Loira burra? ‘Música do Gabriel, o Pensador destruiu minha adolescência’, diz Grazi
Atriz conta que aprendeu a lucrar com a beleza e diz que as mulheres estão sempre ‘à beira da loucura’
Em evidência por conta da conclusão das gravações da novela Dona Beja, na qual aparecerá nua em cima de um cavalo, a atriz Grazi Massafera, 41 anos, é ainda protagonista do filme Uma Família Feliz, que estreou no mês passado.
A artista não gosta de falar de vida pessoal, mas se abriu um pouco durante um bate-papo com jornalistas na ocasião de lançamento do longa. Falou sobre o trauma de ser chamada de “loira burra”, de como aprendeu a lucrar com a beleza e de machismo.
“A gente deveria ter um plano de saúde feminino para ajudar a gente na TPM, no puerpério e na menopausa. A gente está sempre à beira da loucura”, afirmou.
Confira trechos da conversa, que ocorreu em uma sala de cinema de São Paulo:
Princesa da Disney
Minha mãe me criou contando as histórias da Disney, das princesas. Eu achava que eu era. Aí, depois, quando veio a Fiona, eu me identifiquei. Entendeu? Aí a real identificação aconteceu. Eu nunca me achei essa beleza que diziam. Mas usei ela a meu favor e comecei a faturar com isso. Você me acha bonita? Então tá bom. Vamos fazer uma publicidade, um concurso de Miss, realizar o sonho da minha mãe, que foi bonito. Eu não utilizo a beleza do jeito que ela gostaria.
Bonita e burra
Fui jogando a meu favor. Até que o dia em que acreditei que eu era bonita e burra. Eu acreditei, porque era esse o padrão, né? Tinha aquela música do Gabriel, o Pensador, que eu odeio, Loira Burra! Ele destruiu a minha adolescência com essa música. Ele ajudava o ginásio a cantar. Só que eu me fortalecia através disso. E, depois que o Bial veio com aquele discurso no Big Brother, aí descobri quem eu era. Que a beleza, ela é a casca. Só que tenho muito mais para oferecer. Quando acreditei nisso, real, a beleza passou a ser uma embalagem que utilizo a meu favor.
Maternidade
Ninguém tinha me dito como seria difícil. A gente tem um apoio grande e tenta normalizar essas questões. Mas elas não são normais, não devem ser mais. A gente é muito complexa.
Loucura feminina
Para deixar a Eva [protagonista do filme ‘Uma Família Feliz’] como parte desse grupo de suspeitos [do quem matou?], o mais interessante era fazer ela se questionar: ‘Eu estou louca?’ E qual de nós diariamente não se questiona isso por algum motivo ou por alguma acusação? A inspiração veio de mulheres que passaram pela minha vida, por mim mesma, pelo que passei, pelo que passo ainda.
Cinema
A Eva foi acontecendo. Gosto do personagem que vai sendo criado no set. A gente teve uma semana e meia de ensaio, um texto genial [roteiro do escritor Raphael Montes]. Essa delícia de poder experimentar algo que para a TV teria que ser mais explícito, que sublinhar mais o sentimento. A tela amplifica o seu pensamento. Eu e o Giane [Reynaldo Gianecchini, que contracena com ela], a gente saía do ensaio enlouquecido, mas de uma maneira boa, que te desconecta de tudo. E o essencial é retratar essa sociedade que esconde o que sente, que é um pouco da internet, do que a gente está vivendo hoje.
Plano de…
Brinco quer nós, mulheres, devemos ter… como é o nome? Aquele negócio de saúde… Nossa gente, que todo o mundo tem que pagar? Isso, plano de saúde. Nossa, foi a Covid que me deu essa coisa [de esquecer]. A gente deveria ter um plano de saúde feminino para ajudar na TPM, no puerpério e na menopausa — porque daqui a pouco vem de novo. A gente está sempre à beira da loucura. E eu acho ruim falar à beira da loucura. Pronto, já mudei. Num limiar hormonal ali difícil.
Ócio criativo
Eu não gosto de emendar trabalhos, gosto de ter um tempo ócio para vivenciar a minha vida física, ficar com a minha filha. Esses vácuos que dou, às vezes, me ajudam a entender o que quero, a assistir a muita coisa.
Quem nunca?
Nesse universo feminino, [a gente] é sempre questionada, o tempo todo. Todas passamos por um puerpério que quimicamente é real, acontece no nosso corpo. Ninguém entende, nem nós entendemos. A gente reflete o tempo todo e vemos que o parceiro masculino, só de estar ali com frases violentas, mas pega a criança no colo, então pronto, ele é um bom pai. É um cara passivo-agressivo [o personagem de Gianecchini]. Quem nunca passou por isso, mulherada? E isso sendo branca e loira. Imagina se essa mulher é negra?