Dudu Pelizzari completa 20 anos de carreira com primeiro protagonista na TV em O Senhor e a Serva: ‘Combinação especial’
Ator revisita a trajetória na atuação e preparação minuciosa para viver Caius na série
Entrevista|Gabriel Alberto, do R7

Dudu Pelizzari é conhecido por sua energia contagiante nos bastidores das superproduções da RECORD. E em seu terceiro projeto na emissora, encara a responsabilidade de viver o primeiro protagonista no audiovisual como Caius, na série O Senhor e a Serva.
“Ouso dizer que é um dos anos mais especiais da minha vida”, revela Dudu em uma entrevista ao R7 onde reflete sobre a chegada aos 40 anos de idade e 20 de carreira.
Sincero, o ator abre o jogo sobre o início na atuação e revisita a trajetória, e relembra a chegada à dramaturgia da RECORD em Reis (2022).
No papo exclusivo, Dudu também explica a escolha pelo isolamento para protagonizar a série como Caius, um homem solitário, e reflete sobre a paternidade de Benjamin, seu filho de 9 anos.
Confira a entrevista completa:
R7 — Em 2025, você completou 40 anos de idade, 20 de carreira e agora estreia seu primeiro protagonista na TV aberta. Como você avalia esse momento de vida e carreira?
Dudu — É uma combinação especial. Acho que existe o alinhamento de um equilíbrio que fez com que eu me preparasse para alcançar as grandes oportunidades da vida. Tinha 20 anos no meu primeiro trabalho na TV e são 20 anos de carreira profissional, além do teatro. Ouso dizer que é um dos anos mais especiais da minha vida por chegar aos 40 com saúde, paixão pelo que eu faço e durar tanto tempo na carreira.
E em relação ao primeiro protagonismo, esse título me provoca em um lugar onde acho que o protagonista de uma história, não só tem uma importância como personagem principal, mas também de uma energia que reverbera no set. Então queria saber muito como seria a minha energia como protagonista de um projeto. E do lado da Nathalia [Florentino], acho que conduzimos de uma forma muito leve.

Ouso dizer que é um dos anos mais especiais da minha vida por chegar aos 40 com saúde, paixão pelo que eu faço e durar tanto tempo na carreira
R7 — Como foi seu primeiro contato com a arte e quando se deu conta de que queria ser artista?
Dudu — Desde muito menino. Tive uma avó que era diretora de uma escola. Estudei neste colégio e sempre fui muito rebelde, nunca gostei da educação convencional, de me sentar na sala de aula. Nunca fui muito bom com isso. Sempre fui muito criativo e acho que minha avó percebeu em mim uma aptidão artística que talvez nem eu tivesse percebido. Sempre que ia dormir na casa dela, me colocava para assistir aos filmes dos anos 1940 e 1950.
Até que aos 14 anos pedi a minha mãe para entrar na companhia de teatro. Foi ali que percebi que gostava de fazer teatro e contar histórias. E me apaixonei.
R7 — Foi algo muito nutrido por sua avó. E seus pais já entenderam que você era mais criativo, mais artístico?
Dudu — Não tinha ninguém na família que mexia com arte diretamente. Meu pai e avó tocam piano, mas ator ou atriz não tinha ninguém na família. Teve esse estranhamento inicial, mas meus pais sempre foram combustível para esse meu sonho. Fui muito incentivado e apoiado pela minha estrutura familiar.

R7 — Você tem 20 anos de carreira, fora o tempo de teatro. De que forma os desafios da profissão te moldaram para o artista que você é hoje?
Dudu — Acho que é a persistência. Entendi que o ser humano tem a força na fé e na sua dedicação de conquistar absolutamente tudo, basta se dedicar e estar pronto para as oportunidades. A solidez e a consistência está em saber que eu vou ouvir 300 nãos para ouvir um sim e permanecer, porque sou completamente infeliz sem fazer o que amo, que é a minha arte.
R7 — E você é uma pessoa muito determinada e decidida. Em algum momento chegou a cogitar seguir outra área?
Dudu — Nunca passou pela minha cabeça abandonar a profissão. Sempre que fiquei sem trabalhar ou exercer minha profissão, senti uma dor. Fazendo novela, teatro ou cinema, alimento esse desejo que é contar histórias e me expressar, mostrar essa variedade de ‘Eduardos’ que existem dentro de mim.
Nunca passou pela minha cabeça abandonar a profissão
R7 — Você tem uma carreira consolidada no audiovisual e no teatro. Como estar no palco te ajudou nessa construção?
Dudu — É meu lugar predileto no mundo. Não existe um lugar que sou tão feliz quanto sou no palco enquanto conto uma história. O palco é minha base, meu berço e minha raiz. Os melhores encontros artísticos que tive foram no teatro. Tive mestres como Zé Celso, mas também Elias Andreato, Marco Antônio Rodrigues, Márcio Macena, Denise Weinberg e atuei com atores incríveis.
O processo de construção do teatro é mais manual, porque a televisão tem o imediatismo de chegar e gravar dez cenas por dia e decorar o texto. Claro que há uma construção emocional para os personagens, mas o teatro é um trabalho de lapidação. É uma troca que vai se aprofundando nas relações. Sem o teatro eu sofreria muito.
R7 — Há um interesse da mídia e do público pela sua vida pessoal. Como a maturidade te ajuda também a estabelecer limites, ainda mais com redes sociais?
Dudu — Não penso muito nisso porque não acho minha vida interessante, acho uma vida simples. O que costumo dividir nas minhas redes sociais é o que acho bacana, sempre de uma forma positiva. Divido coisas sobre a minha paternidade para inspirar outros pais e filhos a saber que o pai pode ser uma figura importante na vida.

R7 — O que mudou em você após se tornar pai do Benjamin?
Dudu — Tudo mudou porque o filho é uma figura de transformação em camadas muito profundas. É como se você enxergasse o amor de um tamanho, e quando se torna pai ou mãe, entende que pode ser muito maior do que você poderia descrever. O Ben me inspira a ser mais menino, resgata em mim uma criança que estava adormecida pelo cotidiano e obrigações sociais. É uma criança que carrega a herança do que tenho de melhor e talvez o que eu tenha de pior, e da mãe também. Ele é uma continuidade, é o que fica como legado, como uma responsabilidade. Espero que ele se torne um grande homem, que transforme pessoas e seja afetuoso como é hoje.
Tudo mudou porque o filho é uma figura de transformação em camadas muito profundas
R7 — E vocês são muito parceiros, como é o Dudu pai? Mesmo na parceria tem ali um momento de chamar a atenção?
Dudu — Sou duro até demais. Sofro muito com a distância. Tenho muita sorte ter a Renata [Ricci] como mãe dele. Ela é uma baita parceira e segura muito a onda para que eu esteja aqui realizando meu sonho de ser ator e protagonista de uma história. Mais do que falar sobre minha dureza ou flexibilidade, queria falar sobre o jogo que tenho com a Renata. Sinto que aprendemos a cultivar essa família ‘desconvencional’. A Renata troca muito comigo, tenho certeza de que posso contar com ela e ela sabe que pode contar comigo.
R7 — Quem te acompanha nas redes vê que uma grande companheira sua atualmente é a gaita. Como é essa relação com o instrumento, e é uma forma de você se expressar e trabalhar a sua ansiedade?
Dudu — A gaita foi uma grande companheira. Por precisar falar sobre uma solidão que nunca vivi, percebi que estar sozinho é muito dolorido. E comecei a perceber o que, em mim, ajudava a ser minha própria companhia. A atividade física, que sempre foi minha parceira de muito tempo, a meditação, minha oração e estar comigo mesmo. Na gaita, achei uma parceria muito legal de rotina, comecei a evoluir, e postei uns vídeos para dividir também isso. E sou muito fã do blues, gosto muito do jazz.
R7 — O esporte faz parte da sua rotina e você é bem conectado à natureza, como as atividades te auxiliam na rotina corrida de protagonista?
Dudu — Fazer uma atividade física para liberar essa endorfina é uma forma de me cuidar, pois tenho muita energia. Acredito que a nossa base é uma tríade, com o cuidado da nossa espiritualidade, o nosso corpo e a nossa saúde mental.

R7 — Você chegou à dramaturgia da RECORD em Reis e ficou cerca de sete temporadas na superprodução. Como você avalia o primeiro projeto e a chegada na emissora?
Dudu — Reis transformou a minha vida e da minha família porque me deu uma estrutura de trabalho que nunca tinha tido em nenhum outro lugar, de viver um personagem por sete temporadas, com tantas camadas e reviravoltas. Tanto que tenho pendurada na parede da minha casa a espada do Abner para sempre passar ali e lembrar como foi importante as relações que construí, e por ter entrado em um contato maior com a Bíblia. Abner foi o personagem mais importante da minha trajetória nesses 20 anos.
R7 — O Senhor e a Serva é uma produção com reencontros como com o Alex Morenno. Como tem sido esse projeto nesse quesito?
Dudu — No fim das contas o que resta são as relações, os amigos que fazemos, os encontros artísticos e pessoais que desenvolvemos. Estou apaixonado pelas pessoas que encontrei e conheci aqui. Eu e o Alex temos uma história muito forte porque chegamos juntos à RECORD. Na primeira temporada de Reis éramos uma dupla, fizemos a preparação juntos e continuamos com tendo laços. E somos muito parecidos, temos uma sociabilização grande, admiração, carinho e respeito enormes um pelo outro. Olhar para o Alex é olhar para a minha história aqui dentro. Quando ele fez o teste, eu estava lá e pedi a Deus para me deixar estar com ele neste projeto. Quero que ele esteja no meu primeiro protagonismo e viva isso junto comigo. E me emociona porque é um artista fabuloso, dedicado e curioso.
Reis transformou a minha vida e da minha família porque me deu uma estrutura de trabalho que nunca tinha tido em nenhum outro lugar, de viver um personagem por sete temporadas, com tantas camadas e reviravoltas
R7 — Depois teve uma breve participação em A Rainha da Pérsia como Leônidas. Essa participação tão marcante foi, de certa forma, a consolidação do seu trabalho e da confiança da emissora?
Dudu — Muito, porque estava comprometido com outro projeto e mesmo assim, o Léo Miranda, diretor-geral, grande amigo e profissional, que admiro demais, falou que tinha uma participação afetiva pequena, que daria para conciliar. E eu topei. Isso fez com que eu me sentisse valorizado. Para que vou sair da RECORD, se foi a emissora que me abriu as portas, me deu um grande personagem e está me dando um protagonista? Valorizo a quem me valoriza, uma autora que pensa em mim como protagonista, um diretor-geral que me coloca para fazer um personagem para eu estar no projeto, uma equipe que sabe o meu nome e um time que joga junto comigo. Não tenho pretensão de sair daqui. Estou muito feliz e satisfeito.

R7 — Já com o Caius, em alguns aspectos, é um personagem que sai da fisicalidade e traz temas como culpa e luto. Como foi para você lidar com esses sentimentos do Caius?
Dudu — O Caius explorou uma dor em mim muito profunda. Tive que vasculhar lugares muito íntimos para alcançar a dor que ele sente e pegar emprestado algumas emoções minhas.
R7 — De uma forma geral, como foi esse processo de preparação? Por esse isolamento que você optou, isso ajudou a encontrar o Caius em você?
Dudu — Acho que me encontrei em outra atmosfera, porque a ideia de representar uma solidão é falar sobre algo que não conheço. Precisava muito ficar sozinho, e aquele quarto, para mim, foi uma melancolia poética. Li e estudei, investi muito no lado intelectual, meditei e orei. E pedi permissão a essa existência, desse homem, que carrega um peso enorme, que, por um erro dele, perdeu o grande amor. Olha o tamanho dessa dor.
R7 — E quem é o Caius, como o público o conhece?
Dudu — O Caius é um homem que você vai encontrar na dor. Eu e a Nathalia [Florentino] começamos a preparação quatro meses antes. A Nara Marques [preparadora de elenco da série] foi uma condutora e uma grande maestrina. É importante falar isso porque o trabalho dela merece ser enaltecido, como ela conduziu bem o meu encontro com a Nath e comigo mesmo, e o da Nathalia com ela mesma, além da combinação desses personagens dentro das suas dores e amores. O Caius é um, perante as filhas, é outro, pois provocam a dor da lembrança da mãe. E a Elisa desperta o quê nesse homem? A Nara fez um trabalho de preparação para entendermos o que é esse amor.
O Caius é um homem que você vai encontrar na dor
R7 — Você e a Nathalia já se conheciam ou se conheceram nesse trabalho?
Dudu — Fiz uma pequena participação em A Rainha da Pérsia, mas não gravei com ela, só a encontrei nos bastidores. Viemos a nos conhecer mesmo no processo de preparação e foi incrível. A Nathalia é um ser humano a ser estudado, de uma sensibilidade incrível. Somos parecidos em relação a devoção à arte, à dedicação e ao afeto pelo outro, nos encontramos em um lugar de amor e generosidade muito grande.

R7 — Qual a principal mensagem que a série vai levar e como está a expectativa para a história chegar ao público?
Dudu — Nunca consegui controlar essa tal de ansiedade de quando a gente faz um trabalho, ficar esperando para sair. São seis meses da minha vida dedicados completamente a esse trabalho. A função dessa trama maravilhosamente escrita pela Cristiane Cardoso é de resgatar a esperança no amor em si, em Deus e pelo próximo. É sobre amor essa história.
R7 — É possível refletir como você sai desse projeto profissionalmente e pessoalmente?
Dudu — Muito satisfeito. Saio feliz com os encontros com a Nathalia, com o elenco, com a direção do Guga [Sander] e com toda a equipe. Espero que transforme vidas e inspire pessoas que não acreditavam mais no amor e ao ver a história do Caius entendam que a dor faz parte do processo, mas a partir do momento em que entregamos a vida a Jesus, tudo muda. Vou guardar vários momentos na minha memória, que nunca vou esquecer. É meu primeiro protagonista, vou amar esse momento para sempre.
Espero que transforme vidas e inspire pessoas que não acreditavam mais no amor e ao ver a história do Caius entendam que a dor faz parte do processo, mas a partir do momento em que entregamos a vida a Jesus, tudo muda
R7 — Quais os planos com o fim das gravações? Vai voltar para São Paulo?
Dudu — Volto para São Paulo após o encerramento das gravações. Devo começar um monólogo que tenho chamado Prazer, Hamlet, e a resposta de um projeto de cinema, além de esperar o convite para voltar e estar com vocês de novo.
Acompanhe O Senhor e a Serva de segunda a sexta, às 21h, na tela da RECORD. Acesse o RecordPlus para rever os episódios.
