muito desgaste, até a entrada do Ministério Público para garantir que Pedro pudesse cursar o ensino médio. A escola precisou elaborar um plano pedagógico que se adaptasse às necessidades dos alunos com deficiência.

A inscrição para o vestibular foi outro problema para a família. "Não havia deficiência intelectual nas fichas de inscrição, tivemos de adaptar porque o Pedro precisava de mais tempo e de um computador para fazer a redação."

O jovem foi aprovado em duas universidades e optou pelo curso de gastronomia no Senac, onde se formou. "Ele conseguiu uma vaga por ter estudado em uma escola regular e para a minha surpresa, a instituição contratou um mediador e uma consultoria para capacitar os professores", diz.

"Há 20 anos passei por tudo isso e vejo que hoje muitas mães passam pelo mesmo problema", conclui Ana. "Temos de aprender a conviver com a diversidade."

Últimas


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.