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Oceanos quentes estão turbinando ciclones fracos e criando desastres inéditos

Ciclones de ventos moderados estão liberando volumes inéditos de chuva em regiões costeiras

Fala Ciência

Fala Ciência|Do R7

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Oceanos quentes transformam ciclones fracos em máquinas de chuva extrema. (Imagem: Gerada por IA/ Gemini) Fala Ciência

Nos últimos meses, um fenômeno meteorológico tem intrigado especialistas: ciclones classificados como fracos ou moderados estão causando enchentes fora de escala, surpreendendo até regiões acostumadas a tempestades sazonais. Em vários países do sul da Ásia, comunidades inteiras ficaram submersas após dias de chuva contínua, mesmo sem a presença de ventos particularmente fortes. Essa discrepância acende um alerta sobre o papel crescente do calor oceânico na formação desses eventos extremos.

Logo nas primeiras análises, ficou evidente que o volume de chuva foi o principal responsável pelos impactos severos, não a intensidade das rajadas. Para entender por que isso está acontecendo, vale observar três pontos centrais:


  • Atmosfera mais quente significa maior capacidade de reter vapor d’água;
  • Oceanos superaquecidos funcionam como combustível para tempestades;
  • Trajetórias costeiras lentas favorecem descargas contínuas de chuva.

A nova dinâmica da chuva extrema


Uma das surpresas desses eventos recentes foi a enorme discrepância entre ventos moderados e danos extremos. Em ciclones como o Ditwah, os ventos ficaram muito abaixo do que se espera em tempestades destrutivas. Ainda assim, o acúmulo de água ultrapassou limites históricos. Isso ocorre porque a atmosfera atual, mais quente que décadas atrás, pode armazenar aproximadamente 7% mais umidade por grau de aquecimento global.

Chuvas históricas revelam o novo risco dos ciclones de ventos moderados. (Imagem: Gerada por IA/ Gemini) Fala Ciência

Quando essa umidade encontra uma tempestade, a liberação ocorre de forma rápida e concentrada. E se o ciclone avança devagar, o efeito é amplificado, porque as mesmas áreas recebem chuva intensa por horas ou dias. A lentidão, portanto, se tornou um dos fatores mais perigosos desse novo cenário climático.


O oceano como motor oculto desses extremos

Imagens recentes de satélite revelaram o Oceano Índico com áreas mais de 1°C acima da média, condição que vem se repetindo em vários oceanos do planeta. Como mais de 90% do excesso de calor global é absorvido pelo mar, esse reservatório quente está constantemente alimentando as tempestades.


Mesmo que o ciclone tenha estrutura modesta, a evaporação acelerada produz grandes bolsões de umidade. Quando o sistema permanece próximo ao litoral, como ocorreu com Ditwah e Senyar, ele recebe um suprimento contínuo de água do oceano e a descarrega quase imediatamente sobre a costa. O resultado são enchentes rápidas, volumosas e difíceis de prever.

Um risco crescente que desafia previsões

Embora modelos modernos, inclusive aqueles aprimorados com inteligência artificial, já estimem com precisão a trajetória de ciclones e a força dos ventos, a previsão de chuva extrema continua sendo um dos maiores desafios meteorológicos. Em um planeta que se aquece sem pausa, tempestades com ventos moderados podem se tornar tão perigosas quanto as mais intensas, justamente pela quantidade de água que transportam.

Essa mudança de padrão exige novos protocolos de alerta, planejamento urbano mais resiliente e estratégias de adaptação para um futuro em que ciclones fracos podem causar impactos desproporcionais.

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