Microplásticos levam bactérias perigosas ao mar e ampliam riscos à saúde humana
Descoberta reforça alerta sobre o papel dos microplásticos na disseminação de patógenos
Fala Ciência|Do R7
A presença de microplásticos no ambiente já é conhecida por sua ampla dispersão, mas novas evidências revelam um impacto ainda mais preocupante: essas partículas podem funcionar como pequenas ilhas de patógenos e bactérias resistentes a antimicrobianos. Além disso, sua capacidade de circular entre rios, zonas costeiras e ecossistemas marinhos amplia o risco de exposição humana e ambiental.
A partir de um estudo publicado na revista Environment International, conduzido por Emily Stevenson e equipe do Laboratório Marinho de Plymouth e da Universidade de Exeter, tornou-se possível observar como diferentes materiais acumulam biofilmes microbianos contendo genes de resistência, especialmente em áreas influenciadas por descargas de esgoto. Principais achados do estudo:
Quando partículas plásticas viram plataformas biológicas móveis
Ao ficarem submersos por semanas, os microplásticos são rapidamente colonizados por comunidades microbianas que compõem a chamada “plastisfera”. Esse biofilme cria condições favoráveis para troca de genes de resistência, aderência a superfícies e sobrevivência prolongada até atingir áreas sensíveis, como praias, zonas de banho ou regiões de cultivo de moluscos.
Esse fenômeno preocupa especialmente porque diferentes tipos de plástico, como grânulos industriais usados na fabricação de produtos e microesferas provenientes de sistemas de tratamento, demonstraram carregar uma diversidade microbiana maior do que materiais naturais, como madeira, ou inertes, como vidro.
Uma rota invisível de contaminação
O estudo utilizou uma estrutura experimental que expôs cinco tipos de substratos a um gradiente ambiental que se estendia de áreas com forte influência de esgoto até regiões marinhas. Essa abordagem permitiu identificar como o tipo de material e o local determinam a composição microbiana, mostrando que a disseminação da resistência antimicrobiana acontece mesmo em trechos com menor poluição aparente.
Esse avanço ocorre porque os microplásticos, ao se deslocarem, atuam como vetores discretos, transportando microrganismos que persistem protegidos dentro do biofilme. Assim, tornam-se potenciais porta-vozes de risco em ambientes recreativos ou na cadeia alimentar marinha.
Por que isso ameaça a saúde humana?
O acúmulo de genes de resistência em particulados tão pequenos representa um desafio crescente. Organismos filtradores, como moluscos, podem ingerir microplásticos contaminados, ampliando a rota de exposição alimentar. Além disso, atividades de limpeza de praias podem colocar voluntários em contato direto com biofilmes contendo bactérias potencialmente prejudiciais.
Por isso, ações simples como uso de luvas e higienização das mãos após o manuseio de resíduos são fortemente recomendadas. Em escala maior, o estudo reforça a necessidade de gestão adequada de resíduos, mitigação de microplásticos e políticas integradas para reduzir a disseminação de resistência antimicrobiana, um dos maiores desafios de saúde pública do século.
