Andrea Avancini mostra por que a preparação de elenco vai muito além do set de gravação: ‘Não é só chegar, decorar e fazer’
Profissional conta como foi o desafio nas duas fases de A Vida de Jó, e fala com alegria da parceria com o irmão e também diretor-geral da série, Alexandre Avancini
Entrevista|Bianca Godoi, do R7

Com mais de 40 anos de carreira como atriz, diretora, produtora e preparadora, Andrea Avancini recebeu o desafio de preparar os protagonistas Enzo Krieger, Mah Duarte, Guilherme Berenguer e Juliana Didone nas duas fases de A Vida de Jó. A mentora fez um trabalho minucioso com os intérpretes de Jó e Raquel para que a transição entre a juventude e a vida adulta dos personagens acontecesse de forma natural e espontânea.
Andrea soma em sua trajetória profissional mais de 35 novelas e minisséries. Só na RECORD, ela participou de 13 projetos. Sua estreia na emissora foi no ano de 2007 como Erika em Caminhos do Coração e, em 2025, gravou a décima terceira temporada de Reis.
Entre diversos trabalhos marcantes nos quais a atriz fez parte, estão também: Zilpa em José do Egito (2013), Joana em Os Dez Mandamentos (2015), Sama em A Terra Prometida (2016), Yarin em Jezabel (2019) e Zenaide em Amor Sem Igual (2019).
No teatro, são mais de 100 produções. Entre elas, a direção da montagem brasileira da peça Closer, bem perto, em 2015, com Rafael Sardão e Luciano Szafir no elenco. E o espetáculo Getsëmani, que foi apresentado no Festival Internacional de Teatro de Angra (RJ), em 2010.
O nome Avancini carrega o peso de uma família que tem arte no DNA, filha de Walter Avancini, renomado escritor, autor e diretor, e irmã de Alexandre Avancini, diretor-geral de A Vida de Jó, o talento de Andrea é nato.
Por isso, o currículo da atriz conta com diversos prêmios, como dois Troféus Nelson Rodrigues, um em 2015 por José do Egito e outro em 2016 por A Terra Prometida, concedidos pela Agência Nacional de Cultura, Empreendedorismo e Comunicação (ANCEC). E o título de “Melhor Filme” no Festival Internacional de Cinema Infantil (FICI), no Rio de Janeiro, com o curta-metragem Conte sua História ou Entregue sua Alma, dirigido por Andrea.
Em um bate-papo com o R7, a atriz resgata sua trajetória profissional, explica como a preparação de elenco é realizada, agradece à RECORD e à Seriella Productions pela oportunidade, e enaltece a parceria com Avancini.
Leia a entrevista na íntegra:
R7 — O seu irmão Alexandre Avancini é o diretor-geral de A Vida de Jó, e no projeto, vocês puderam trabalhar juntos. Como foi essa parceria em família?
Andrea Avancini — É sempre incrível estar com o meu irmão. Como atriz, eu já tinha feito algumas produções com ele, como Os Mutantes (2008), José do Egito (2013), Pecado Mortal (2013), Os Dez Mandamentos (2015), A Terra Prometida (2016) e Jezabel (2019). Então foram vários projetos em que eu estava sob a direção do meu querido irmão, grande mestre, o Avec. E é a primeira vez que a gente faz essa parceria, eu como preparadora de elenco e ele como diretor-geral. Trabalhar com o Alexandre é um prazer, porque a gente se entende muito bem. Ele é um diretor com um olhar muito preciso e um profissional tranquilo.
É sempre incrível estar com o meu querido irmão
R7 — Você já atuou como preparadora de elenco em quais projetos da RECORD? E qual foi o diferencial de preparar o elenco de A Vida de Jó?
Andrea — O meu primeiro trabalho como preparadora na RECORD foi em Até Onde Ela Vai (2024), preparei o elenco todo. No mesmo ano, a casa me convidou para auxiliar os protagonistas da décima primeira temporada de Reis, A Divisão. E A Vida de Jó foi um desafio além, porque é uma série em que eu tinha um núcleo de protagonistas que se dividia em duas fases. E foi muito legal trabalhar com dois atores para um mesmo personagem, como aconteceu com Raquel e Jó. Tínhamos a Mah Duarte e a Juliana Didone, e o Enzo Krieger e o Guilherme Berenguer. Também preparei os mais próximos da família deles e os amigos que entram na segunda fase.

R7 — Como funciona o trabalho de preparação de elenco? Há diferenças entre novelas e séries?
Andrea — Primeiro eu recebo o texto, faço a decupagem de toda a história, entendo o que o diretor-geral e a casa querem em cima do produto, qual é o conceito, a linha de interpretação e a personalidade de cada personagem.
Em uma série de 20 episódios como A Vida de Jó, diferente de uma novela onde se tem mais de 200 capítulos, todas as cenas são muito importantes, e costumo ressaltar isso a meus atores. Por isso, o meu trabalho como preparadora, logo de início, consiste em analisar todas as camadas e identificar a função de cada personagem dentro da narrativa da história.
Em A Vida de Jó tive o privilégio de ter a visão macro da história e construir os caminhos emocionais dos personagens do início ao fim
Então, toda a construção é minuciosa. Em uma série, conseguimos observar o todo. Em uma novela não, porque não temos todos os capítulos à mão. Em A Vida de Jó tive o privilégio de ter a visão macro da história e construir os caminhos emocionais dos personagens do início ao fim. Quando os atores chegaram até mim, fizemos uma primeira leitura, entendemos o arco dramático de cada cena e iniciamos a construção dos papéis a partir disso.

R7 — Os atores chegam para gravar com todas as cenas ensaiadas e prontas?
Andrea — Eu gosto de ensaiar as cenas por muitas vezes. E me inspiro no método da repetição do grande mestre americano Sanford Meisner. Através desta técnica, vamos descobrindo mais camadas, subtextos, intenções e densidades. Então, é um trabalho muito complexo, não é só chegar, decorar e fazer, é entender profundamente quem são aquelas personagens e quais histórias elas querem contar. Existe pesquisa, estudo e dedicação.
Também costumo gravar os meus atores e mostrar para eles, e assim vamos ajustando algumas questões. Esse processo os deixa mais confiantes e eles já chegam no set com praticamente todas as cenas estudadas. E acontece que o diretor fica feliz e consegue aprimorar ainda mais.
É um trabalho muito complexo, não é só chegar, decorar e fazer

R7 — Quantos dias são necessários para uma boa preparação de elenco?
Andrea — A RECORD e a Seriella Productions me dão o privilégio de, às vezes, ter dois meses para preparar o meu elenco. Conseguimos até apresentar algumas cenas para o diretor-geral nos dizer se estamos no caminho certo, e é incrível, o cinema americano faz isso.
Realizamos um processo de trabalho cinematográfico mesmo e a RECORD e a Seriella Productions disponibilizaram essa possibilidade dos atores terem um tempo focado no amadurecimento do personagem. Estou na emissora há 19 anos, dois como preparadora, e fico muito feliz e envaidecida de acompanhar a repercussão do público, principalmente agora em A Vida de Jó, e ver as pessoas elogiando o trabalho dos atores que eu preparei.

R7 — Como foi feita a transição de personagens (Raquel e Jó) entre Mah Duarte, Juliana Dione, Enzo Krieger e Guilherme Berenguer?
Andrea — Quando temos essa questão de ter várias fases de um mesmo personagem, principalmente para os atores mais velhos, eu os faço passarem pela juventude, ou seja, a gente estuda um pouquinho as sequências da primeira parte da trama para eles as vivenciarem de alguma forma e construírem uma memória afetiva.
Primeiro separei o Enzo e a Mah para pegar as cenas deles, e depois o Guilherme e a Juliana, e todos assistiram aos ensaios uns dos outros. Então eles não tinham que imaginar o que aconteceu no passado, eles sabiam exatamente como foi, os tempos, as marcações, os olhares, isso faz toda a diferença.

O Guilherme e a Juliana foram construindo gestuais que pudessem linkar com o Enzo e a Mah. E no próprio texto já tinham indicações de coisas que eles se diziam ou faziam, tanto na fase jovem quanto na adulta, esse é um recurso utilizado na dramaturgia para que o público identifique os personagens.
Foi uma construção em equipe muito linda. Quero deixar registrado o enorme prazer de estar com atores tão talentosos e dedicados. Todos tiveram muito carinho, atenção e respeito com o meu trabalho.
Quero deixar registrado o enorme prazer de estar com atores tão talentosos e dedicados
Acompanhe A Vida de Jó de segunda a sexta, às 21h, na tela da RECORD. Acesse o RecordPlus para rever os episódios.
