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R7 Entrevista

‘Meu pai e Gilberto Gil me buscavam na escola’, diz Aston Barrett Jr., líder do The Wailers, banda de Bob Marley

Grupo esteve em turnê no Brasil pelo terceiro ano seguido; baixista falou da relação com o país, futebol e futuro do reggae

Entrevista|João Pedro Benedetti, do R7*


Aston Barret Jr., comemorou seu aniversário de 34 anos durante último show no Brasil
Aston Barret Jr. comemorou aniversário de 34 anos durante show no Brasil Divulgação/Rafael Strabelli @rafaelstrabelli

Grande parte dos clássicos do reggae são lembrados até hoje na voz do icônico Bob Marley (1946 - 1981) e performados por sua banda, The Wailers. Em 2024, o álbum Legend, coletânea do gênero musical mais vendida da história, completa 40 anos de lançamento.

Para celebrar e perpetuar essa cultura, a banda finalizou a turnê mundial em um show de mais de três horas no Espaço Unimed, em São Paulo, no último dia 20 de outubro. Atualmente, o conjunto é liderado pelo jamaicano Aston Barrett Jr. — filho de Aston “FamilyMan” Barrett (1946 - 2024), lendário baixista e ex-líder da banda ao lado de Bob, e sobrinho do baterista Carlton Barrett (1950 - 1987) —, que celebrou o aniversário de 34 anos no palco, em sua apresentação ao público paulista.

“O Brasil e o The Wailers sempre tiveram uma conexão forte. Bob Marley visitou o Brasil em 1980 para sentir o clima e vivenciar a cultura. Meu pai, Aston “FamilyMan” Barrett, e eu fizemos nossa primeira turnê brasileira com membros que tocaram com Bob entre 2015 e 2016. Foi, aí, que a jornada começou”, ressalta Aston.


Em entrevista exclusiva ao R7, o baixista Aston fala do futuro e a oportunidade de reviver seu pai no filme One Love, lançado neste ano. Além disso, ele exalta o desafio de manter a relevância mundial do The Wailers e comenta a ligação com um dos ídolos do MPB, o baiano Gilberto Gil, e a paixão pelo futebol. “Sei o quanto o Brasil é apaixonado por esse esporte e é sempre incrível ver o quanto une as pessoas, assim como a música”, declara.

Confira na íntegra o bate-papo:


R7 - Você é filho de Aston “FamilyMan” Barrett, baixista e líder do The Wailers ao lado de Bob Marley, e sobrinho do baterista Carlton Barrett. Como foi crescer nesse ambiente musical e ter a oportunidade de levar adiante o legado do The Wailers, agora como líder?

Aston Barret Jr. - Sinto uma honra e um privilégio enorme em poder levar adiante o legado do meu pai. Para mim, é importante que o nome do The Wailers permaneça fiel às suas raízes, protegendo-o contra deturpações ou usos indevidos. Enquanto alguns tiveram conexões com a jornada do meu pai e de Bob Marley, e outros talvez não, eu continuo comprometido em manter a integridade do The Wailers e espalhar sua mensagem atemporal pelo mundo.


R7 - Pelo terceiro ano consecutivo, o The Wailers está em turnê pelo Brasil. Qual é a relação da banda com o país?

Aston Barret Jr. - O Brasil e o The Wailers sempre tiveram uma conexão forte. Bob Marley visitou o Brasil em 1980 para sentir o clima e vivenciar a cultura. Meu pai e eu fizemos nossa primeira turnê brasileira com membros que tocaram com Bob entre 2015 e 2016. Foi, aí, que a jornada começou – quando meu pai me disse que era a hora de eu liderar a banda. O Brasil foi o primeiro lugar onde comecei meu treinamento.

Parceria entre Gilberto Gil e os The Wailers ultrapassava o cenário musical
Parceria entre Gilberto Gil e The Wailers ultrapassou o cenário musical Reprodução/X @gilbertogil

R7 - Gilberto Gil foi uma das figuras brasileiras mais importantes na promoção do reggae no país, era amigo de seu pai e até colaborou com o The Wailers na canção Vamos Fugir, que se tornou um sucesso nacional. Além de Gil, quais são suas influências musicais e o que você conhece da MPB?

Aston Barret Jr. - Quando eu tinha uns 7 ou 8 anos, meu pai e Gilberto vinham me buscar na escola, e a música que eu ouvia me inspirava profundamente. No Brasil, há um grande respeito pelo reggae. Outro momento significativo para mim no Brasil foi ver o videoclipe do Michael Jackson para a música They Don’t Care About Us [gravado no Rio (RJ) e em Salvador (BA) em 1995, com participação do grupo baiano Olodum]. A música e a percussão me impactaram muito.

R7 - Como retratado no filme One Love, Bob Marley e toda a banda tinham uma conexão especial com o futebol. Essa relação especial permanece na banda? Vocês torcem para algum time? Conhecem algum time brasileiro?

Aston Barret Jr. - Sim, alguns de nós ainda jogam e outros assistem a futebol quando possível. Meu pai era um grande fã do esporte, já que faz parte da cultura jamaicana. Quando estamos em turnê, às vezes conseguimos jogar nos momentos de folga. Quanto aos times brasileiros, embora eu não acompanhe de perto, sei o quanto o país é apaixonado pelo futebol, e é sempre incrível ver o quanto o esporte une as pessoas, assim como a música faz.

R7 - Ainda falando de One Love, como foi para você interpretar o próprio pai e reviver a história da banda e sua influência, não só na Jamaica, mas em todo o mundo?

Aston Barret Jr. - Foi uma benção interpretar meu pai, um privilégio, porque ele é meu herói, ao lado de minha mãe. Fiquei muito feliz em mostrar ao mundo quem meu pai era – bem-vestido, bem-articulado e imensamente importante para o nome e a missão do The Wailers.

R7 - Como você vê o poder e a influência do reggae hoje em dia? A rapidez dos tempos modernos e a música das gerações mais jovens impactaram a difusão da sua mensagem?

Aston Barret Jr. - O reggae é a voz do povo, uma música que, realmente, não cabe em nenhuma categoria específica. É atemporal – não é sobre ser velho ou novo. O reggae está sempre lá para aqueles que precisam se sentir ouvidos, que estão passando por momentos difíceis ou se sentindo perdidos. É um tipo especial de música que ajuda as pessoas a encontrar paz, e quando elas sentem isso, não sentem dor.

R7-Qual mensagem você espera transmitir com o novo álbum, Evolution?

Aston Barret Jr. - Evolution representa um novo movimento para o The Wailers. Desta vez, estamos trazendo o som autêntico do reggae para a era moderna, com uma mensagem que pode iluminar as pessoas.

Banda encerrou a turnê mundial com 10 shows no Brasil durante o mês de outubro
Banda encerrou a turnê mundial com dez shows no Brasil em outubro Divulgação/Rafael Strabelli @rafaelstrabelli

R7- Durante a turnê no Brasil, você se apresentou com vários artistas brasileiros, como Armandinho, Maneva e Mato Seco, além do britânico Pato Banton. Como você entende a interseção internacional da cultura reggae?

Aston Barret Jr. - Como Bob Marley disse, essa música vai crescer cada vez mais até alcançar o público certo e, mesmo depois disso, continuará crescendo. O reggae não tem fim, especialmente quando é tocado com a intenção e a energia corretas.

R7 - Além de apresentar músicas novas de Evolution, essa turnê celebra o 40º aniversário de Legend, de Bob Marley e The Wailers, o álbum de reggae mais vendido da história. Qual a sua visão sobre o poder cultural e musical desse álbum, que transcende gerações?

Aston Barret Jr. - Esse álbum representa paz, amor e união. O hino definitivo do reggae é a música One Love – não importa o que aconteça, tudo volta para One Love.

R7 - Como é se apresentar com o holandês Mitchell Brunings, que foi escolhido pela família Marley para ser vocalista da banda? Além da semelhança vocal, há outras formas em que ele se encaixou com o The Wailers?

Aston Barret Jr. - É incrível me apresentar com Mitchell. Ele tem uma voz poderosa e sabe como envolver o público. É um ótimo cantor e, embora eu o tenha escolhido para cantar com o The Wailers, ele foi, na verdade, escolhido pela família Marley em 2015 para seu papel no musical One Love. Além da semelhança vocal, sua energia e respeito pela música o ajudaram a se integrar imediatamente à banda.

Ao longo dos anos, o The Wailers teve muitos cantores que vieram e se foram, cada um desempenhando seu papel na continuidade do legado. Agora, Mitchell está fazendo sua parte, e sua energia e talento são uma grande adição à banda. Ele se encaixa perfeitamente, não apenas pela voz poderosa, mas também pelo respeito que tem pela música e pelo que ela representa.


*Estagiário sob supervisão de Thaís Sant’Anna


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