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Vitão fala sobre nova fase na música e lançamento de ‘Ciúme’: ‘Ressignificou esse sentimento’

Cantor reflete sobre o amadurecimento, o processo criativo e a volta à cena musical com novo single que antecipa seu próximo álbum

Entrevista|Maria Cunha

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Vitão retorna em nova fase artística e pessoal Maria Cunha/R7

Depois de conquistar mais de 10 milhões de ouvintes mensais nas plataformas de streaming e atravessar um período de recolhimento, Vitão retorna em uma fase de renovação artística e pessoal.

O cantor e compositor, que despontou no cenário pop brasileiro em 2019 com hits que dominaram as paradas e viralizaram nas redes sociais, vive agora um momento de amadurecimento: mais recluso, focado na produção e consciente de sua trajetória.


Em entrevista, ele falou sobre como lida com a exposição nas redes sociais e sobre a influência da vida pessoal em seu novo single, “Ciúme”, lançado em 19 de setembro. A música antecipa o próximo álbum e marca um ponto de transição em sua carreira.

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A faixa mistura influências de R&B, rap e MPB, resgatando a essência de seu trabalho inicial, mas sob uma nova perspectiva.


No R7 Entrevista, Vitão comenta o equilíbrio entre música e vida pessoal, sua relação com as redes sociais, a maturidade adquirida nos últimos anos e as expectativas para este novo ciclo. Confira:

R7 - Você descreveu “Ciúmes” como uma música dançante, que fala sobre um sentimento devastador. Como foi para você equilibrar essa contradição na canção?


Vitão - Foi uma forma de terapia, eu diria. Compor essa música, colocar esse sentimento para fora em um som dançante, foi muito gostoso.

Quando cheguei ao estúdio do Taioba, produtor da faixa, ele já me mostrou o beat. Fiquei fascinado na hora, e a letra veio porque, naquele dia, eu estava sentindo exatamente isso. Acho que o ciúme é um sentimento que nasce mais na cabeça — é algo cognitivo, de ficar preso em pensamentos, criando teorias. É isso que acaba despertando o medo e a insegurança.


Achei muito louco conseguir transformar tudo isso em uma música de forma tão especial, sem precisar fazer algo triste ou pesado. Essa contradição ficou muito legal e me levou para outro lugar emocional.

Ressignificou o sentimento. No fim, valeu a pena ter sentido tudo isso para que essa música existisse. Para mim, foi uma verdadeira ressignificação, e até agradeço por ter passado por essa experiência.

R7 - Você diria, então, que a faixa tem um lado autobiográfico?

Vitão - Eu sempre fui ciumento — com namoradas, com amigos. Não tanto com coisas materiais, mas com relações. Acho que sempre carreguei esse traço desde menino.

Talvez porque eu tenha vivido relações meio instáveis… como todas, na verdade. Toda relação tem suas instabilidades, e isso sempre me mostrou que há coisas em mim que ainda preciso lapidar e fortalecer internamente.

O meu eu — de fato entender quem eu sou. É um pouco vago, porque acho que a gente nunca sabe 100% quem é. Estamos sempre mudando, todos os dias, a todo minuto. Entramos em novos paradigmas, mudamos de ideia sobre várias coisas, nos reinventamos, ressignificamos.

E foi isso que aconteceu com “Ciúmes”: algo que eu sempre senti e que consegui colocar para fora nessa música. Isso traz um certo alívio, porque é como se você desaguasse esse sentimento em uma obra — e, a partir daí, ele vai se ressignificando.

R7 - “Ciúme” é o segundo single que antecipa seu próximo álbum. Existe um fio condutor entre as músicas?

Vitão - Estou fazendo esses lançamentos de forma muito intuitiva. Não há uma linearidade hiperconceitual entre eles — não é “o fim de um é o começo do outro” ou algo com uma ligação muito rígida entre as faixas.

Tem sido algo bem espontâneo: eu vou sentindo junto com meu time, com a galera que está comigo. Já temos praticamente todas as músicas prontas, e sigo compondo cada vez mais — minha produtividade está super aquecida.

Na verdade, já faz dois anos que estou mergulhado no estúdio. Temos muito material guardado, e aí vamos discutindo: “O que faz sentido lançar agora? O que vem depois?” Está sendo um processo muito orgânico.

Claro que existe um planejamento maior — queremos lançar uma música por mês nesses primeiros meses, para chegar com o álbum no início do ano que vem. Mas a ordem exata dos singles vai sendo decidida no caminho.

Eu gosto muito de trabalhar assim, porque sinto que minha obra nasce dessa maneira. Até os nomes das músicas, do álbum, os conceitos dos clipes… quase nunca são pensados com tanta antecedência.

Tem gente que cria o conceito do álbum antes mesmo das músicas. Comigo é diferente: tudo nasce passo a passo. Às vezes, o nome da faixa surge dias antes do lançamento, e o conceito do clipe aparece pouco antes — ou até no dia da gravação.

Durante o próprio clipe, novas ideias brotam e, muitas vezes, viram o ponto principal do projeto. É algo que vai nascendo naturalmente ao longo do caminho.

R7 - “Ciúme” chega com influências do R&B, Rap e MPB, mas também retoma elementos da sua essência inicial. Como foi misturar isso?

Vitão - Sou um grande admirador do funk norte-americano, da soul music, da black music, do rap americano e, principalmente, do rap nacional.

Tenho ainda mais admiração pelo rap brasileiro, porque ele mistura MPB com soul, com R&B. O rap daqui sempre traz essa mescla de referências — samba, bossa, acordes, melodias, citações. Muitas vezes, você acaba conhecendo novos artistas brasileiros pela boca de um rapper.

Fui muito formado musicalmente pelo rap nacional. Então, é natural que minha música traga muito dessa influência. Também vem do R&B, que sempre amei — Marvin Gaye, James Brown, essa galera — mas também do nosso samba e pagode, com suas melodias emocionantes, chorosas, românticas e sensuais.

E tem também o rock and roll, o blues, bandas como Guns N’ Roses, que trazem essa pegada das melodias de guitarra.

Na hora de compor e produzir, tudo isso se mistura de forma natural — e é isso que dá identidade ao meu som.

R7 - Você passou por uma fase mais reclusa, deu uma pausa. Qual foi a importância desse tempo para você voltar agora?

Vitão - Foi uma espécie de recesso, um respiro — principalmente para a minha mente.

Desde os 18 anos, venho vivendo da música em um ritmo intenso: estrada, shows, entrevistas, redes sociais, exposição constante. Em 2023, senti que podia “tirar o pé” e me permitir desacelerar. Me enfiei no estúdio, mergulhei na criação e na lapidação — como compositor, criador e produtor.

Foi um momento de deixar de lado um pouco a exposição e fortalecer o lado criativo: produzir em grande quantidade, experimentar, me aprimorar. Dizem que a prática leva à perfeição, e foi isso que busquei — criar músicas cada vez mais gostosas de ouvir, que envolvam as pessoas, que façam sentido e despertem identificação.

Esse tempo de respiro foi essencial, porque eu me sentia em “carne viva”, mental e emocionalmente. Quando você se expõe demais, acaba falando mais do que gostaria em entrevistas, se enrolando, revelando coisas que não precisava.

Foi um período de amadurecimento — de me permitir crescer como adulto, dos 24 aos 26 anos. Fiquei mais recluso, criei muito, e hoje tenho um arsenal de músicas prontas para lançar. Agora estou no gás máximo: quero tocar, rodar o mundo, lançar projetos, clipes, shows e entregar tudo isso para os meus fãs.

R7 - E como é lidar com a exposição hoje, nesse mundo de redes sociais e haters?

Vitão - É muito louco… tenho buscado deixar minhas redes mais voltadas para o lado artístico e profissional.

Nossa profissão é tão gostosa, criativa, intuitiva, sentimental e sensitiva que, às vezes, nem parece um trabalho — parece o amor da vida. E é isso: o que eu faço é o amor da minha vida.

Prefiro trazer meu lado pessoal para as músicas. É uma forma superíntima do público me conhecer. Em “Ciúmes”, por exemplo, falo de coisas muito internas, muito minhas, que eu não costumo expor em entrevistas. A música acaba sendo o jeito mais verdadeiro de as pessoas se aproximarem de mim e da minha vida pessoal.

R7 - E o que esse novo álbum traz de diferente?

Vitão - Traz um artista e compositor mais maduro. Estou explorando novos temas, novas formas de me expressar, e me sinto mais consciente da carreira, da produção, da operação, da imprensa e das marcas.

É meu início como artista independente, e isso dá muito gás, porque tudo carrega muito mais a minha assinatura.

Quero criar coisas que provoquem mudanças — na cena musical, no planeta, nas relações interpessoais. A música une casais, cria amizades, forma comunidades. É uma chave social que conecta pessoas, sentimentos e sensações.

Também é um instrumento de diplomacia e política. Quero fazer algo diferente no nosso país e que esse impacto reverbere pelo mundo, ajudando a construirmos uma nação mais amorosa e fraterna. Acredito profundamente nesse poder da música.

R7 - Você também relançou “Eu Vou Na Sua Casa”, que explodiu. Como foi isso?

Vitão - Foi muito louco ver essa música renascer. Quando ela foi lançada pela primeira vez, já fez muito sucesso. Era uma participação com o Bin, um rapper que na época estava surgindo com muita força na cena — hoje ele já está super consolidado. Fiquei muito grato pelo convite, pude escrever um verso e cantar o refrão dele.

Agora, com o arranjo do Felipe Amorim, foi incrível, porque calhou perfeitamente com o momento em que eu estava prestes a voltar a lançar minhas próprias músicas. Isso acabou aumentando bastante meus ouvintes mensais e o engajamento nas minhas redes sociais.

O Felipe foi muito legal ao colocar nossas vozes sampleadas no arranjo. Não foi apenas uma regravação dele, ele nos trouxe junto como intérpretes, e isso deixou tudo ainda mais especial.

R7 - Você fala sobre essa nova fase como um ciclo de amadurecimento. O que mudou no Vitão de hoje em relação ao de 2019, quando começou a se destacar?

Vitão - Uma das mudanças principais é que hoje eu tenho ouvido mais do que falado. Com o amadurecimento, a gente começa a perceber a importância da escuta — de ouvir, prestar atenção, receber o que as pessoas ao nosso redor estão dizendo. Claro, sempre valorizando quem fala com amor, com a intenção de melhorar as coisas.

Tenho gostado muito de ser mais observador, de estar nesse papel, em vez de sentir a necessidade de protagonizar tudo. Às vezes, a gente é colocado nesse lugar de protagonismo sem ter bagagem suficiente para lidar com ele de fato.

Então, neste momento, estou me permitindo assistir mais à vida ao meu redor, receber, digerir, e só depois me colocar em posição de protagonizar algo. Quero falar com mais sabedoria, com base no que sei e no que já vivi. Estou realmente aproveitando esse momento de ouvir bastante.

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