Arqueólogos encontram indícios de que nossos ancestrais já ensinavam uns aos outros
Análise de ferramentas antigas mostra que nossos ancestrais já dominavam técnicas de corte e transmissão de conhecimento
Fala Ciência|Do R7

Uma recente descoberta no noroeste do Quênia trouxe novo entendimento sobre a evolução tecnológica dos primeiros hominídeos. Ferramentas com cerca de 2,7 milhões de anos, encontradas no sítio arqueológico de Namorotukan, indicam que nossos ancestrais já possuíam habilidades refinadas de corte e uma forma primitiva de tradição técnica, muito antes do surgimento do Homo sapiens.
Publicada na revista Nature Communications, a pesquisa mostrou que essas ferramentas, conhecidas como Olduvaiense, são as mais antigas e duradouras já identificadas, datando de 2,75 a 2,44 milhões de anos atrás.
Como eram feitas as lâminas ancestrais
As peças foram produzidas com calcedônia, uma rocha rara e extremamente adequada para a criação de itens afiados. Isso demonstra uma seleção intencional de materiais, sugerindo que os hominídeos já compreendiam aspectos geológicos e funcionais das pedras.
Essas lâminas eram utilizadas para cortar carne, plantas e ossos, o que permitia ampliar a dieta e garantir mais energia em tempos de escassez. Em meio às mudanças climáticas do Plioceno, essa adaptação pode ter sido um fator crucial para a sobrevivência da espécie.
Persistência e inovação em um mundo em transformação

Os pesquisadores reconstruíram o cenário da época com base em análises de cinzas vulcânicas, assinaturas químicas e variações magnéticas. O vale do Turkana, antes fértil, transformou-se em uma região árida e instável. Mesmo assim, a produção das ferramentas permaneceu constante por 300 mil anos, um sinal notável de persistência cultural e técnica.
Esse comportamento revela um ponto-chave na nossa história evolutiva: a capacidade de usar a tecnologia como resposta às adversidades ambientais.
Conhecimento compartilhado entre gerações
A continuidade no modo de fabricar e afiar as lâminas sugere que o conhecimento era transmitido entre gerações, estabelecendo uma das primeiras formas de aprendizado coletivo. Essa tradição técnica pode ter sido o embrião do que mais tarde evoluiria para cultura, linguagem e sociedade.
O estudo contou com a colaboração de instituições de países como Quênia, Etiópia, Alemanha, Índia, Portugal, África do Sul e Brasil, com apoio da Fapesp.
