Francisco Rocha se destacou no kart ao vencer dois dos campeonatos mais importantes da categoria em um intervalo de uma semana: aos 12 anos, ele ganhou o Campeonato Brasileiro de Kart na categoria Rotax Mini Max e a Copa São Paulo Kart Granja Viana — nesta última, levou 12 das 18 corridas disputadas e esteve no pódio em todas as etapas da competição.Além das duas campanhas, Francisco representou o Brasil no Mundial Rotax em Sarno, na Itália, após vencer a seletiva nacional, que abrangeu quatro etapas do Paulista KGV.“Meu principal alvo é a Fórmula 1. Se não der para chegar lá, quero trabalhar com automobilismo de qualquer forma, seja como engenheiro ou piloto de outras categorias, como a Stock Car e a Indy”, sonha Francisco.O piloto começou a correr aos 9 anos, em 2021, após assistir a uma prova do irmão mais velho no kart.“Meu pai sempre gostou muito de velocidade. Ele incentivou o meu irmão a começar a andar de kart. Quando minha família me levou para assistir a uma corrida dele, eu descobri uma nova paixão. Então, pedi ao meu pai para começar a fazer umas aulas, até que eu pudesse chegar no kart profissional.”Em entrevista ao R7, o piloto falou sobre os campeonatos que disputou, a rotina de treinamentos, as paixões por outros esportes, como o futebol, e suas inspirações no automobilismo.Confira a entrevista na íntegra:R7 - Como foi vencer o campeonato brasileiro na categoria Mini Max e a Copa São Paulo de Kart Granja Viana em menos de uma semana?Francisco - A diferença entre esses dois campeonatos é que a Copa São Paulo é dividida em várias etapas, então, se você falta em uma etapa ou seu carro quebra, sempre tem chance de buscar o resultado. Teve uma etapa em que a gente não foi muito bem, mas conseguimos recuperar. Já no brasileiro, o que importa é a final. É uma corrida só que vai decidir tudo, isso que faz o Campeonato Brasileiro ser mais disputado do que o Paulista. Para mim, a Copa São Paulo foi mais fácil por conta disso.R7 - Como foi sua rotina de treinos para competir nessas duas categorias?Francisco - Para o Paulista, a gente faz o traçado da Granja Viana. Eu corro nesse Kartódromo desde pequeno, então, tive treinos bem constantes lá. Em toda etapa, fazemos os treinos semanais e, nas semanas que não tem corrida, fazemos de dois a três treinos nesse período. Já no Brasileiro, como é uma semana só, os treinos são mais intensos. Na semana da competição, são dois treinos na terça e na quarta-feira. Na quinta-feira, tivemos um treino, uma tomada de tempo e duas classificatórias. Já na sexta, tem a superclassificatória que é uma espécie de pré-final. O grid inicial da corrida de sábado, a superfinal, é definido pela somatória das três classificatórias.R7 - Como você concilia a rotina de treinos com os estudos?Francisco - É muito difícil fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Nós temos duas professoras particulares que me ajudam com isso.Sílvia Rocha, mãe de Francisco, completou: por mais que ele vá à escola de manhã, essas professoras o ajudam a atualizar toda matéria que ele perdeu na semana anterior ou vai perder na semana seguinte. Enquanto ele está na escola, tenta dar o máximo, ter as melhores notas, se esforçar nos trabalhos, a gente cobra muito dele esse comportamento. Entendemos que toda essa rotina é muito cansativa para ele. O kart já exige muito com vários treinos. Ele sempre compete em mais de um campeonato ao longo da temporada. Mas o kart não existe sem a escola, a escola está sempre em primeiro lugar.R7 - Quais são seus próximos objetivos no automobilismo?Francisco - Nossa meta sempre é chegar à Fórmula 1, mas, daqui para a frente, eu desejo conquistar mais títulos no kart, mais brasileiros, mais paulistas, porque essas conquistas deixam o nosso currículo maior e melhor. No ano que vem, vou subir de categoria para Junior Max no Campeonato Brasileiro. Vamos com força para conseguir essa vaga no Mundial, agora com mais experiência.R7 - Você quer chegar à Fórmula 1 como o Gabriel Bortoleto? Quais são suas inspirações no automobilismo?Francisco - Eu me inspiro muito no Gabriel Bortoleto. E também em um piloto da FRECA [categoria europeia anterior a Fórmula 1], chamado Rafael Câmara. É um piloto muito bom, gosto da forma como ele pilota. Na minha visão, ele só não chegou à Fórmula 1 porque disputou todos os campeonatos regionais contra o Kimi Antonelli, que será piloto da Mercedes na próxima temporada.R7 - Em 2024, você teve a primeira experiência internacional no kart ao representar o Brasil no Mundial Rotax, em Sarno, na Itália. Como foi essa experiência?Francisco - Quando eu entrei no kart, não imaginava o quão grande era esse esporte. Não imaginava que fosse competir em vários lugares do Brasil e na Itália. Os europeus têm um jeito diferente de dirigir, eles são mais agressivos, mais rígidos. As pistas são muito diferentes também. Nas pistas europeias, tem muita borracha, muito grip [aderência], aqui no Brasil nós estamos acostumados com pistas frias, com menos grip. Nas pistas que têm mais aderência, você precisa virar mais o volante para fazer a curva, acelerar antes, precisa de borracha na pista para seu carro não destracionar. Já no Brasil, o kart já sai destracionando, essa é a grande diferença.Por isso, quando chove, a pista esfria, a chuva dá uma limpada na borracha da pista. Foi o que aconteceu no Mundial deste ano. Antes da classificatória, teve uma chuva forte, isso ajudou os brasileiros a irem bem. Consegui pegar a terceira posição.R7 - Você fez duas ultrapassagens duplas na última volta da Superfinal do Campeonato Brasileiro. Poderia me falar mais sobre essas duas manobras?Francisco - O que valeu muito naquela volta foi a questão da experiência. O que me fez ser campeão brasileiro foi ficar calmo. Um negócio que me ajudou muito, que é até engraçado, é que eu não sabia que era a última volta.A primeira ultrapassagem que fiz foi em uma subida. Os dois pilotos foram por dentro, eu vim por fora, onde tinha mais aderência, e os carros deles destracionaram. Aí eu consegui vir mais para dentro e fazer a ultrapassagem dupla.Depois, na penúltima curva, que era uma reta, já sabia que não dava para fazer o mesmo que eles. Os dois vieram por dentro, e eu fui por fora. Na hora em que eles foram fazer a curva, eles espalharam, e eu consegui tracionar bem e vir por dentro, fazendo a ultrapassagem na última reta e levando o Brasileiro.[Assista à ultrapassagem]Se você for ver, os dois pilotos foram por dentro na curva, e tem a questão da borracha na pista. Kart sempre anda no mesmo traçado. Se você for por dentro ou muita para fora e não respeitar o traçado da pista, o carro perde a aderência, o seu kart vai escorregar. É por isso que eu falo que a questão da experiência conta muito nesses casos.R7 - O que você mais gosta de fazer quando não está correndo?Francisco - Gosto muito de futebol, mas depois que peguei essa paixão pelo kart, parei um pouco de jogar. É um esporte que machuca muito, por isso preciso me poupar. Mas sempre assisto aos jogos do Corinthians. Também gosto de esquiar, eu cheguei a me lesionar por conta do esqui e fiquei nove meses fora das pistas de kart. Esse foi um período difícil para mim, tanto que às vezes eu ia para a pista para assistir às corridas, colocava o macacão de corrida em casa, fiquei muito tempo treinando só no simulador que tem aqui em casa. Eu aprendi que tenho que cuidar muito do meu corpo. Qualquer vacilo, qualquer lesão pode ser prejudicial para a minha carreira no kart.R7 - Quais foram as corridas mais marcantes para você?Francisco - Tiveram duas corridas que foram muito marcantes. Em primeiro lugar, foi a Superfinal do Campeonato Brasileiro de 2024, em que fui campeão. Foi uma corrida limpa, ninguém bateu por maldade, todos correram na humildade, ninguém jogou ninguém para fora, todo mundo só queria muito vencer. Teve ultrapassagens lindas, foram voltas muito disputadas.A segunda foi uma lá na Granja Viana, no Campeonato Paulista de 2023, em que fui vice-campeão na temporada. Foi uma corrida na chuva. E eu tenho uma experiência muito boa na chuva. Na última curva, consegui ultrapassar meu adversário e venci aquela etapa. As corridas na chuva são sempre as mais emocionantes.R7 - O Ayrton Senna dizia que a chuva iguala os carros, mas não os pilotos. Pilotar bem na chuva é um grande diferencial no automobilismo.Francisco - Meus pais e meus treinadores sempre dizem que eu sou muito bom na chuva. Eles nunca aliviaram os treinos nessas condições. São Paulo é uma cidade em que chove muito. Meu próximo desafio é treinar na chuva com pneu seco. Acontece isso muito nas corridas, aquela chuva que vem só para molhar a pista. Chove e para, chove e para. Muitos pilotos rodam nessas condições. O vento também é algo que atrapalha bastante no kart, principalmente para mim, que sou alto. A minha meta é treinar para que os resultados sempre sejam positivos. Eu me jogo de cabeça quando tenho um desafio. Às vezes, no automobilismo, tem que dar uma de maluco, arriscar, é tudo ou nada, fazendo ultrapassagens limpas e sempre aproveitando qualquer espaço.*Sob supervisão de Carla Canteras