‘É uma honra estar nessa posição de representatividade’, diz a campeã olímpica Bia Souza
Judoca falou com exclusividade ao R7 sobre sonho em ser bicampeã olímpica, exposição nas redes e inspirações dentro e fora do tatame
Entrevista|Carol Malheiro*, do R7

Bia Souza se tornou uma das principais referências no judô atual depois de conquistar a medalha de ouro nas Olimpíadas de Paris. Um ano após viver o momento histórico, a judoca já se prepara, com uma intensa rotina de treinos, para Los Angeles-2028, onde sonha em ser bicampeã olímpica, o que a tornaria a primeira atleta do esporte a conquistar esse feito.
“Tem muitas competições que eu ainda não ganhei. Tem o Campeonato Mundial, que é a segunda competição mais importante entre os atletas de alto rendimento, pelo menos dentro do judô. Já tenho as três medalhas, tenho a prata e dois bronzes, falta o ouro para completar o meu pódio no Campeonato Mundial. E, sem dúvida nenhuma, ir em busca do próximo ouro olímpico. Ser bicampeã olímpica, acho que seria outra grande realização, então, em busca de Los Angeles. ”, diz Bia Souza, em entrevista exclusiva ao R7.
A judoca conta que muitas coisas mudaram depois do ouro olímpico em Paris, principalmente, fora do tatame. Com mais de 3 milhões de seguidores nas redes sociais, Bia começou a compartilhar mais da própria rotina, mas ainda prioriza a privacidade. Segundo a atleta, com aumento da popularidade dela e do esporte, ela ganhou um papel importante em inspirar as pessoas, sobretudo as crianças.
“É uma honra estar nessa posição de representatividade. Ainda mais sendo mulher dentro desse esporte, que é predominantemente masculino. Por mais que a mulherada esteja dominando. É uma questão de a criançada se enxergar em mim, de ver o quanto eu sonhei, o quanto eu corri atrás, e se inspirar e correr atrás dos próprios sonhos e verem que podem sonhar com o impossível.”, fala a judoca.
O impossível é, sim, capaz de ser realizado, basta se dedicar, basta acreditar e sonhar alto.
Criada em Peruíbe, litoral de São Paulo, a judoca vive hoje na capital paulista com o marido, Daniel, ex-jogador de basquete, e os cães Danbi, Fiona e Athena. Bia Souza começou a treinar ainda na infância com 7 anos e deixou a casa dos pais bem jovem para se dedicar de forma profissional ao esporte.
“Eu sou uma pessoa muita ligada à minha família, então, o fato de não ver eles todos os dias, de não conseguir ir todos os finais de semana para casa. Sem poder ver eles, só em ligação. Foi algo muito desafiador porque eu tive que amadurecer muito rápido, em questão de assumir as responsabilidades, em questão de horários, em questão de entrega, entregar meu 100% na escola porque eu ainda precisava me formar. Entregar meu 100% nos treinos porque tinha acabado a fase de ser apenas um hobbie, de ser só uma atividade física, e realmente virou algo em busca de um grande sonho.”.

Veja a entrevista na íntegra
R7 - Quais as mudanças mais impactantes que aconteceram na sua vida um ano após a conquista do ouro em Paris?
Bia Souza - Com certeza a parte fora tatame, a parte das palestras, dos eventos, de fazer mais entrevistas, de ganhar mais visibilidade não só para mim, mas também para a modalidade. Então, essa foi a maior mudança porque dentro do tatame a gente continua treinando todos os dias, a rotina de treinos se mantém a mesma. Então, acho que a maior mudança aconteceu fora tatame.
R7 - Depois do ouro, você ganhou muita visibilidade na mídia, você passou a estar presente na TV das casas brasileiras diariamente, como você lida com essa exposição e popularidade?
Bia Souza - Eu acho que ganhei um papel importante. Tento não mostrar muito da minha vida privada, sou um pouco mais tímida do que a galera espera. Mas aos poucos estou começando a me soltar, mostrar um pouquinho mais da minha rotina. Do que eu vou fazer nos eventos. Mas eu tento ser um pouco mais reserva, mas ainda mostrar para galera o que eu estou conquistando, o que eu estou conseguindo alcançar, os lugares em que estou chegando. É um grande impacto para a galera ver, é mais representatividade para as crianças verem onde podem chegar quando acreditam nos sonhos, quando realmente estão buscando algo.
R7 - Em algum momento, você já pensou em desistir do esporte? Como superou esse desafio?
Bia Souza - Acho que todo atleta de alto rendimento já pensou isso em algum momento. É um caminho de muitos sacrifícios, a gente abre mão de muitas coisas, a gente sempre ultrapassa os limites diariamente. Às vezes, a gente espera chegar em uma competição e ir super bem, às vezes acaba não acontecendo, não dando resultado. Às vezes, o caminho é difícil durante os treinos. A gente pensa “será que realmente vai valer a pena, será que vai dar certo?”. Todo mundo passa por isso em algum momento. Mas acho que nosso objetivo é tão grande, nós temos isso como nossa maior prioridade. E é o que nos faz não desistir. Por mais que a gente passe por um momento de exaustão, a gente continua se motivando, em busca do nosso real objetivo, que para o alto rendimento, é as Olimpíadas.
R7 - O que você diria para sua eu de 7 anos que começou a treinar judô?
Bia Souza - Eu diria que por mais que pareça muito difícil, não vai ser fácil, mas vai valer cada segundo quando você estiver subindo no pódio. Então, não desista.
R7 - Quem são suas maiores inspirações dentro e fora do tatame?
Bia Souza - Dentro do tatame, sem dúvidas, não tem como não falar do Leandro Guilheiro, meu chefe, meu técnico. A Maria Suelen, com quem eu disputei a vaga olímpica em Tóquio em 2020. O Baby, o Rafa, não tem como, me bateu muito durante os nossos treinos, durante a trajetória dele. O Thiago Camilo. A Maira Aguiar. São grandes nomes, grandes referências que eu levo para minha vida. E fora dos tatames, meus pais, minha família, meu marido, são também grandes inspirações.
R7 - O Daniel, seu marido, também já foi atleta, como ele te ajuda antes e durante as competições?
Bia Souza - Ele tenta me deixar o mais tranquila possível em relação à questão de casa. Ele sempre me ajuda. Se eu reclamo do treino, ele tenta me trazer um pouco de paz, tipo “fica tranquila”, “vai dar tudo certo”, “amanhã você pode treinar melhor”. Então, ele sempre tenta acalmar a “fera” antes de qualquer coisa.
R7 - Como você consegue equilibrar a rotina intensa de treinos com a vida pessoal?
Bia Souza - Eu tenho muita ajuda. Ele sempre me ajuda muito, arruma a casa, faz a comida. Então, eu não tenho tantos trabalhos em casa. Ainda tenho os cachorros para me distrair, eu brinco muito com as cachorrinhas, então, já alivia a pressão. Toda ajuda deles é muito bem-vinda. Então, eu consigo equilibrar muito bem toda a entrega dentro do tatame, chegar em casa e realmente conseguir descansar. Nem que seja para sentar, assistir a um filme, ler um livro, no sossego de casa.
R7 - Você saiu cedo de casa para treinar de forma profissional, como foi esse período de crescer longe da família?
Bia Souza - Foi muito desafiador porque acho que uma coisa é você praticar o esporte morando nas casas do pai, quando você chega comida está pronta, cama está arrumada. E outra coisa é você ter que sair de casa e lidar com todas as responsabilidades, sem contar as saudades. Eu sou uma pessoa muita ligada à minha família, então, o fato de não ver eles todos os dias, de não conseguir ir todos os finais de semana para casa. Sem poder ver eles, só em ligação.
Foi algo muito desafiador porque eu tive que amadurecer muito rápido, em questão de assumir as responsabilidades, em questão de horários, em questão de entrega, entregar meu 100% na escola porque eu ainda precisava me formar. Entregar meu 100% nos treinos porque tinha acabado a fase de ser apenas um hobbie, de ser só uma atividade física, e realmente virou algo em busca de um grande sonho. Então, a dedicação tinha que ser algo muito maior. Foi muito desafiador no quesito de ter que amadurecer muito rápido e controlar a saudade, que era imensa.
R7 - O que mais você quer conquistar na vida profissional?
Bia Souza - Tem muitas competições que eu ainda não ganhei. Tem o Campeonato Mundial, que é a segunda competição mais importante entre os atletas de alto rendimento, pelo menos dentro do judô. Já tenho as três medalhas, tenho a prata e dois bronzes, falta o ouro para completar o meu pódio no Campeonato Mundial. Então, estou em busca do meu Campeonato Mundial. Tem uns Grand Slams muito importantes que eu ainda quero ganhar. E, sem dúvida nenhuma, ir em busca do próximo ouro olímpico. Ser bicampeã olímpica, acho que seria outra grande realização, então, em busca de Los Angeles.
R7 - O que mudou na sua preparação para as competições depois do ouro olímpico?
Bia Souza - Acho que a rotina continua a mesma, isso a gente nem tem como mexer. Mas em questão de planejamento desse ano, como eu já fiz a maior parte das competições no primeiro semestre, agora, eu estou dando mais uma relaxa em relação a competições. Então, o foco está só em treinar mesmo e ir ajustando os detalhes. E a parte de treinamento específico vai começar a partir do ano que vem junto com as competições. Os dois vão andar juntos, tanto o planejamento de um treino específico em questão técnica e tática, quanto as competições. E agora é mais preparação física, trabalhar mais o corpo e o mental.
R7 - Como é a sua preparação psicológica para as competições?
Bia Souza - Eu faço acompanhamento psicológico há um bom tempo, agora eu tenho tanto um coach, quanto uma psicóloga. A gente trabalha o melhor possível, sempre em busca de pensamentos positivos, sempre em busca de focar realmente na parte da concentração, dos detalhes e em questões técnicas e táticas dentro do tatame. É algo fundamental para mim, é algo que eu preciso estar ali semanalmente, sempre trabalhando. É o que vai me ajudar a chegar a Los Angeles da melhor forma, tirando toda e qualquer pressão porque agora que eu sou campeã olímpica, todo mundo espera cada vez mais resultados em cima disso. Continuar trabalhando para afastar essa pressão.
R7 - Como está a preparação durante esse novo ciclo olímpico para as Olimpíadas de Los Angeles em 2028?
Bia Souza - A fase de busca de vaga vai começar quando o ranking olímpico abrir para gente, abre um ano e meio antes da Olimpíada. Querendo ou não, tudo é uma questão de preparação até chegar lá, até abrir esse ranking olímpico que é onde a gente vai começar a ir em busca de uma posição melhor para cair em um chaveamento melhor, para uma classificação melhor. A meta é manter a tranquilidade, o foco é em cada competição. Por mais que eu esteja de olho lá em Los Angeles, o foco é trabalhar uma competição de cada vez. Acho que é isso que vai transformando a caminhada até a próxima medalha.
R7 - Como você enxerga o fato de ser uma inspiração para as pessoas, principalmente, para as crianças?
Bia Souza - É muito grandioso isso. É uma honra estar nessa posição de representatividade. Ainda mais sendo mulher dentro desse esporte, que é predominantemente masculino. Por mais que a mulherada esteja dominando. É uma questão de a criançada se enxergar em mim, de ver o quanto eu sonhei, o quanto eu corri atrás, e se inspirar e correr atrás dos próprios sonhos e verem que podem sonhar com o impossível.
O impossível é sim capaz de ser realizado, basta se dedicar, basta acreditar e sonhar alto. É uma grande responsabilidade e me sinto muito honrada de estar nessa posição porque eu sei o quanto é importante. Eu tive as minhas inspirações, tanto dentro da minha casa, quanto em cima do tatame. Sempre tive grandes nomes em quem me inspirar. E eu quero que a galera, principalmente, a criançada veja isso em mim e queiram sonhar mais alto. Queiram conquistar sonhos que podem parecer impossível, porque o esporte muda vidas e eu acredito muito nisso, mudou a minha vida. E está mudando inúmeras vidas por aí.
*Sob supervisão de Camila Juliotti
