Paloma Bernardi: 'Fui muito feliz dando vida a Bateseba'
Atriz celebra sucesso com personagem de 'Reis', da Record TV, reflete sobre trajetória na atuação e fala de novos projetos
Entrevista|Thaís Silveira, do R7
Quem acompanhou a sétima temporada da série Reis, intitulada O Pecado, se comoveu com a trama de Bateseba (Paloma Bernardi). Com uma história trágica, a personagem se casa com o guerreiro Urias (Roger Gobeth), mas trai o marido com o rei Davi (Cirillo Luna). A partir daí, os dois começam a sofrer as consequências — que se refletem ao longo da oitava temporada, no ar na Record TV.
Paloma Bernardi passou por um longo percurso para viver as dúvidas e os erros da israelita, que chega a perder o primeiro filho, fruto do pecado com o rei. Ela mesma lembra que a intensidade e o sofrimento vieram "em doses homeopáticas". Após uma longa jornada, da quarta à sétima temporada, a atriz se diz muito feliz pelo resultado do trabalho e comenta a importância de dar uma pausa para contar novas histórias.
Paralelamente a isso, os fãs da atriz podem vê-la em diferentes versões: no filme TPM! Meu Amor, cuja estreia será na próxima quinta-feira (31), e no longa Ninguém É de Ninguém, lançado no fim de abril. Em um bate-papo com o R7 ENTREVISTA, Paloma relembra sua trajetória no meio artístico, que começou quando ainda era criança, o amor pela atuação e tudo o que envolve um set de gravação, além das experiências em diversas produções. "Meu dever é contar histórias, independentemente de ser no teatro, no cinema ou na TV", diz ela. Acompanhe.
R7 — A Bateseba foi sua primeira personagem como protagonista em uma trama na Record TV. Como esse trabalho marcou a sua carreira?
Paloma Bernardi— Eu sou muito grata, fico muito feliz, porque já trabalho há tantos anos. Estou no mercado desde os 4 anos de idade, com publicidade, sempre fiz teatro e, graças a Deus, tive boas oportunidades. Acredito que, a partir do momento em que uma casa como a Record TV me convida para ser protagonista, é porque confia no meu trabalho, acredita na minha verdade cênica. E também porque os trabalhos que vivi na casa deixaram bons frutos. Claro que sempre é uma missão desafiadora. Quanto mais aumenta a confiança, crescem também a responsabilidade, a entrega.
Acredito que foi uma parceria de sucesso, como as outras. Fui muito feliz dando vida a Bateseba e pelo retorno que tive da empresa e do público. Mesmo que já seja outra atriz que vive a personagem no momento, as pessoas ainda estão me reverberando de alguma maneira. Então, tenho um retorno muito positivo.
É um trabalho que eu não fiz sozinha, é um conjunto de talentos que construíram a Bateseba, desde a direção até o figurino, a caracterização, a nossa preparadora de elenco, que foi a Suzana Abranches, meu trabalho individual, como atriz, a troca com os outros atores… Bateseba só existe também por esse trabalho coletivo, que é o que me encanta.
Acho que o aprendizado [com Bateseba] é muito claro. A nossa vida é feita de escolhas. Eu já tenho isso%2C mas%2C vivendo à flor da pele a personagem%2C só confirmou aquilo em que acredito. As nossas escolhas nos levam a caminhos diferentes. Por meio delas%2C temos ganhos e perdas. Precisamos pensar muito naquilo que não gostaríamos que fizessem com nós mesmos
A personagem foi ganhando uma importância ao longo das temporadas até chegar de fato ao ápice da história, que foi o pecado com Davi no fim da sétima temporada. Como foi esse processo tão intenso para você? O que mais a desafiou?
A intensidade da personagem foi vindo em doses homeopáticas. Ela entrou no finalzinho da quarta [temporada], viveu um pouquinho da quinta. Na sexta, ela já estava um turbilhão, para, na sétima, explodir. Lembro que a equipe, que já tinha os episódios antes da gente, dizia: "Paloma, você vai sofrer muito lá na sétima temporada". E eu dizia: "Calma, um passo de cada vez".
Eu vivi esse desafio realmente com um passinho de cada vez, um trabalho de formiguinha. Como é na vida, né? Não sabemos o dia seguinte, é sempre uma surpresa. Eu sabia qual era a história da Bateseba, porque é bíblica, mas não como aconteceria, a intensidade, a quantidade de cenas que eu ia gravar… Preferi não ler os episódios lá na frente logo que comecei para ir vivendo de pouquinho em pouquinho. Só acumulando dores, porque Bateseba foi um poço de sofrimento.
Ela foi vítima de seus próprios desejos, de sua instabilidade emocional e afetiva, que resultaram no grande pecado com Davi. Hoje, ele está vivendo as consequências no ar [na oitava temporada, já com Petrônio Gontijo no papel].
Já no final da sétima temporada, a Bateseba passa por um processo de amadurecimento muito grande. O que você leva dela para a sua vida?
Acho que o aprendizado é muito claro. A nossa vida é feita de escolhas. Eu já tenho isso, mas, vivendo à flor da pele a personagem, só confirmou aquilo em que acredito. As nossas escolhas nos levam a caminhos diferentes. Por meio delas, temos ganhos e perdas. Precisamos pensar muito naquilo que não gostaríamos que fizessem com nós mesmos. Todas essas frases clichês são verdade. Trocar o certo pelo duvidoso… Viver em cima do muro, com dúvidas, fazer más escolhas, prejudicar alguém que te ama por uma aventura, por um desejo… A história aconteceu tempos atrás, mas são realidades nos dias de hoje, situações por que eu já passei, com que muitas pessoas podem se identificar e pensar: "Antes de tomar qualquer decisão precipitada, vale a pena?".
É [preciso] entrar em contato com você mesmo, ter um autoconhecimento aguçado para escolher melhor seus caminhos e suas orações também, porque acredito que a espiritualidade pode ajudar nesse sentido. E ir driblando as barreiras, os obstáculos, aprendendo com os próprios erros. Acho que isso é o mais importante.
Todo mundo erra, Bateseba e Davi traíram, acho que é um pecado gravíssimo, machucaram pessoas que os amavam. Mas, se aprende com o erro, você acaba tendo uma lição de vida e se torna uma pessoa melhor também para outras pessoas que olham para essa história.
A trama continua atual, mesmo depois de tanto tempo?
Muito. É lindo poder dar vida a personagens históricos, mais do que bíblicos. O ser humano continua com as mesmas questões, seja ambição, traição, ganância, amor, ódio, perdão… Já é assim desde a pré-história, desde que o mundo é mundo. Os conflitos de relacionamento humano, sejam quais forem, entre pai, mãe e filhos, existem. Por isso, acho que o autoconhecimento é a melhor forma para se relacionar com você mesmo e com as outras pessoas.
Bateseba (Paloma Bernardi) pede perdão a Deus em cena da sétima temporada, O Pecado
Como é se despedir de uma personagem e depois voltar a interpretar outro papel? Você precisa dar um tempo ou mudar o visual?
Tudo isso ajuda. Realmente, eu fico muito apegada. Para passar o bastão para a Anna Lima foi difícil (risos). Eu adoro a Anna Lima, fiquei muito feliz que ela está dando sequência à história da Bateseba, mas meu coração fica apertado, porque, por um período da minha vida, eu vivi mais a Bateseba do que a Paloma (risos).
Nós nos apegamos à rotina, às pessoas, ao trabalho em si e, também, à personagem. Quando acaba, é um vazio. Falei: "Não tenho um roteiro de gravação, para onde eu vou, o que tenho que fazer?". Fico um pouco perdida, mas isso faz parte, todo trabalho tem começo, meio e fim. Eu prezo por um período de respiro, de reciclagem, porque quero muito contar outras histórias, diferentes da de Bateseba; então, tem que ter esse tempo para dar uma repaginada mesmo. Aí, um corte de cabelo pode ajudar, umas férias, uma viagem. Até fazer nada é tudo nessas horas.
Eu estava tão imbuída daquele sofrimento da história que também é bom não fazer nada, descansar a mente. Estava lendo muito, estudando tudo. Agora, às vezes, eu acordo e digo: "Não quero pensar em nada, só existir", o que já é muito importante. É abrir espaço para preencher com novas informações. Em breve, daqui a pouco, vem um novo trabalho e vou começar a me preencher de novos ares, conceitos, universos.
Paralelamente a tudo isso, você está lançando alguns projetos no cinema. Primeiro, o filme Ninguém É de Ninguém, em abril, e, agora, o TPM! Meu Amor, que estreia no dia 31. Os dois foram gravados antes de Reis, certo?
Sim, gravei durante a pandemia. Ninguém É de Ninguém foi no fim de 2022 e TPM! Meu Amor no fim de 2021. Tive que ir para um hotel para ficar isolada, fazer teste de Covid-19 todos os dias. Foi um desafio diferente, mas, dentro da realidade em que estávamos vivendo, se fez necessário. E fico feliz porque agora, daqui a um mês, praticamente, TPM! Meu Amor já vai estar nos cinemas.
E é legal poder divulgar agora porque você revisita esse trabalho, não é?
Sim, cinema tem esse tempo. Fazemos lá atrás, se passa um ano, às vezes, dois, e eu digo: "Como eu estava diferente, olha meu cabelo, como eu dei vida a essa personagem". Podemos até criticar um pouco: "Ah, podia ter feito diferente", mas é normal (risos). A história também é muito atual, independentemente de ter sido feita há dois anos, fala sobre o universo feminino e esse tabu referente à TPM.
Muitas pessoas dizem: "Ai, TPM é tão ruim, sinto tanta dor, tantos sintomas que prejudicam o meu dia a dia". Mas queremos mostrar a TPM de maneira cômica, com outro olhar. Potencializar a mulher que existe dentro de nós através dela. Se é para chorar, chore, se é para comer, coma, se é para sentir desejo, coloque para fora, se é para ter raiva, grite, brigue.
Nós, mulheres, sabemos o que sentimos nesse momento. É uma comédia romântica, mas não tradicional, em que a mulher procura um grande amor para ser seu par. É uma comédia romântica consigo mesma, em que você se entende, descobre a potência da mulher que você é, como você pode se equilibrar. A minha personagem é a Monique, uma enfermeira.
Meu dever é contar histórias%2C independentemente de ser no teatro%2C no cinema ou na TV. E cada trabalho é um trabalho%2C é difícil ter uma regra.
A sua experiência passa por muitos veículos, pela TV, pelo cinema, pelo teatro… Como você vê essas diferenças entre os formatos e como se adapta a eles?
É tudo uma questão de intensidade: aqui vai dar mais, aqui, menos. Na televisão, temos que fazer de trás para a frente, de frente para trás, é uma correria, quase entra no automático. O nosso grande desafio é se policiar para não se tornar mecânico e, ainda assim, passar verdade.
O cinema é mais minucioso; então, é uma interpretação em que menos é mais. Mais detalhista, rico nos mínimos detalhes, e é uma obra que vai ser eternizada para a vida. Já no teatro é tudo mais expansivo.
Meu dever é contar histórias, independentemente de ser no teatro, no cinema ou na TV. O que muda é esse "controle remoto" para mais e para menos. E cada trabalho é um trabalho, é difícil ter uma regra. A partir do momento em que mudam o diretor e a história, vou buscando ferramentas diferentes de tudo o que eu já estudei e experimentei para que seja mais adequado para o projeto.
É um dinamismo muito grande, não é?
Sim, como se começasse do zero. É sempre aquele frio na barriga: "Meu Deus, será que eu sei fazer?". "Paloma, você já faz isso desde criança, vamos lá, você já tem uma bagagem aí." Eu vejo até a Fernanda Montenegro falando sobre isso, então eu fico tranquila. Tem que ter um friozinho na barriga. Se não tem, é porque não está dando certo (risos).
Você já era atriz quando resolveu cursar rádio e TV. Por que veio esse desejo e o que mudou na sua visão de vida profissional depois disso?
Eu já me via como atriz desde pequenininha, comecei a trabalhar cedo, minha primeira novela foi aos 11 anos. Cheguei àquela fase de adolescente, para decidir uma faculdade, e já sabia que faria artes cênicas. Me formei, mas sabemos que a vida do ator é muito instável, então eu pensei: "Vou fazer uma segunda faculdade, ainda voltada para o meio artístico, porque também é algo que me encanta, tirar um projeto do papel, produção, direção, cenário, figurino, som, edição, tudo isso me encanta".
Eu precisava ter o mínimo de conhecimento disso tudo para me ajudar na profissão de atriz, para conseguir dialogar com essas funções em um set de filmagem. Mas, também, de repente, para produzir um dia. Faço algumas coisas que eu mesma produzo ou dirijo. Nunca fiz isso ainda [de forma] muito ativa, mas, indiretamente, eu acabo "metendo o bedelho" nos meus trabalhos, dou opinião porque sei do que estou falando e gosto de participar dos bastidores.
É aquele trabalho de formiguinha de que falei. A arte só acontece com trabalho coletivo. Tem o individual, mas o coletivo é que faz o produto brilhar na televisão, nas telonas, no palco. É por isso que eu fiz rádio e TV, para ter essa segunda formação e seguir ainda no meio.
Você ainda era muito pequena quando começou. De onde veio essa paixão pela arte, teve influência da família?
Sim. Minha mãe é nordestina. O Nordeste e o Recife [especificamente] já reverberam arte, dança e cultura. Minha mãe era bailarina, minha vó sempre cantava no coral. Eu tinha artistas anônimas, amadoras, mas que já pulsavam na arte de alguma maneira. Meu pai e minha mãe sempre me apoiaram a viver a arte como uma forma de educação, porque eu acredito nisso.
Minha trajetória começou mesmo com aquela história típica. Caminhando no shopping, uma agente disse: "Você é tão bonitinha, tão carismática, gostaria de desfilar para aquela loja de roupa infantil?". Na hora, abri um sorrisão e respondi: "Sim". E aí fui desfilar, porque eu tinha mesmo uma desenvoltura, era meio extrovertida demais, carismática, pelo que minha mãe fala. A partir desse desfile na loja, entrei em uma agência infantil e não parei mais.
É muita gratidão pelo reconhecimento do meu trabalho. Quero permanecer assim
No ano passado, você concorreu ao Prêmio Bibi Ferreira de melhor atriz, a maior premiação de teatro no Brasil, pela peça Terremotos. Como foi essa experiência?
Estive no palco com 30 atores, contando uma história maravilhosa, com uma personagem totalmente intensa… Era uma mulher que tinha uma depressão pré-parto, vivendo um terremoto mundial e os terremotos internos da cabeça dela. Essa personagem tão intensa, tão rica e desafiadora me trouxe a possibilidade de estar ao lado de Lilia Cabral, Mel Lisboa, Mariza Orth e Cláudia Missura, quatro atrizes de que sou fã.
Eu estava ali concorrendo como melhor atriz e disse: "Ah, não é possível". Eu lembro até que estava iniciando o processo de Reis, ensaiando com o elenco, nem tinha começado a gravar. Me mandaram a mensagem: "Paloma, você está sendo indicada como melhor atriz". Eu comecei a chorar e disse: "Olha que maravilhoso, acabei de finalizar no teatro, estou sendo indicada ao prêmio de melhor atriz e iniciando como protagonista em Reis. Meu Deus, obrigada". É muita gratidão pelo reconhecimento do meu trabalho. Quero permanecer assim.