BH tem a 1ª trans e um bolsonarista entre os vereadores mais votados
Professora Duda Salabert bateu recorde histórico, com 37.613 votos; Nikolas Ferreira ocupou o segundo lugar no ranking, apoiado por 29.388 eleitores
Eleições 2020|Pablo Nascimento, do R7
Os eleitores de Belo Horizonte elegeram, neste domingo (15), os dois vereadores mais votados da história da cidade. Apesar da similaridade dos números expressivos, ambos estão em bases políticas opostas.
Com 37.613 votos, Duda Salabert (PDT) foi a primeira mulher transexual a ser escolhida para uma cadeira no Legislativo belo-horizontino. Com o apoio recebido, ela também se tornou a pessoa mais bem votada da história da Casa. Até então, o recorde era do ex-vereador Elias Murad, eleito com 20.157 votos, em 2004.
A professora de 39 anos chega com a proposta de defender os direitos de minorias, pautas sociais e ambientais.
Em segundo lugar na corrida de 2020 e também na série histórica ficou o bacharel em direito, Nikolas Ferreira (PRTB), de 24 anos. O candidato apoiado pela família Bolsonaro recebeu 29.388 votos e foi eleito para o primeiro cargo público de sua vida.
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Ferreira se interessou pelo movimento político após passar fazer parte do grupo Direita Minas, que sai em defesa aos valores conservadores no Estado.
O R7 conversou com os dois vereadores, nesta segunda-feira (16), após a divulgação dos resultados. Confere abaixo as principais propostas:
Duda Salabert
Sem titubear, Duda classifica sua eleição como uma vitória que não seria somente dela.
— É uma vitória dos direitos humanos, sobretudo da educação porque trata-se de uma professora eleita. Também é uma vitória do movimento dos travestis e transsexuais porque quando uma travesti avança, uma sociedade avança.
Questionada sobre a possibilidade de encontrar uma bancada conservadora forte contra seus projetos, Duda ressaltou que não pretende se apegar em discussões classificadas por ela como "histéricas".
— Eu não vou fazer um mandato preocupada com as questões morais, mas sim estruturais. Vou pensar na educação, no meio ambiente, na saúde e na geração de emprego. Não esperem de mim fazer debates que causam grande histeria social, mas que não alteram a qualidade de vida dos belo-horizontinos.
A vereadora eleita destaca, ainda, que o fato de evitar as "histerias" não vai a impedir de atuar em prol das causas sociais e das minorias.
Para as primeiras semanas do mandato que começa no dia 1º de janeiro de 2021, Duda, que é professora de literatura, diz que planeja já articular o projeto chamado de "Escola Sem Veneno", que consiste em aumentar, anualmente, em 10% a quantidade de alimentos orgânicos, livres de agrotóxicos, nas escolas públicas.
Duda, que foi a quarta mulher mais votada de Minas Gerais quando se candidatou ao Senado, em 2018, sem ser eleita, prometeu durante a campanha à Câmara de BH que plantaria uma árvore para cada voto recebido. Com o nome já confirmado para a próxima legislatura com mais de 37 mil votos, ela garante que vai cumprir além da promessa.
— Nós vamos plantar o triplo de árvore porque vamos criar um plano municipal de crescimento verde. Vamos transformar o plantio em políticas públicas ao realizarmos dois encontros mensais para discutir propostas e plantar árvores em parques e praças.
Nikolas Ferreira
Na visão do jovem que defende, declaradamente, a mesma pauta de governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), seu principal desafio durante a gestão na Câmara será o que ele chamou de "embate ideológico" vindo dos representantes da esquerda.
— Naquilo que divergimos, eu vou ser a muralha para impedir qualquer pauta progressista. Como exemplo, na educação, para a ideologia de gênero não ser inserida no plano municipal.
Ferreira também comentou sobre a repercussão causada após ele se referir a Duda Salabert, em redes sociais, com o pronome masculino. O candidato eleito destacou que a divergência entre os dois está nas visões políticas.
— Eu a conheci há pouco tempo. Sei da trajetória dela, que não me agrada politicamente falando, mas nós nunca tivemos um embate ou conversa.
O vereador eleito afirma que também vai trabalhar para mudar a concepção do imaginário popular sobre o movimento conservador e desenvolver projetos que visam o combate à corrupção. Ferreira, que não usou recursos públicos para sua campanha, também prevê a necessidade de se dedicar a aprender mais sobre o meio político na Câmara.
— Preciso primeiramente ter aprendizado porque não sou político por profissão. Vou lutar por uma gestão limpa, sem corrupção e vou trabalhar com o campo social. A ideia é acabar com a visão que só a esquerda tem virtudes. Tem que mostrar que a direita também se preocupa com a caridade, com a segurança pública, com a pandemia e com o empreendedor.