Empresários atiram para todos os lados e beneficiam campanhas de candidatos adversários à Prefeitura de São Paulo
MontagemSete empresários "atiraram para todos os lados" e fizeram doações para mais de um candidato à Prefeitura de São Paulo. O valor total das doações ultrapassa R$ 500 mil. É o que mostrou um levantamento feito pelo R7, que cruzou os dados de 989 doadores registrados no site DivulgaCand, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), até o último sábado (24).
Os doadores que ajudaram mais candidatos diferentes foram Luiza Helena Trajano Inacio Rodrigues, dona do Magazine Luiza, e Elie Horn, fundador da construtora Cyrella.
A empresária do varejo doou R$ 85 mil no total para as campanhas de João Doria (PSDB), Fernando Haddad (PT) e Marta Suplicy (PMDB), que receberam R$ 50 mil, R$ 20 mil e R$ R$ 15 mil, respectivamente. A empresa preferiu não comentar as doações.
Horn, do ramo da construção civil, pulverizou seus R$ 300 mil nas campanhas de Haddad, Russomanno (PRB) e Marta, que levaram R$ 100 mil cada um. A Cyrella afirmou que, por se tratarem de doações de pessoa física, não comentará o assunto.
Outros empresários do ramo da construção que decidiram colaborar com mais de uma campanha foram Antranik Kissajikian, que doou R$ 20 mil para Doria e R$ 35 mil para Marta, e Emilio Rached Esper Kallas, que foi mais generoso com Doria do que seu "colega de ramo" e entregou R$ 50 mil ao tucano, além de R$ 15 mil para sua adversária do PMDB. Kissajikian não foi encontrado para comentar o assunto e a assessoria de Kallas não respondeu à reportagem até o fechamento desta matéria.
Os jantares promovidos por Marta e Haddad para arrecadar fundos renderam frutos nas mãos de, pelo menos, um dos doadores que aparecem na lista de pessoas físicas que deram dinheiros para mais de um candidato. Benjamin Ribeiro da Silva, conhecido como Professor Benjamin, dono de uma escola particular em Interlagos, zona oeste de SP, e ex-candidato a deputado estadual pelo DEM, afirmou ao R7 que as doações no valor de R$ 7.500, para Marta, e R$ 5.000 para Haddad, são referentes à adesão de jantares feitos pelos candidatos que são seus “amigos”.
Marta recebeu o mesmo valor de Berardino Antonio Franganiello, policial civil do Garra (Grupo de Repressão a Roubos e Assaltos), dono de uma empresa de segurança patrimonial, o Grupo GP. Franganiello também doou R$ 5.000 para Doria.
O fundador da rede de academias Bio Ritmo também decidiu agraciar financeiramente mais de um candidato. Edgard Corona doou R$ 20 mil para Doria e R$ 10 mil para Marta. Procurada, a assessoria de Corona não respondeu aos questionamentos.
Marta Suplicy é a única candidata que recebeu dinheiro de todos os sete eleitores que optaram por fazer doações para mais de um candidato.
Interesses
As doações estão de acordo com as novas normas, que proíbem que candidatos recebam doações de pessoas jurídicas. Pessoas físicas podem doar, contanto que não ultrapassem o limite de 10% do que foi informado no IR (Imposto de Renda) do ano anterior.
Porém, a doação múltipla joga luz sobre a problemática que o veto de doações de pessoas jurídicas justamente tenta resolver: que grandes grupos econômicos influenciem nas eleições.
O cientista político Humberto Dantas explica que os limites financeiros podem ser vistos como algo positivo por quem defende o fim da doação privada. Porém, nomes fortes do empresariado fazendo doações para mais de um candidato "reproduz a velha prática das empresas".
— Tem quem veja a doação de empresas como investimento e que a doação de pessoa física não passa de um nobre gesto de doação ideológica com o intuito de reforçar a democracia. Esse cenário mostra que as velhas práticas seguem vivas. O ideal é analisar os negócios desses empresários e suas relações com o setor público. As doações são lícitas, mas a questão é: são legítimas?
Candidatos
A assessoria de Doria afirmou que “não há vedação para que um mesmo doador formalize doação para vários candidatos".
Já o departamento de comunicação de Marta diz que “todas as doações estão de acordo com a legislação eleitoral”.
A assessoria de Russomanno foi procurada e afirmou que irá mandar uma resposta assim que possível.
Haddad foi procurado, mas não respondeu à reportagem até o fechamento da matéria.
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