O Brasil elegeu sua primeira presidente em 2010, e, pelo que indicam as pesquisas, deve optar mais uma vez por uma mulher para comandar o País nas eleições deste ano. A presidente Dilma Rousseff (PT) e a ex-senadora Marina Silva (PSB) são favoritas para se enfrentar no segundo turno neste ano, assegurando o protagonismo feminino nestas eleições. Terceira força, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) é o principal homem na disputa, mas sua campanha é comandada com mão de ferro por uma... mulher. Jornalista formada pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro, a irmã mais velha de Aécio, Andrea Neves, é a responsável por comandar a comunicação da campanha do tucano à Presidência. Ex-presidente do Servas (Serviço Voluntário de Assistência Social de Minas Gerais, de 2003 a 2014) e integrante do Grupo Técnico de Comunicação no governo Aécio em Minas Gerais (2003-2010), Andrea tem fama de controlar tudo o que se publica sobre o irmão.Campanha A irmã do presidenciável também é conhecida, contudo, por não lidar muito bem com críticas. Talvez por isso seja tão difícil encontrar, dentro do partido, quem questione as posições da chefe de comunicação da campanha tucana, que ocupa apenas o terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto desde a entrada de Marina Silva na disputa. Um dos únicos a verbalizar publicamente críticas à condução da campanha deste ano foi o deputado federal e presidente do PSDB em Minas Gerais, Marcus Pestana, que cobrou “pegada” e disse que, nas campanhas argentinas, por exemplo, “é pancadaria para todo lado e ganha quem ficar de pé”. Ironicamente, a defesa de posição semelhante teria tirado o marqueteiro Renato Pereira da campanha de Aécio logo no início dos trabalhos.Leia mais sobre Eleições 2014 Pereira, que tocava com Aécio o projeto “Conversa com Brasileiros”, deixou a pré-campanha tucana em janeiro deste ano. Segundo o noticiário da época, a saída teria sido consequência de um desentendimento entre o senador e o marqueteiro. Mas, nos bastidores do partido, a informação é de que Pereira teria entrado em divergência com Andrea, que assumiria publicamente a comunicação da campanha presidencial tucana após a demissão do marqueteiro. Enquanto o marqueteiro, que fez a campanha de Henrique Capriles à Presidência da Venezuela no ano passado, defendia um Aécio mais agressivo e descolado durante as eleições deste ano, Andrea preferia um posicionamento mais ameno. Como, desde que era governador de Minas Gerais, Aécio não toma decisões na área de marketing sem antes consultar a irmã, Pereira acabou substituído por Paulo Vasconcelos, escolhido por Andrea.Assista: Justiça eleitoral começa preparação de urnas para eleiçõesBlindagem Apesar de reconhecerem a proximidade entre Andrea e Aécio, os aliados preferem minimizar a influência da irmã sobre o senador. O secretário de governo de Minas, Danilo de Castro (PSDB), afirma que ela "não é a principal conselheira, mas uma assessora dele [Aécio] para a parte de comunicação". Já o deputado Sávio Souza Cruz (PMDB), um dos principais desafetos da jornalista, atribui a Andrea a tarefa de impedir críticas a Aécio. — Ela age como o ministro da propaganda da Alemanha nazista. Aécio centralizou nas mãos dela toda a verba de publicidade do Estado, por isso ela age com mão de ferro e controla tudo.Minas Gerais Em apuros com a campanha do irmão, que estacionou em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, Andrea se viu obrigada a voltar a Minas Gerais para tentar evitar a derrota dupla: escolhido para dar continuidade à gestão Aécio, o ex-ministro Pimenta da Veiga (PSDB) está atrás de outro ex-ministro, Fernando Pimentel (PT), segundo pesquisas para o governo local. Ao R7, Marcos Pestana disse que a volta a Minas não atrapalha a campanha de Aécio, pois “ela continua nas duas campanhas”. “É uma profissional de muita qualificação e experiência. O Aécio escuta muito as pessoas próximas, e ela é uma colaboradora muito importante”, comentou o deputado. Com Andrea em Belo Horizonte, Pimenta passou a ser mais agressivo com o adversário petista, Fernando Pimentel, e lançou propaganda para alertar o eleitor do "risco" de empregar petistas derrotados pelo País. Já Aécio segue tentando combater tanto Dilma quanto Marina, o que parece confundir o eleitor.Imagem Para o especialista em marketing Felipe Wasserman, CEO da PetiteBox, a campanha de Aécio “é muito malfeita”, porque não consegue apresentar o tucano “como personagem simpático ou interessante ao público”. — Tentaram apresentá-lo como um homem de família, mas não passou. É preciso construir uma imagem. O PT, por exemplo, consegue apresentar [a presidente e candidata à reeleição] Dilma como uma simpática dona de casa. Segundo Wasserman, outro grande problema da campanha de Aécio é a mudança de rumo. No início da corrida presidencial, o senador se apresentava como quem faz oposição ao governo federal. Agora, depois de perder espaço nas pesquisas, o tucano mira em Marina Silva. “Fica difícil entender contra quem ele está”, diz o especialista.Perfil Colecionadora de versões de Alice no País das Maravilhas, do escritor Lewis Carrol, e fascinada pela história do avô Tancredo Neves — para quem coordenou a montagem de um memorial e sobre quem editou uma extensa biografia —, Andrea faz questão de divulgar em seu blog os trabalhos sociais que coordenou no Servas, quando atuou na interlocução com movimentos de juventude e de atendimento à população de baixa renda. Outro tema recorrente no blog de Andrea é Cuba. Em agosto do ano passado, ela registrou sua segunda viagem ao país, após um intervalo "de quase 30 anos", e escreveu: "Mudou Havana, mudei eu ou mudamos nós duas?". Meses antes, a jornalista havia lamentado a morte, por greve de fome, “de mais um prisioneiro político em Cuba”. "Wilmar Mendoza de apenas 31 anos morreu às vésperas de ser reconhecido pela Anistia Internacional como Prisioneiro de Consciência", escreveu, completando: "É inconcebível que alguém possa morrer em função da defesa pacífica de suas ideias. Que alguém possa morrer por cometer a ousadia de pensar diferente do poder estabelecido, qualquer que seja ele". — Para a minha geração, durante muitos anos, a revolução cubana foi o símbolo do idealismo e a prova de que era possível construir uma sociedade mais justa. Não sei em que exato momento muitos de nós começaram a perceber que, infelizmente, o processo não era tão linear, nem os princípios tão absolutos quanto imaginávamos.Vida pessoal Andrea é conhecida pela discrição e não costuma dar declarações à imprensa. Numa das raras entrevistas, publicada pela revista Encontro em fevereiro deste ano, a jornalista dizia que iria ajudar a irmão “da forma que ele achar melhor” na campanha presidencial e chamava atenção para a filha, Maria Clara, de 19 anos, seu “fio terra”. Na ocasião, Andrea disse que virou uma “lenda urbana”: "Às vezes, me assusto com o que inventam de mim e como as mentiras acabam virando verdade”. Fã de Bob Dylan, a irmã de Aécio também é discreta nas redes sociais, mas também costumava falar da vida pessoal no blog, que alimentou até agosto do ano passado. Lá, em um post de 2012, ela lembra, por exemplo, que, em 2004, se casou com o atual marido, Luiz Márcio Pereira, em cerimônia “na fazenda que pertenceu à minha bisavó em Claudio, no interior de Minas Gerais”. “Entrei na pequena capela de mãos dadas com a minha filha [do primeiro casamento, com o jornalista Herval Braz, já falecido] e ele, com a filha dele”, contou.Riocentro Acostumada a presenciar grandes feitos da política nacional, a irmã mais velha de Aécio — ainda há uma segunda irmã, Ângela — participou da campanha do avô Tancredo ao governo de Minas nas eleições de 1982, e ainda foi testemunha por acaso de um fato histórico no apagar da ditadura militar. Em 30 de abril de 1981, aos 22 anos, estava no estacionamento do Riocentro quando uma bomba plantada pelos militares matou o sargento Guilherme Pereira do Rosário e feriu o capitão Wilson Dias Machado. A jornalista mineira socorreu, em seu carro, o capitão ensanguentado. Desfazia-se ali a versão de que grupos de esquerda seriam responsáveis pelo ataque. Andrea Neves foi procurada pela reportagem do R7, que foi orientada a mandar e-mail com perguntas. Até o fechamento desta matéria, contudo, as respostas não foram enviadas.Veja as notícias do R7 na palma da mão. Assine o R7 Torpedo